A favor da PM, FEA tenta instigar debates; Poli e Med decidem por plebiscitos

Por meio de assembleias consultivas e rodas de debate, o único centro acadêmico a favor da PM no Campus advoga o diálogo

Até o fechamento desta edição o Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC), da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade é o único a se colocar aberta e oficialmente a favor da permanência da PM no Campus. A posição foi tomada após o assassinato do estudante Felipe Ramos Paiva, 24, no estacionamento da unidade em maio deste ano. No entanto, a atuação da PM na USP desde que foi assinado o convênio, meses após a morte de Felipe, reacendeu o debate na unidade.

Nas duas assembleias consultivas organizadas pelo CAVC para discutir o assunto, ouviu-se muitas críticas à maneira como foi realizada a retomada de posse da reitoria e à suposta ação da PM nos corredores e arredores do CRUSP (investigada pelo Ministério Público). Em nome dos cerca de 120 alunos presentes nessas assembleias, realizadas de manhã e de noite, foi redigida uma carta-coletiva lida pelo aluno Paulo Cordeti durante a Assembleia Geral dos Alunos da USP (FAU, 17/11).

A carta defende o aumento de segurança no Campus, porém repudia abusos realizados pela PM e convida a comunidade acadêmica a discutir o conteúdo do convênio firmado com a Universidade. O documento também critica as posições extremadas e polarizadas e denuncia que certos termos do convênio, como a criação de fóruns de discussão (“Fóruns da Cidadania pela Cultura da Paz”) e o treinamento especial para os policiais atuando na USP foram propagandeados, mas não concretizados. Este foi o único informe da assembleia a ser aplaudido de pé pelos estudantes.

Embora expresse a opinião consensual dos alunos presentes nos debates, não se pode afirmar que o conteúdo da carta de fato representa a posição da maioria dos estudantes da FEA. Para Paulo, falta engajamento e interesse dos alunos nessa questão. “Fica complicado fazer qualquer assertiva sobre a opinião dos alunos da FEA se muitos deles desconhecem os fatos que contribuiriam para um melhor julgamento sobre os atuais acontecimentos dentro da USP”, ele completa.

O aluno Cleber Felizzon, também da FEA, concorda. Ele acha pouco provável que, de maneira geral, os alunos estejam repensando a presença da PM. Com o título Você não me quer como aluno da USP, Cleber compartilhou um texto no site Facebook que, até o momento, foi repassado por mais de 3000 pessoas. Nele, Cleber assume posições que vão contra os estigmas alimentados dentro e fora da universidade: se coloca como um feano que apoia a ocupação da reitoria e explica ao seu leitor porque os ocupantes do prédio seriam, na verdade, os estudantes que deveriam ser desejados para a universidade pública.

Segundo ele, há um certo desentendimento entre o movimento estudantil e a unidade. “Eu já vi representante do Diretório Central dos Estudantes ser hostilizado em sala de aula”, conta. “Há uma série de estigmas que a FEA tem do movimento estudantil e vice-versa, o que dificulta a aproximação”, continua. Para ele, os estigmas nascem da falta de diálogo e da distância física e acadêmica entre os cursos e unidades.

Apesar disso, Cleber acredita que os recentes eventos na Universidade tenham instigado alguma reflexão, e nas próprias assembleias gerais da USP ele percebe mais pluralidade de opiniões. “É interessante como há vários tons de cinza”, resume.

Poli e Med decidem por plebiscitos

Encerrou-se, no dia 22 de novembro, a pesquisa realizada pelo Grêmio da Poli para saber a posição de seus alunos quanto à greve e à presença da Polícia Militar no Campus.

O resultado obtido nas cinco urnas espalhadas pela unidade será divulgado até quarta-feira(23), segundo o Grêmio, e definirá seu posicionamento oficial como representante dos alunos. “Foram 22 perguntas, contemplando tanto os eixos da greve como a própria greve separadamente”, explica Danielle Gazarini, membro do Grêmio.

Em atitude similar, o Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, da FMUSP, também optou por realizar uma pesquisa entre os alunos antes de se posicionar. “Estamos passando essa semana um questionário com mais de 30 perguntas, porque só sim e não para essas questões não é representativo”, diz Gabriel Dias, presidente do CA. As perguntas abrangem questões como PM no campus, greve estudantil, posse de drogas e presença de catracas nas unidades, porém não contemplam o Fora Rodas, um dos eixos da greve.

Pretende-se alcançar pelo menos 80% dos alunos nessa pesquisa. A pedido do CA, o Departamento de Estatística da Faculdade analisará as respostas e apresentará o resultado. “O nosso objetivo é representar os alunos, vai ser o que eles quiserem”, completa Gabriel.

“Parte do movimento estudantil tenta o diálogo de uma forma agressiva, sem apresentar um projeto concreto”, ele critica. Uma das ideias do CAOC é elaborar, em conjunto com os alunos, uma proposta que indique alternativas e pontos específicos a serem melhorados.

Mesmo não tendo decidido posicionamentos em assembleias de curso, procedimento adotado pela maioria das unidades, ambos os CAs citados organizaram debates com os alunos e afirmam ter participado de todas Assembleias Gerais dos Estudantes da USP. “Preferimos realizar esse plebiscito por achar que ele seria mais representativo do que uma assembleia ou que dez pessoas de uma gestão decidindo”.

Apesar de ser mais representativo, há críticas a este modelo adotado, como a do aluno Vinícius Pereira de Oliveira, da Escola de Comunicações e Artes: “Nesse tipo de consulta, as pessoas acabam votando sem antes ter debatido e refletido. O ambiente da assembleia promove um diálogo mais aprofundado. É onde as pessoas mudam de opinião”.