Uspianos vítimas da ditadura terão Memorial

A homenagem será construída na Praça do Relógio para lembrar os mortos e perseguidos durante o Regime Militar

O Memorial aos Membros da Comunidade USP Vítimas do Regime da Ditadura Militar – 1964/1985 foi proposto à Reitoria da USP em 2010 pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade (NEV). O local escolhido foi a Praça do Relógio, em frente ao Auditório Camargo Guarneri. A obra deve ser concluída até dezembro deste ano segundo o NEV.

A homenagem será composta por placas de concreto com os nomes de professores, pesquisadores, funcionários e estudantes que estão desaparecidos, foram mortos ou sofreram de alguma maneira com a repressão do Regime. A lista desses nomes será produto de uma pesquisa  do NEV , que está em andamento.

A construção do Memorial custará R$ 89 mil. Para financiar o projeto, o NEV, apoiado pela Reitoria, divulgou em nota que firmou um consórcio com a Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (FUSP), a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) e a Petrobrás.

A obra faz parte do projeto “Direito à Memória e à Verdade” da SDH/PR. Para o NEV, é importante que a USP relembre os “numerosos os casos de mortes, tortura, prisões ilegais, cassações e perseguições políticas a indivíduos”. A nota de esclarecimento do Núcleo diz ainda que “um dos deveres dos Estados é revelar a verdade histórica e não deixar que os casos sejam esquecidos ao longo dos anos, como uma espécie de vacina contra abusos futuros”.

Golpe ou Revolução?

O Memorial virou notícia porque a placa no canteiro de obras dizia “Monumento em Homenagem a Mortos e Cassados na Revolução de 1964”, o que causou protestos entre estudantes e docentes.

A placa trazia ainda o nome de todos os parceiros do projeto como a Petrobrás, a Dezoito Arquitetura, a Scopus Construtora, a Coordenadoria de Espaço Físico da USP (Coesf) e a SDH/PR – que aparecia com o nome incorreto “Secretaria Especial de Direitos Humanos”.

Segundo, Marcelo Salles, Coordenador-Geral de Imprensa da SDH/PR, a Secretaria não tinha conhecimento do uso do termo “revolução”. “Assim que soube, a ministra [da SDH/PR] Maria do Rosário entrou em contato com o reitor da universidade e solicitou a substituição”. A placa foi retirada no último dia 4 e ainda não há outra no local.

A ministra declarou à imprensa que considerava o termo utilizado absurdo. “O episódio mostra a importância do projeto Direito à Memória e à Verdade, que demonstra que em 1964 houve um golpe seguido de uma ditadura”, disse.

O Professor Massola, superintendente da  Coesf, informou que ninguém da Coordenadoria está autorizado a responder sobre a placa. Paulo Sérgio Pinheiro, professor associado do NEV, também encerrou o assunto dizendo que “aprofundar essa questão é desviar a atenção sobre o enorme valor do Memorial”.

Estudantes picham frases de protesto à ditadura em tapumes da obra de construção do Memorial (foto: Carolina Linhares)
Estudantes picham frases de protesto à ditadura em tapumes da obra de construção do Memorial (foto: Carolina Linhares)