MAC propõe maior visibilidade para a arte

A nova sede do Museu, ao lado do Parque do Ibirapuera, oferecerá o acervo de forma quase integral e ampliará a formação de público
Tadeu Chiarelli,  diretor do MAC, explica as mudanças trazidas pelo novo prédio, antes ocupado pela sede do Detran (foto: Isadora Bertolini)
Tadeu Chiarelli, diretor do MAC, explica as mudanças trazidas pelo novo prédio, antes ocupado pela sede do Detran (foto: Isadora Bertolini)

O Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP está para ganhar um prédio novo. Um dos mais importantes museus da capital paulista tomará lugar da antiga sede do Detran, arquitetado por ninguém menos que Oscar Niemayer. O prédio e seu anexo, inaugurados em 1954, estão em reforma há mais de dois anos. “O edifício não foi construído para comportar um museu de arte contemporânea, por isso o espaço precisou de uma complexa adaptação”, explica Tadeu Chiarelli, diretor do MAC, ao Jornal do Campus.

Além dos dois antigos prédios adaptados, foram construídos outros dois edifícios menores (ver infográfico). Depois de uma série de adiamentos que vêm acontecendo desde 2008, o novo MAC tem previsão de inauguração no início do ano que vem, embora sem uma data precisa.

A grande reforma contou com o apoio do Governo do Estado através da Secretaria da Cultura e da própria Universidade de São Paulo. No terreno de 44,3 mil m², localizado no Parque do Ibirapuera, o riquíssimo acervo de cerca de 10 mil obras modernistas e contemporâneas poderá ser mostrado quase que integralmente. Com projetos de exposições permanentes (aproximadamente de um ano) e temporárias (de seis meses), as mais variadas formas e cores serão expostas ao público gratuitamente.

Arquitetura

O diferencial do novo MAC, que tem tudo para se tornar um dos principais museus do Hemisfério Sul, está justamente na sua construção. A visita ao complexo, que está em fase de acabamento, por si só já é um atrativo. Anteriormente, sendo um “atulhado de burocracias”, as pessoas nem sabiam o quão bonito ele era.

Assim como o próprio acervo do MAC, “Niemeyer é muito peculiar”, elogia o diretor do Museu, que fora também diretor do Departamento de Artes Plásticas da ECA e hoje atua como crítico e historiador de arte. “Não tem o impacto apoteótico e a dimensão acachapante da maioriados museus – é mais modesto, você não se sente diminuído. O hall não tem uma dimensão imponente. É discreto, embora inacreditável. Estamos pensando em escolher obras que deixem transparecer essa beleza arquitetônica, para que as pessoas apreciem a construção logo que entrarem”.

Estrutura e serviços

Além da beleza visual das obras e de sua estrutura, o museu tem projetos para atrair ainda maiso público. Contando com oito andares, o prédio principal abrigará ainda livraria, cafeteria e um restaurante panorâmico no topo, com vista para a Região Sul de São Paulo. A ideia é mantê-lo funcionando mesmo quando o museu estiver fechado. Assim, atuará como um espaço de vivência artística e uma opção de lazer. Não há dúvida que será um importante ponto turístico da capital.

A biblioteca, por sua vez, está programada para agrupar obras relacionadas à cultura produzidas por alunos de diversas faculdades e universidades do Brasil. É previsto também a exposição de esculturas no jardim, “desde que não comprometa a perfeição das obras, nem o tráfego de pessoas”, esclarece o diretor.

O edifício terá acesso pela Avenida 23 de Maio e pela passarela Ciccillo Matarazzo, para quem estiver no Parque do Ibirapuera. Os pedestres poderão adentrar o conjunto facilmente, e quem estiver de carro poderá utilizar o serviço de estacionamento.

As obras contemporâneas de grande estatura, que atualmente não encontram lugar devido ao baixo pé-direito, terão abrigo no prédio anexo.

Atrasos e inauguração

A primeira previsão de término das obras no antigo prédio do Detran era junho de 2009. Até hoje, porém, a inauguração do novo MAC tem sido adiada por diversos motivos. Intervenção de cupins, a logística especial das obras de diferentes tamanhos e a polêmica entre o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) e o próprio Niemeyer, envolvendo a reforma do prédio, foram os principais empecilhos.

O impasse surgiu em abril de 2010, quando o projeto de reforma e adaptação do prédio feito pelo arquiteto, orçado em R$120 milhões, foi vetado pelo Conpresp. Foi alegado que o projeto de Niemeyer modificaria a concepção original da construção, que foi tombada como patrimônio histórico, e dialoga com as outras instalações também desenhadas pelo arquiteto que se encontram no Parque do Ibirapuera, como a Oca e o prédio da Bienal, inaugurados em 1954. Segundo o diretor do MAC, “o Conselho estava protegendo o Niemeyer de 50 anos atrás do próprio Niemeyer de hoje”. Foi desenvolvido, portanto, um novo projeto orçado em R$80 milhões, com reformas discretas e adaptações de segurança. Antes não havia escada de incêndio, por exemplo.

Enquanto a inauguração continua adiada, as outras três sedes do Museu – o MAC Acadêmico, o “Maquinho” (prédio em frente à sede principal da Cidade Universitária) e o 3º andar do prédio da Prefeitura de São Paulo cedido para o Museu e para a Bienal, no Parque do Ibirapuera – continuam em atividade. Devido a tais entraves, o novo MAC é previsto para ser inaugurado em março do ano que vem. E a partir daí, o “Maquinho” será entregue à Reitoria da Cidade Universitária e o andar da Bienal também será devolvido.

“Gostaria que ficasse pronto em março de 2012, porque o Museu faz 50 anos no ano seguinte”, adianta Chiarelli. “Uma recapitulação da história do museu seria simbolicamente muito bonito”.

Veja o que vai acontecer com as mudanças do MAC (infográfico: Ana Carolina Marques)
Veja o que vai acontecer com as mudanças do MAC (infográfico: Ana Carolina Marques)
O desvalor da arte

Também foi salientado pelo diretor o quão negligenciada é a arte, mesmo em um rico universo acadêmico. O Departamento de Artes Plásticas da ECA, por exemplo, não possuía salas de exposição laboratorial até o MAC fornecer o espaço, em novembro do ano passado. O espaço de exposições do Centro de Apoio Pedagógico, portanto, promove o contato do público com “uma produção que brota da USP e que a própria USP não conhece”. Há ainda outras questões, como a deficiência espacial, até então, em comportar todo o acervo do MAC, o fato de não existir na USP um curso da graduação em História da Arte e a baixa frequência de visitas nos museus universitários. Para Chiarelli, tudo consiste em um só problema. “Isto é o resultado de uma total falta de consideração das instituições universitárias em reconhecer a arte como parte do conhecimento humano, ao lado das outras ciências”, mesmo que a USP seja responsável pela formação de um significativo número de artistas que marcam a diferença do circuito de arte no Brasil.

Aproveitando a movimentação na estrutura do Museu, está também em andamento um pedido de ampliação do corpo docente da Instituição, que atualmente conta com apenas cinco professoras. Elas se subdividem na atuação na área de pesquisa e educação, além de realizarem a curadoria das exposições.

Museu universitário

Mesmo com a nova sede, a interlocução entre o MAC e a comunidade USP deverá ser mantida. “Tem que ficar claro que o Museu pertence à USP. O nosso papel é mostrar o melhor da coleção pensando na formação do público”, destaca o diretor. O fato de o MAC manter exposições temporárias por cerca de seis meses, relativamente mais longas que de outros museus, tem a ver com sua função didática.

A curadoria está certamente empenhada, nas palavras do próprio diretor, no desenvolvimento de um “museu de ponta”. E a inauguração de um novo espaço físico será o grande catalisador para a ampliação das diretrizes e metas desse novo Museu.