“E o Jabuti vai para…”

Dos vinte e nove vencedores, seis são professores da USP; professor do IEB vence terceiro Jabuti por Crítica Literária

O professor Marcos Antônio de Moraes, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), foi agraciado com o Jabuti em Crítica/Teoria Literária. Além dele, outros cinco professores da USP que receberam neste ano o mais prestigiado prêmio da literatura brasileira comentam sua importância para a comunidade acadêmica e para a sociedade.

O Jabuti

“O Jabuti é um prêmio importantíssimo de reconhecimento intelectual” conta Marcos Antônio. “É um incentivo a continuarem novas edições e a melhorá-las. Ele nos dá a possibilidade de refletir sobre nosso próprio trabalho, além de pôr em discussão a relação da universidade com a sociedade. É importante que o mundo saiba o que fazemos aqui na USP e nas instituições de ensino superior em geral”.

A premiação, realizada anualmente, tem inscritos nas mais diversas categorias, que vão de Romance a publicação em Ciências Exatas. Ela existe desde 1957, mas segundo seu curador, “há 20 anos o prêmio não tinha visibilidade. Hoje, isso mudou totalmente – por exemplo, é comum que editoras coloquem faixinhas nos livros premiados. O mercado incorporou a vitória do Jabuti como um chamariz para aumentar as vendas”.

Para o professor de Medicina Marcelo Averbach, um dos vencedores na categoria Ciências da Saúde pelo Atlas de Endoscopia Digestiva da Sobed, “o Prêmio Jabuti é, sem dúvida, o mais importante da literatura nacional. A quantia (R$ 3 mil) que os premiados recebem é pouco relevante”.

Já outro vencedor do Jabuti, Moacir de Miranda da FEA, acredita que o prêmio valorize o departamento do professor que o recebe. Além disso, ele conta: “Estive na semana passada em Florianópolis e em Recife e os participantes dos eventos já sabiam da premiação. Sendo o principal prêmio literário do país, é de repercussão nacional”.

Como funciona o prêmio Jabuti (infográfico: Rafael Carvalho)

 

Nestor Goulart Reis Filho, vencedor na categoria Arquitetura e Urbanismo, explica que o valor em dinheiro do prêmio é simbólico. “No caso de obra de caráter literário, o prêmio estimula as vendas e, desse modo, traz um retorno financeiro para os autores. No caso de obras com caráter mais restrito – ainda que de interesse para os estudiosos de História e de ciências humanas em geral – o benefício econômico não pode ser relevante. O prêmio pode ser significativo para fundamentar pedidos de recursos para mais pesquisas e para obter apoio para publicação de outros trabalhos”.

A importância do Jabuti, no entanto, é diferente para cada premiado. O professor de Filosofia da FFLCH, Osvaldo Pessoa Jr., que ganhou na categoria Ciências Exatas, conta que, nessa categoria, mais valor é dado pela capacidade de divulgação do livro. “Temos que distinguir as categorias mais literárias, para as quais o prêmio é mais importante, das categorias menos destacadas, cuja premiação não aparece nos jornais diários e que incluem livros em diferentes áreas científicas. O prêmio nessas áreas não é dado ao desempenho acadêmico do pesquisador, ou à excelência de sua obra científica, mas sim a um produto específico – um livro – sendo que bastante peso é dado ao aspecto de divulgação científica, ou seja, à capacidade do livro de ser compreendido por não-especialistas”.

O professor Marcos Antônio acredita que o Jabuti é essencial para a difusão de trabalhos como o dele próprio. “A prova disso é que eu não estaria dando essa entrevista para o Jornal do Campus se não tivesse ganhado”, completa.

Mário de Andrade

O prêmio foi dado ao professor Moraes pela obra Mário de Andrade e Câmara Cascudo – cartas 1924-1944, livro que reúne as correspondências trocadas entre os dois estudiosos da cultura brasileira. O fato de que ele é uma reunião de cartas ao invés de um texto teórico sobre a obra de um ou de outro tem sua razão na linha de estudos conduzida pelo professor Marcos Antônio no IEB. “A carta é atravessada pelo interesse de várias áreas: História, Sociabilidade, Psicanálise, entre outras; além de construir um pensamento subterrâneo. Foge das idéias que o autor publica nos livros e jornais, é algo mais pessoal, uma obra dos bastidores”.

Além disso, a escolha de usar as cartas para montar um panorama do pensamento de um autor relaciona-se com a proposta estética do Cubismo. “Com as correspondências se obtém diferentes recortes de uma personalidade artística e o trabalho de junção destes recortes pode nos dar a impressão de um todo do pensamento do autor que não se encontra na análise de suas obras” explica o professor.

José Goldfarb, curador do Jabuti, explica que “algumas pessoas se perguntaram: quem estamos premiando? O autor das cartas ou da compilação? Obviamente que estamos premiando o professor responsável pelo livro. É um trabalho de fôlego, não é uma mera reprodução”.

Cartas Digitais

A análise de cartas para se entender como um escritor pensou sua obra continuará relevante neste mundo de mídias digitais em que poucos ainda se comunicam por cartas? “A gente conhece pouco do que se está fazendo no virtual, mas é claro que os jovens poetas usam muito os e-mails para discutir suas obras”, explica ele.

“Tendemos a menosprezar um pouco o e-mail”, conta o professor. “O correio eletrônico é considerado um espaço frio, não tem mais aquela aura da carta, do espaço físico, mas não deve ser menosprezado. O espaço virtual pode ser aquecido. Há uma linguagem nova sendo criada, mais curta, descolada. Isso não significa que seja menos densa. Hoje em dia, as pessoas até escrevem mais, por ser mais fácil”.

Ele completa explicando que há uma grande necessidade humana de se continuar escrevendo cartas. Ainda que elas não existam mais no espaço físico, “há coisas que eu só posso escrever na forma de carta. Isso porque a escrita é o espaço em que você produz uma auto-reflexão. Na comunicação oral você pode me cortar. A organização do pensamento na escrita é algo que não é possível na conversa, no telefone. A carta vai encontrando possibilidades de formação, ainda que seja no e-mail, ou mesmo em redes sociais”.