Diretor da FEA promete discutir com alunos antes de instalar catracas

Quatro meses após o assassinato de um estudante no estacionamento, medidas de segurança continuam  sendo discutidas na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA). Em breve, ela se juntará à Faculdade de Odontologia e a outras unidades da USP que controlam a entrada e saída de pessoas por meio de catracas. O projeto faz parte de uma série de medidas de segurança promovidas na faculdade, dentre as quais se destaca também a instalação de mais de 150 câmeras em corredores e salas de aula.

A decisão tem como finalidade auxiliar num problema sério da FEA: os furtos dentro da unidade. “A morte de Felipe Paiva pode ter servido para acelerar a medida, porém não está entre os motivos que levaram à sua adoção”, afirma Reinaldo Guerreiro, diretor da FEA.

Segundo Guerreiro, as catracas devem ficar prontas até o final do ano. “Temos esse objetivo em mente, mas não sei se conseguiremos. Depende de licitação, de diversos fatores. Não é algo que podemos simplesmente ir lá, comprar e trazer.” As catracas servirão para controlar a circulação de pessoas dentro da faculdade, e não necessariamente restringi-la. “Se houver alguém de fora, essa pessoa vai ter que simplesmente se identificar e explicar por que precisa entrar”, explica o professor.

Prós e contras

A comunidade feana apresenta posicionamentos diversos. Vinicius Fonseca, que cursa o segundo semestre de Administração, diz ser contra a medida. “A Faculdade é pública, a livre circulação deveria ser garantida. Além disso, isso não solucionaria os problemas de violência”, declara, argumentando que a questão da segurança é mais grave fora da FEA do que dentro dela.

Para o segurança Claudinei Castelani, seu serviço seria mais simples. “Falando como funcionário, seria ótimo ter catracas. Acontecem muitas coisas sobre as quais não temos controle”, afirma. Ele lembra do caso do lançamento do livro de um professor, quando houve confusão por causa da presença de uma pessoa de fora da USP no coquetel.

O Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC) ainda não tem posição definida. “Ao mesmo tempo que nós sabemos que a instalação desses mecanismos de segurança reduz os furtos e passa uma sensação de maior conforto aos alunos, funcionários e professores, isso não pode ser feito de maneira a restringir manifestações espontâneas que a comunidade queira ter”, diz Thomás de Barros, diretor de comunicação do CAVC e membro da Comissão de Segurança da FEA.

Diálogo com os alunos

A decisão foi tomada numa reunião em 2009 da Congregação da faculdade – instância que, segundo as normas da FEA, tem entre seus membros representantes discentes e todos os professores titulares. Ainda assim, a decisão não é de conhecimento geral dos alunos. “Eu posso dizer, com certeza, que a questão não foi discutida na época”, afirma Thomás.

Guerreiro afirma que a decisão está tomada, mas o assunto será discutido com os estudantes. “Eu não posso deixar de fazer alguma coisa que a congregação solicitou. Mas, como diretor, quero conversar com os alunos, explicar o que significa colocar catracas, que é para aumentar a liberdade e não para diminuí-la.”

Os membros do CAVC Tiago Aguiar e Gabriela Thomazinho estão organizando um debate sobre a questão, que deve ocorrer em outubro.  A ideia é trazer especialistas tanto a favor quanto contra a proposta das catracas para um diálogo com os alunos. No entanto, os nomes dos convidados ainda não foram confirmados, de acordo com Tiago.

(Ilustração: Renata Hirota e Bruno Federowski)
(Ilustração: Renata Hirota e Bruno Federowski)