Ato no centro amplia discussão fora da USP

Quem tentou passar pelo centro de São Paulo, no dia 10 de novembro, encontrou dificuldades. Segundo a CET, cerca de quatro mil pessoas bloquearam as ruas da região, empunhando cartazes e faixas de protesto. Eram estudantes, professores e funcionários da USP que se reuniram no Largo São Francisco para um ato público de repúdio à presença da Polícia Militar no campus e ao atual reitor da Universidade, João Grandino Rodas.

Até então, as manifestações aconteciam dentro da Cidade Universitária, na zona oeste da capital. Desta vez, começando na Faculdade de Direito, o ato agradou a franciscanos. “Isso mostra uma melhor integração da São Francisco como USP”, disse Victor Bastos, calouro da FD.

A ação, porém, dividiu opiniões de outros estudantes. Karen Antunes, aluna de Audiovisual na ECA, não é a favor da manifestação como aconteceu: “O ato começou a abraçar várias causas que não são comuns a todos, como os vários partidos políticos e falas do tipo ‘violência se combate com violência’ [proferida do alto do carro de som por Rafael Alves, um dos 73 presos]”.

À frente da passeata, um cordão foi formado por outros alunos presos no dia 8 de novembro. Um deles, o estudante de História na FFLHC João Denardi, classificou o ato como “muito representativo”. “Indica que a ocupação não estava isolada, nem era radical ou partidária, como a mídia retratou. É uma construção coletiva”, disse.

Apoio à USP

Cerca de noventa estudantes da Unicamp e da Unesp estiveram no ato para apoiar os uspianos. “Nós da Unicamp estamos lado a lado com os 73 presos”, disse um deles no carro de som. Rafael Del, unespiano e funcionário da FEA, na USP, disse que se sente “parte deste movimento por [nós, da Unesp] termos motivos contra a PM. Estamos paralisados em favor do movimento principal, contra a prisão dos 73”.

Bilbo Göransson, sueco que mora no Chile, apontou as diferenças entre a mobilização na USP e os recentes protestos naquele país, reivindicando educação gratuita de qualidade. “Em ambos sinto a mesma força de vontade, mas aqui [na USP] falta um pouco de organização”, disse.

Professores também estavam presentes na manifestação. Henrique Carneiro, que dá aula no curso de História da FFLCH, acredita que a USP não é como qualquer outro lugar da cidade. “A PM não pode parar de andar pelo campus, mas não deve atuar de forma repressiva. A Polícia não tem uma cultura de direitos humanos, mas sim de ser hostil à cidadania”, disse. Já para Luiz Souto Maior, professor da Faculdade de Direito, “a importância de levar o ato para o centro da cidade é mostrar que a questão não está limitada à Universidade”.

O que a sociedade pensa

A opinião dos transeuntes que pararam para observar a passeata não era unânime. Alguns questionaram os objetivos da mobilização. “Sou completamente contra. A educação começa no combate às drogas, e quem combate às drogas é a polícia. Quando você é assaltado, você não chama a polícia?”, disse Cícera Bernadete, que assistia ao acúmulo de motociclistas, com dificuldades para circular na rua Líbero Badaró.

Já para José Antônio Ambrósio, que viu o cortejo passar em frente à estação República do metrô, “a manifestação é pertinente e só a juventude é capaz de conseguir mudança. O campus é dos estudantes, o conselho universitário deve ser gerido pelos estudantes, com a participação da sociedade. Vocês têm meu apoio e têm a liberdade de se manifestar da maneira que acharem conveniente”.

Algumas palavras de ordem buscavam esclarecer o objetivo do ato aos curiosos. A intervenção artística dos alunos de artes cênicas da ECA, por exemplo, trouxe à tona um debate além da presença da Polícia Militar no campus da USP. “Nosso protesto é como uma procissão em homenagem a todos os mortos pela PM”, explicou Maria Eugênia Ferreira, aluna do segundo ano do curso.

A policial Vanuza, que assistia à manifestação, considerou injusto o questionamento às atitudes da PM. “Imaginem uma hora na rua sem a polícia. Nós somos muito egoístas. Quando tem estupro ou roubo, a primeira coisa em que pensamos é na PM, mas depois esquecemos disso”, disse.

Apesar da grande mobilização dos manifestantes, muitas pessoas continuaram sem entender os porquês do protesto. Para Maikely Lopes, que olhava de longe, o ato foi “surpreendente, mas não deixou claro o que eles reivindicam”. Katiane dos Santos, que passava pela Praça da República, achou “a ideia meio confusa. Não sei o motivo real por que eles estão aqui”, disse.

(fotos: Isadora Bertolini Labrada, Ricardo Bomfim; arte: Rafael Nascimento de Carvalho)