Ação policial provoca questionamento no ato

PMs que atuaram no dia 27 de outubro ainda não receberam treinamento especial proposto pelo protocolo assinado pela Reitoria

Durante os eventos do dia 27 de outubro, diversos policiais militares apareceram sem placa de identificação, na qual deveriam estar o nome e a patente, na farda. Essa foi uma das principais questões levantadas pelos estudantes que se manifestavam contra a PM, naquele momento. No ambiente cada vez mais tenso, que precedeu o confronto físico, era corrente ouvir alunos perguntando para policiais: “Cadê o teu nome?”, “porque tá sem o nome?”, “se você me bater, como vou saber quem você é?”.

Questionado pelos manifestantes, o tenente Salles teria dito que não há norma no Estado de São Paulo que obrigue o uso da identificação por policiais. Mais tarde, na delegacia, o tenente coronel Souza, que comandou as tropas na última quinta-feira, não confirmou a informação. “O policial tem que usar identificação sim, pois ela faz parte do uniforme. Se não usou é um erro. Mas também não sei o que aconteceu, pois pode ter caído da farda”. Pelo que pôde ser observado, apenas alguns dos policiais, como os tenentes Salles e Caresi e o tenente coronel Souza apresentavam suas devidas placas presas ao uniforme.

Durante o episódio, alunos e professores debatiam suas ideologias com os policiais (foto: Giovanna Rossin)
Durante o episódio, alunos e professores debatiam suas ideologias com os policiais (foto: Giovanna Rossin)

Os debates acerca desse e outros detalhes aumentaram a tensão entre os alunos e os policiais. Frases como, “tem muita gente para a gente bater” foram ouvidas por estudantes. Enquanto isso, policiais reclamavam dos xingamentos que haviam escutado ao longo de toda a noite: “Já me chamaram de coxinha e de assassino”, dizia o tenente Caresi. Há cerca de três semanas, a Polícia Militar havia respondido ao JC que já estava sendo iniciado um treinamento especial para os policiais que atuariam no Campus. No entanto, o coronel Souza confirmou que os mais de 40 policiais acionados para o caso da FFLCH não faziam parte da turma que estaria recebendo o treinamento.

Era evidente, para quem presenciou o confronto, que os policiais já estavam equipados e fizeram uso de cacetetes, sprays de pimenta, bombas de gás lacrimogêneo, e, inclusive, balas de borracha. O tenente coronel Souza, ao ser perguntado sobre as armas usadas na confusão respondeu, já na delegacia, que desconhecia o uso das balas de borracha.

Curiosamente, horas antes da abordagem dos alunos da geografia, em resposta ao JC, o capitão Massera, que trabalha na Assessoria de Imprensa da Polícia Militar, deu alguns esclarecimentos sobre as recomendações e equipamentos que os policiais recebem geralmente antes que haja um confronto, principalmente ligados a protestos e manifestações. As declarações mostram justamente a forma como a polícia viria a agir naquela noite. “Não há diferenças entre equipamentos usados na universidade e fora dela, pois as técnicas e recursos materiais empregados seguem o princípio do uso escalonado e proporcional da força (monopólio legítimo da violência, pertencente ao Estado). Em outras palavras, busca-se a utilização dos recursos disponíveis de maneira proporcional, aumentando a força empregada conforme a necessidade. Por isso, a Polícia Militar emprega técnicas e equipamentos menos que letais, como as melhores polícias do mundo. A Polícia Militar de São Paulo é referência internacional no uso de técnicas menos que letais. É importante destacar que não são registrados casos com resultado de morte ou lesões graves durante as manifestações, mostrando que as técnicas empregadas são adequadas. Eventuais abusos no emprego desses recursos devem ser considerados como falhas individuais e não de procedimento, sendo certo que a Instituição é implacável contra desvios de conduta de seus integrantes”. Perguntado sobre o limite para a agressão física no caso da FFLCH, o tenente coronel Souza respondeu que a Polícia já havia esgotado todos os recursos disponíveis para impedir o confronto.

Vaga destinada a deficientes físicos onde a viatura foi estacionada na noite do dia 27 de outubro (foto: Glenda Almeida)
Vaga destinada a deficientes físicos onde a viatura foi estacionada na noite do dia 27 de outubro (foto: Glenda Almeida)

Na 91ª DP, enquanto os três estudantes e os advogados se reuniam com o delegado, a viatura da Polícia Civil que tinha sido danificada no embate na FFLCH estava convenientemente estacionada na entrada da delegacia, em uma vaga destinada a deficientes físicos. Como era esperado, o veículo foi registrado pelas câmeras dos jornalistas presentes. Questionada sobre se aquele era o lugar onde geralmente essa viatura era estacionada, a policial Valéria Marques afirmou que sim. “Não tem vaga para ela não, é normal ela ficar aí mesmo”, disse. Quatro dias depois, a reportagem do JC voltou ao local para confirmar a informação. No entanto, o carcereiro Ednei negou. “As viaturas do delegado não tem vaga fixa. Mas elas não param nessa vaga não, afinal, é uma vaga de deficiente”.