Palmeiras serão retiradas para preservar biodiversidade

A paisagem da Cidade Universitária vai mudar. Dez mil palmeiras imperiais australianas, Archontophoenix cunninghamian, serão retiradas e substituídas por mata nativa na Reserva Florestal do IB-USP, no viveiro da Prefeitura e em vários pequenos focos espalhados pelo campus. O processo começou em fevereiro deste ano e já removeu 4 mil espécimes de Archontophoenix da reserva.

As palmeiras, originárias do leste da Austrália, foram trazidas para o campus na década de 1960, pela Prefeitura, para a arborização e ornamentação. “Elas se dão bem tanto na sombra quanto no sol, era uma espécie bonita e de fácil manutenção”, conta Vânia Pivelo responsável pelo projeto de remanejamento na Reserva Florestal do IB na USP.

Na época, não se sabia que uma espécie exótica podia desequilibrar o ecossistema e ameaçar as espécies nativas, por isso as palmeiras foram plantadas no campus e sua multiplicação não sofreu nenhum tipo de controle, fazendo com que se alastrassem.

No ano passado, na reserva florestal do IB-USP, uma em cada três árvores era dessa espécie. “O potencial reprodutivo dessa árvore é impressionante. Cada cacho tem aproximadamente 3 mil frutinhos, e cada palmeira é capaz de formar dez cachos, ou seja, um indivíduo pode gerar até 30 mil descendentes”, diz Vânia.

A retirada

Depois de vários estudos, pesquisadores do IB perceberam que a presença ostensiva das palmeiras era um problema. Elaboraram, então, um projeto de remanejamento da mata. O plano para conter a planta foi cortar o ápice das espécimes com altura superior a 2m, para deixarem de se reproduzir, sendo que seu tronco ainda pode ser usado por passarinhos na construção de seus ninhos. As folhas serão cortadas e jogadas no solo da mata como adubo natural. As palmeiras com altura inferior a 2m serão retirados por completo.

No lugar das árvores retiradas, serão plantadas mudas de espécies nativas. As palmeiras imperiais fora da reserva também precisarão ser controladas, para que pássaros que se alimentam dos seus frutos não espalhem novamente a espécie. Em lugares em que seu número é pequeno, apenas os cachos serão retirados. Já em locais onde há muitas, como a Av. da Universidade, ocorrerá a substituição por palmeiras nativas já adultas. Nos arredores do campus, os pesquisadores do IB-USP têm conversado com os donos dos lugares onde essas palmeiras podem ser encontradas, para que parem de replantá-las e, se possível, as removam dos locais.

Locais como a Av. da Universidade terão palmeiras australianas removidas (foto: Juliana Malacarne)
Locais como a Av. da Universidade terão palmeiras australianas removidas (foto: Juliana Malacarne)

Iniciativa pioneira

O projeto que envolve a retirada das palmeiras da USP, do viveiro da Prefeitura e a recuperação do canal da Poli custou aproximadamente 295 mil reais, vindos, em sua maior parte, do Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro), pois a reserva uspiana abriga uma nascente.

O remanejamento feito na Reserva Florestal é pioneiro no Brasil e, por causa dele, o Governo Municipal criou uma portaria com medidas específicas para a erradicação de espécies vegetais invasoras. Os uspianos foram diretamente favorecidos, pois o ápice retirado das árvores é repleto de palmito, que passará a ser mais frequente no cardápio do bandejão.

Os cuidados para proteger a mata nativa tomados na Cidade Universitária servirão de exemplo. Vânia Pivelo diz: “Não é só a palmeira imperial australiana, existem milhares de espécies invasoras, milhares de ambientes invadidos. A invasão biológica é o segundo maior problema do mundo na área de conservação biológica, o primeiro é a destruição direta dos ambientes pelo homem”.