Rádio e TV USP serão as últimas a deixar a Antiga Reitoria

Com a desocupação do prédio da Antiga Reitoria para o início das reformas, somente a Rádio e a TV USP ainda funcionam no local atualmente. Mas já têm prazo para deixá-lo: 1º de setembro.

De acordo com Celso dos Santos Filho, diretor da Rádio em São Paulo, pode haver atrasos porque tudo depende das obras de adaptação no novo espaço cedido pela TV Cultura. “A TV Cultura nos emprestou um espaço que vamos adaptar para ter condições técnicas de trabalhar”, diz Santos. O diretor explica que a Universidade não será cobrada pelo espaço e que o equipamento da Rádio USP, que foi planejado para ser desmontável, vai ser levado e instalado nesse novo local, de forma que o investimento recente na modernização da emissora não se perde.

O acordo entre a TV Cultura e a USP foi fechado no fim do mês passado. “Existiram histórias de que iríamos assumir a Cultura e pessoas seriam demitidas de lá ou vice-versa. Isso não existe”. Santos diz que alguns programas da Rádio USP irão para a Cultura e vice-versa, como já acontece na televisão, mas esclarece que esse interesse já existia antes da mudança. “Nós somos rádios irmãs, educativas. Essa ligação já existe há pelo menos 10 anos”.

A mudança é provisória. “Nós vamos montar a Rádio e a Televisão provisoriamente, por no máximo dois anos, e então voltamos para o prédio definitivo da Rádio”, diz Santos. Ele afirma que, no futuro, não só a Rádio, mas também toda a CCS ocuparão um prédio na área dos barracões. A Reitoria não confirma a informação.

Insatisfação e desinformação

A Rádio levará cerca de 35 funcionários para as novas instalações. Os funcionários que trabalhavam no prédio da Antiga Reitoria reclamam de falta de informação e aumento de custos como alimentação e transporte nesse processo de remanejamento. “Em um primeiro momento, há o medo do que é novo. Mas, depois que tudo foi explicado em uma reunião, está tudo mais tranquilo. Obviamente, as pessoas estão preocupadas com a saída, mas não há o que fazer. Não tem condições de a gente ficar aqui por que numa obra você não sabe o que pode acontecer”, diz Santos.

O diretor explica que por causa da reforma no prédio, água, luz, esgoto e limpeza são cortados e não haverá infraestrutura para o funcionamento de nenhum órgão da USP no local. Os funcionários da Rádio, porém, contam que a reunião aconteceu sem aviso prévio e com poucos funcionários presentes. “Ninguém tem certeza do que vai acontecer. Está tudo no boca a boca”, diz o jornalista Maurício Calil. “E é aquilo que o Reitor fala: ninguém é obrigado a ir. Quem não quiser ir, pode ser realocado”, diz Santos. Até agora nenhum funcionário da Rádio USP pediu para ser transferido.

A opção de realocação também é questionada, já que os funcionários que insistirem em permanecer no campus terão de realizar outras funções. “Ou vamos com a Rádio, ou somos colocados em funções burocráticas ou nos demitem”, diz o locutor Mário Júnior.

Outra preocupação dos funcionários é sob que condições irão trabalhar. Eles lembram que a última mudança temporária da Rádio se estendeu por dois anos e meio, quando se instalaram em um local de infraestrutura precária na Escola Politécnica. O motivo da saída na época foi a reforma de modernização da Rádio, que durou anos e foi concluída em 2008, ano em que a emissora voltou para a Antiga Reitoria. “Queremos sair daqui com a garantia de que teremos uma estrutura para continuar transmitindo e não prejudicar o ouvinte”, diz Silvana Pires, coordenadora de programação. “Se não tiver condições, nós não vamos”, completa Calil.

Os funcionários da CCS receberam um aumento no salário para compensar os gastos e os funcionários da Rádio terão os mesmos benefícios, garante Santos. “Inclusive, vai ser colocado uma van que vai fazer o trajeto USP – TV Cultura em horários determinados só para o pessoal que vai trabalhar lá”, diz. O mesmo sistema foi implantado para atender os funcionários da CCS. O “Expresso Corifeu” funciona desde o fim de junho.

Não houve informação a respeito da van para os funcionários. “Não há transparência nos motivos ou planejamento. Disseram que vão estudar a proposta de vale refeição, van ou ajuda de custo. Mas não há nenhuma garantia”, explica Júnior. “Simplesmente fomos expulsos. Não se preocuparam com quem mora perto daqui”, diz Calil. Para Santos, o processo não foi arbitrário, pois se sabia que o reitor tinha a intenção de ocupar aquele prédio desde a sua posse em janeiro de 2010.

Transferência interna

Ao que parece, a informação não também chegou ao térreo, onde funcionava a Rede SACI, que também foi retirada do prédio. O projeto responsável por imprimir o cardápio em braile e por dar informações e assistência às pessoas deficientes. “Houve um processo de desinformação que durou o ano inteiro. Foi um stress, não só pra gente, mas para todas as pessoas que a gente compartilhava a vivência do prédio”, diz Ana Maria Barbosa, coordenadora do projeto. “Desde o anúncio da volta da Reitoria em 2010 começaram os boatos. Isso cria uma grande tensão. O que corria era que o reitor queria o prédio desocupado, mas, em momento nenhum houve uma informação específica a respeito de prazo”.

No fim do ano passado, a Reitoria informou que o projeto iria para uma das salas da Colmeia, na rua do Anfiteatro, mas que o espaço ainda passaria por reformas. “Fomos acompanhando todo mundo arrumar as malas. Como a gente não tinha um prazo, a gente foi ficando e tocando o nosso trabalho”, diz Ana.

Em julho, ficou acertado que a saída do projeto ocorreria no dia 25 daquele mês, o que acabou acontecendo somente no último dia 8, mesmo sem a finalização das obras de reforma na Colmeia. “Fomos acomodados em um espaço cedido no anexo da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão (PRCEU), mas no dia da mudança eu ainda não sabia desse espaço. A minha preocupação era: como a sala não está pronta, como a gente tocará o trabalho? Prestamos um serviço que é imediato”, diz Ana.

Segundo a Reitoria, a nova sala está sendo devidamente adequada para que a mudança ocorra o mais breve possível. Enquanto isso, a equipe da Rede SACI está trabalhando à distância com infraestrura mínima na PRCEU.

A volta da Reitoria

Ana e Santos concordam que o prédio da Antiga Reitoria necessita de uma reforma. “Qualquer que fosse a decisão do Reitor em ir para lá ou não, aquele prédio está precisando de uma reforma faz tempo”, diz Ana, que trabalha no local desde 1990. “Há uma necessidade de manutenção predial e já que a reforma tem que ser feita, o ideal é que a Reitoria volte para o prédio que foi pensado e que tem altura para ser uma Reitoria. É uma questão de história e tradição”, diz Santos.

“O nosso campus está um pouco defasado e o Reitor está modernizando esse espaço”, diz o diretor. De fato, a reforma do prédio faz parte de um projeto maior de construção de novos espaços, reforma de prédios e revitalização de áreas degradadas na Cidade Universitária.

Veja para onde foram alguns órgãos da USP (infográfico: Ana Carolina Marques)
Veja para onde foram alguns órgãos da USP (infográfico: Ana Carolina Marques)