Incerteza ronda a Europa

A crise financeira mundial começou a tomar forma rapidamente em agosto de 2007, quando a bolha criada pelas hipotecas de alto risco rompeu nos EUA. Desde então, a crise já passou por diferentes fases e agora a tempestade ronda o mercado de dívida pública. Enquanto os Estados Unidos sofrem uma redução da sua triple-A, a Europa lida com fortes tensões sobre os bônus do Tesouro Nacional de alguns dos seus membros.

Este é o lugar onde entra em jogo o fator especulativo do prêmio de risco, índice que define o preço pelo qual a dívida é paga. Quanto mais há dúvidas sobre a solvência de um país, maior será o prêmio de risco.

Assim, quando parecia que a tempestade diminuía, a pressão do mercado levou-a a Itália e Espanha, e o prêmio de risco destes países alcançou níveis históricos enquanto as Bolsas registraram enormes quedas.

Logo após a confusão inicial e medo, o Banco Central Europeu anunciou a aquisição da dívida espanhola e italiana para aliviar a pressão dos mercados e, assim, reduzir o prêmio de risco e recuperar alguma calma.

Especialistas consultados pelo Jornal de Campus oferecem uma explicação ampla. Segundo o economista Silvio Costa, por muito tempo os governos gastaram mais do que eles tinham,  criando um déficit. Ao mesmo tempo, a incerteza nos mercados faz mais fácil a especulação sobre os Estados com pior balanço fiscal”.

Nessa mesma linha, o prof. Siegfried Bender chama a atenção sobre a necessidade de solucionar os problemas dos países que sofrem as tensões dos mercados: “O fator especulativo tem causas reais, e essas causas reais não foram resolvidas”.

No atual contexto, o que está em jogo é o caminho a seguir. Para o professor Mauro Rodrigues, da FEA-USP, “a compra de dívidas por parte do Banco Central Europeu já acalmou o mercado, mas para que o nervosismo e o prêmio de risco não voltem a aumentar repentinamente, a Europa precisa de mecanismos mais duros para garantir a solvência fiscal”.

Diferentes ajustes nas finanças jà propostos para tranqüilizar os mercados, esbarraram nos protestos de muitos cidadãos descontentes com os cortes nos gastos sociais. O movimento dos “indignados” na Espanha, por exemplo, ainda está em curso e por dias reuniu milhares de pessoas na praça central de Madrid e em muitos outros lugares do país. Para os indignados, a gestão da crise reverte-se em prejuízo para as pessoas comuns. Essa foi a motivação para a rejeição ao poder dos principais partidos políticos e dos bancos, “verdadeiros culpáveis da crise”, clamavam os manifestantes. “Nós não somos anti-sistema, o sistema é anti-nós”, foi outro dos slogans ouvidos em Madrid.