Cozinheiros frustrados: entrevista com os Barbixas

Eles tentaram ser cozinheiros, mas não conseguiram por inabilidade natural. Sobrou então a carreira de humorista

A Cia. Barbixas de Humor, formada por Elídio Sanna, Daniel Nascimento e Anderson Bizocchi, pode ser considerada uma das revelações do humor brasileiro nos últimos anos. Com seus números baseados na improvisação, e divulgando seus vídeos pela internet, eles chamaram a atenção do público – seu espetáculo Improvável foi assistido por 250 mil pessoas desde 2009. Entre os convidados do espetáculo, estiveram Marcelo Tas, Marco Luque e Rafinha Bastos.

Anderson, Elídio e Daniel, da Cia. Barbixas de Humor (foto: Divulgação)
Anderson, Elídio e Daniel, da Cia. Barbixas de Humor (foto: Divulgação)

Jornal do Campus: Por que você é humorista?
Elídio Sanna: A vida acabou me empurrando pra isso. Sentem que você tem uma veia humorística e você vai caminhando pra isso, fazendo shows, estudando piadas, fazendo roteiro. Não existe um curso, um certificado ou um Conselho dos Humoristas. Quem te elege humorista é o público.
Daniel Nascimento: Sou péssimo cozinheiro. E como se sabe, um homem só tem duas opções na vida: humorista ou cozinheiro.

JC: Antes de trabalhar, como você via o humor?
ES: Eu nunca fui de rir muito. Desde pequeno, era eu que conhecia todas as piadas, que contava para os amigos. As mecânicas de humor mais simples nunca me surpreendiam. Quando você começa a trabalhar com isso, vê o humor de maneira diferente. Você assiste como se tentasse adivinhar o que o cara vai dizer.

JC: Qual é o papel do humorista na sociedade? A função básica é o riso ou é preciso ir além?
ES: O humorista existe porque o público precisa rir, extravasar suas emoções. Mas o humor pode ter vários papeis: fazer crítica social, contestar a sociedade, falar de política e religião.
DN: Antes de tudo: não cozinhar. Acredito que no trabalho de humorista a única função obrigatória é o riso, mas não precisa ser aquele riso grande e alto no qual a barriga pede as mãos. Se você ri, em qualquer nível (do leve sorriso à gargalhada), é comédia.

JC: Como fazer as pessoas rirem nos dias “politicamente corretos” e “patrulhados” de hoje? É possível fazer humor sem sacanear alguém ou alguma coisa?
ES: Quando improvisamos, tentamos não ridicularizar ninguém. Cada pessoa vai interpretar de um jeito. A ridicularização mora muito mais em quem interpreta uma cena do que em quem faz.
DN: As patrulhas sempre vão existir. Qualquer artista será reconhecido por saber equilibrar a sua criatividade e inteligência estando em cima da corda bamba do seu tempo. Grandes humoristas do passado souberam driblar os valores de sua época, como Chaplin ou Andy Kauffman. Isso aconteceu e sempre acontecerá.

JC: O humor mudou muito dos tempos de Chico Anysio para os dias de hoje?
ES: O humor brasileiro está passando por grande transformação. A gente não precisa mais da curadoria da grande mídia pra fazer humor. Com a popularização dos meios de comunicação, os humoristas conseguiram apresentar trabalhos que talvez não fossem de interesse da grande mídia. Podemos ficar à margem dela. Há até uma discussão diferente, de ser assunto em todas as rodas.