Assembleias e discussões mobilizam mais unidades da USP

Na sexta-feira, dia 11, mais reuniões, assembleias e rodas de conversa ocorreram por todo o campus para discutir a paralisação e a questão da segurança. Após a aprovação da greve estudantil pela Assembleia Geral dos Estudantes na última terça-feira (8), as unidades deliberam sua adesão ou não ao movimento. Os cursos de Jornalismo, Editoração, Biologia e Biblioteconomia votaram a favor da greve. Física e EEFE (Escola de Educação Física e Esporte) não irão aderir. Na FEA, na Poli e na Psico, alunos discutiram a questão. Alunos da pós-graduação também se reuniram durante a tarde.

Física

Na Física, estudantes decidiram não aderir à greve estudantil. A resolução, porém, pode ser revista em novo encontro na próxima sexta-feira (18), quando haverá votações sobre os outros eixos definidos na Assembleia Geral, como o fim do convênio da reitoria com a Polícia Militar e novo plano de segurança para o campus. Cerca de 200 alunos se reuniram no auditório do Instituto de Física. “É uma das assembleias mais lotadas que eu já vi desde 2005”, disse Bruno, aluno de mestrado.

Para entrar no auditório, os estudantes eram obrigados a mostrar a carteirinha da USP para comprovar que pertenciam ao IF, o que foi criticado por alunos do próprio Instituto. Decidiu-se por fim que todos poderiam participar, mas só alunos do IF votariam. Priscila Grana, do 2º ano, explicou que a medida era necessária, pois a assembleia foi convocada sem a especificação de ser aberta ou fechada, e esse ponto precisava ser decidido antes do início. Além disso, alunos mencionaram que em 2007, quando também deliberavam sobre a adesão a greve estudantil, o debate foi bastante confuso por conta da participação de pessoas de fora.

Desta vez, a confusão partiu de dentro. Um aluno do IF que é também policial militar se levantou para cumprimentar a mesa e percebeu-se que estava armado. “Um estudante policial com arma é um afronte. Quem precisa de armas para discutir?”, disse Cássio Alves, doutourando. Atendendo a pedidos, ele se retirou da assembleia e voltou desarmado.

João Braga, do 3º ano, disse que é preciso pensar como a universidade deve tratar o mundo lá fora. “Nunca se propôs olhar para a São Remo e perguntar o que podemos levar para a sociedade ou como dar condições de vida para esses setores sociais que são alvos da repressão”.

Osvaldo de Souza, mestrando, defendeu a greve argumentando que “a proposta de diálogo acabou quando a PM entrou com as tropas na USP”. Ele também argumentou que a radicalização é necessária para que as propostas dos estudantes sejam atendidas. “Se não fosse a ocupação da reitoria em 2007, não teríamos mais 230 vagas no Crusp”.

Apesar das falas contrárias, a proposta de não adesão à greve defendida por Wilson Maruyama foi a mais votada por contraste. Para ele, a paralisação pode prejudicar os alunos neste fim de semestre. “Os professores da Física não costumam apoiar as greves e estamos em época de provas e entrega de trabalhos”.

Ampla maioria vota contra a greve na Física (foto: Carolina Linhares)
Ampla maioria vota contra a greve na Física (foto: Carolina Linhares)
FEA

Na FEA, cerca de 50 alunos se reuniram na vivência para debater a questão, sem votações. Houve divergências nas opiniões em relação à PM no campus, o que dificulta a formação de uma opinião oficial do CAVC. Débora Holschauer, aluna do 2º ano de administração, lamentou o fato de ter pouca gente e propôs que a discussão se limitasse ao modelo de policiamento na USP. “A FEA não se manifesta e o CA tem dificuldade em saber o que dizer”.

Paulo, aluno da FEA e morador do Crusp, cobrou espaço pra denunciar excessos da PM. “A PM tem usado seu direito de forma indevida. O Rodas não é legal. Este caso não é um debate raso”, disse.

Vitor, aluno do 3º ano de Contabilidade, criticou a generalização do movimento estudantil, apontando que os cinco eixos da greve deviam estar dissociados e deviam ser discutidos individualmente. “É preciso unir toda a USP e erguer uma bandeira comum. A assembleia não tem braços longos o suficiente para abraçar todo mundo”.

Os alunos mostraram flexibilização de opiniões e um debate aberto. Caio, aluno do 1º ano de Economia, afirmou que a FEA precisa discutir se o CAVC muda ou não de conduta, em relação à nota de repúdio à greve que já foi divulgada. Para ele, a nota serviu pra isolar a FEA da discussão. “Não deve haver esse isolamento entre a FEA e a FFLCH”, disse.

Poli

Cerca de 30 alunos da Engenharia de Produção se encontraram para discutir antes da realização da Assembléia Geral da Poli, que será na próxima quarta, às 16h, no anfiteatro da Mecânica. O Grêmio da Poli pretende também realizar um plebiscito na quinta e sexta-feira que possibilite maior liberdade de opinião aos alunos.

O CAEP, que promoveu o encontro da sexta-feira para quebrar com o estereótipo da Poli, afirmou que mesmo dentro da gestão não há consenso e, por isso, nenhuma nota foi divulgada. Para Rafael, aluno da Produção, é complicado mobilizar a Poli. “Se não fosse a invasão da reitoria, não estaríamos discutindo isso, ainda mais aqui”.

Eduardo afirmou que há uma falta de representatividade no movimento estudantil. “Não dá pra saber se é ex-aluno, aluno, sindicalista, militante, então qual a validade dessas assembleias? Vários CAs estão convocando assembleias porque uma greve que foi declarada geral não está tendo validade”, disse.

“Não precisamos aderir à greve para reivindicar tudo que eles [outros grupos] propõem. [A Poli] deve evitar ser o que não somos só pra fazer volume”, disse Victor. Para ele, “não ter posições radicais não significa não ter opiniões fortes”.

Quanto à greve, os alunos ensaiaram uma votação e não há consenso de que não entrarão de greve.

Alunos da Engenharia de Produção discutem a greve antes da Assembleia da Poli, na próxima quarta-feira (foto: Beatriz Montesanti)
Alunos da Engenharia de Produção discutem a greve antes da Assembleia da Poli, na próxima quarta-feira (foto: Beatriz Montesanti)
Psicologia

No Instituto de Psicologia, a roda de conversa foi idealizada por um grupo de alunos que acampam na frente do prédio da Psico (Acampsi), aos quais se somaram alguns agregados. Mais de 60 alunos se encontravam no local quando começou a conversa com os professores José Leon Crochik, José Moura e Marlene Guirado. A roda foi crescendo ao longo da tarde.

Professores participam da roda de conversa na Psicologia (foto: Beatriz Montesanti)
Professores participam da roda de conversa na Psicologia (foto: Beatriz Montesanti)

Crochik fez votos para que o movimento estudantil se mantenha numeroso como esteve essa semana e que a PM deixe de atuar no campus. “O que aconteceu aqui respeita a lógica das operações em São Paulo e se não der de encontro à nossa resistência organizada, vai piorar”. O professor também disse que o problema de segurança não é o maior: é preciso resolver as questões levando em conta o cisma entre diferentes camadas da sociedade e a formação de poderes.

O professor José Moura, por sua vez, afirmou que é possível traçar uma relação entre o movimento estudantil e movimentos de ocupa/acampa: o parâmetro é 68. Nesta época, pensava-se além do momento particular e da situação universitária. Hoje, isso se perdeu. “Tratar a USP como uma instância privilegiada ou não é uma falsa questão, já que a universidade pública faz parte da sociedade. A violência aqui reflete a violência na sociedade no geral”. Moura ainda lembrou que unidades móveis da PM serão instaladas na USP, e que policiais terão aulas de direitos humanos. “E o resto da PM, não precisa dessas aulas?”, questionou.

“Fomos pressionados pela explosão da violência dentro do próprio campus” comentou por sua vez a professora Marlene Guirado, “A imprensa antagoniza PMs e estudantes, sempre transformando um em vilão e outro em bonzinho. A grande maioria transforma os estudantes, como categoria, em vilão. Isso não quer dizer que os outros movimentos são pacíficos: movimento estudantil não é livre de opiniões bipolares”.

Após fala inicial dos três professores, a conversa ampliou-se: “Recentemente, o governador afirmou que os alunos da USP deveriam ter aulas de democracia. Sim e não: democracia, sim; aulas, não”, comentou um estudante. “Segurança é aparecer, não se esconder”.

Como resultado do debate, pensou-se a criação de um observatório de direitos humanos na USP, que poderia se estender para a sociedade. Os demais encaminhamentos foram uma carta de repúdio a ser escrita, recolhimento de depoimentos e a realização de assembleia na quarta-feira, 16, às 13h.

Jornalismo e Editoração

Os alunos do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) da ECA realizaram duas assembleias, no período da manhã e à noite, para votar a adesão. Houve 59 votos favoráveis à greve contra 41 votos favoráveis a uma paralisação das aulas, porém com entrega de trabalhos finais.

Os alunos adotarão o “piquete moral”, ou seja, tentarão impedir a aula através do diálogo, buscando convencer professores e alunos. A proposta é que haja aulas públicas e participação em atos e assembleias.

Também foi decidido que o CJE incorporará à greve reivindicações internas do Jornalismo como bandeiras. Será redigida uma carta para explicar a adesão dos alunos ao movimento e pedir aulas públicas.

Alunos de Jornalismo e Editoração votam por greve geral (foto: Beatriz Montesanti)
Alunos de Jornalismo e Editoração votam por greve geral (foto: Beatriz Montesanti)
Educação Física

A assembleia da EEFE discutiu a questão da segurança e a greve estudantil. A maioria se posicionou contra a greve em uma votação por contraste. Uma paralisação com aulas públicas no dia 21 foi aprovada por consenso.

Em relação à PM no campus, 15 alunos votaram contra o convênio e 12 votaram a favor (houve duas abstenções). O fim dos processos administrativos foi aprovado por 16 votos, houve 5 votos contrários e 4 abstenções. A proposta “Fora Rodas” foi aprovada por consenso e também a moção em repúdio à ação violenta da PM contra os estudantes.

Sobre o plano alternativo de segurança, um plano de iluminação para o campus foi aprovado por consenso, assim como a política preventiva de segurança, o aumento da frota de circulares e o aumento da rota até o metro. A proposta de concurso público para uma nova guarda universitária (inclusive com guarda feminina) foi aprovada com 18 votos a favor. O que dividiu estudantes foi a proposta de maior circulação de pessoas no campus, houve empate e, em segunda votação, houve mais votos contrários. No entanto, os alunos resolveram repensar um projeto de maior circulação no campus.

Pós-Graduação

Os estudantes da pós-graduação da USP se reuniram em plenária durante a tarde. Haverá uma assembleia deliberativa na quarta-feira, dia 16, às 18h30, no Instituto de Física.

A nota em repudio à atuação da PM na desocupação da reitoria, assinada por 250 alunos da pós, já foi lançada e, até quarta, os alunos e ex-alunos que ainda não assinaram poderão somar seus nomes. Outras pessoas que quiserem apoiar a posição defendida poderão assinar uma petição online.

A pós-graduação tem propostas em relação aos debates, à comunicação e à mobilização durante a greve. Maria, doutoranda da Sociologia, propõe que a pós organize ciclos de debates nas unidades, como na FEA, Poli e Medicina.

Outros cursos

Os alunos do Instituto de Biociências declaram-se a favor da PM no campus, porém contra o convênio que regula sua atuação no local. Foi decidido em assembleia que os alunos da Biologia estão em greve.

Além da Biologia, estudantes de Biblioteconomia também aderiram à greve em assembleia realizada na sexta-feira.

Colaboraram: Ana Elisa Pinho, Bruno Federowski, Job Henrique Casquel, Mayara Teixeira, Renata Hirota