IRI e Letras votam contra a greve

Entre quarta e quinta-feira, mais unidades da USP debateram a crise na Universidade, instaurada devido à presença da Polícia Militar no campus e as recorrentes críticas quanto à segurança, tanto na USP quanto além dos limites da Cidade Universitária. Dentre as unidades que instituíram diretrizes, IME e IRI não aderiram à greve, enquanto o curso de Letras definiu pela não manutenção.

IME

A plenária do IME ocorreu na quarta-feira (16). Cerca de 60 pessoas elegeram dois delegados para representá-los na Comissão de Greve, embora não haja greve no Instituto. Foram aprovados os eixos fim do convênio com a PM, fora Rodas, plano alternativo de segurança e também a moção de repúdio ao ato policial do dia 8 deste mês. Além disso, uma nova assembleia ficou pré-marcada para dia 22.

O presidente da mesa, Adrian Fuente, sugeriu que se convidasse institutos próximos, como a Física e o IO, para debater, e assim “dialogar mais com a universidade”. Também propôs a criação de uma comissão de negociação com a reitoria na Assembleia Geral dos Estudantes: “não podemos ter uma ausência de diálogo direto com a reitoria, isso é fundamental”.

IRI

Em Assembleia que reuniu cerca de 100 pessoas, também na quarta-feira, os alunos do curso de Relações Internacionais decidiram não aderir à greve. Houve recontagem da votação, que foi apertada: 48 votos contra a greve, 44 a favor e cinco abstenções.

Os alunos se mobilizaram em torno de seis eixos políticos: o fim do convênio firmado entre a USP e a Secretaria da Segurança Pública, o repúdio à repressão da PM contra os alunos que ocupavam a reitoria, a proposta de um plano de segurança democrático, a renúncia do reitor com criação de uma Estatuinte e eleições diretas, o fim dos processos administrativos contra professores e alunos e a não abertura de processos administrativos contra aqueles que ocuparam a reitoria. A questão da presença da PM no campus foi a que mais dividiu os alunos.

Além disso, foi aprovada a bandeira de abrir o movimento à sociedade civil, já que a segurança deve ser problematizada não só dentro da USP, e formados grupos de estudo para pesquisar a vida política de Rodas e para comparar a USP com outras universidades em relação à estrutura e plano de segurança. Haverá também um grupo responsável por trabalhar a mobilização na FEA.

Letras

A assembleia do matutino da Letras, realizada na quinta (17), definiu a não manutenção da greve no curso. No total, contando com os votos do período noturno, foram 500 votos contrários à greve e 399 a favor da sua manutenção.

A greve na Letras chegou a ter piquete físico com carteiras empilhadas, que foi desmontado pelos alunos que queriam assistir às aulas. Para esses alunos, “o piquete vai contra os direitos constitucionais de ir e vir”. Outros argumentaram que “o direito à greve também está na Constituição”. Os alunos defenderam a greve argumentando que se trata de uma ferramenta de pressão que funcionou em 2002 e em 2007 e que não exclui a possibilidade do diálogo nas negociações. A maioria dos presentes na Assembleia, porém, acredita que a mobilização pode acontecer em paralelo com as aulas e que há outras formas de reivindicar uma USP mais aberta e democrática.

Estudantes de Letras votam contra a greve (foto: Carolina Linhares)
Estudantes de Letras votam contra a greve (foto: Carolina Linhares)

Houve críticas à precarização do curso de Letras e à gestão do atual reitor. Os alunos questionaram também se a reforma no prédio do curso ficará pronta a tempo para o início das aulas no ano que vem. O prédio será fechado no próximo dia 12 e a reforma pretende atender as reivindicações de mais salas de aulas, espaço estudantil e acesso para deficientes. Outros encaminhamentos, como a proposta de paralisação na semana que vem, serão decididos em Assembleia na próxima terça-feira (22) às 12h e às 18h.

Psico

Os alunos de psicologia ainda não decidiram se vão aderir ou não à greve. Em assembleia que reuniu estudantes, professores e funcionários, foi aprovada a publicação de uma carta de repúdio à atuação da Polícia Militar durante a reintegração de posse, assinada pelas três categorias. “Repudiamos não apenas a brutalidade cometida neste episódio, mas toda instrumentalização da violência como forma imediata ou incontornável de manutenção da segurança pública”, diz a carta.

Os presentes também discutiram a questão da representatividade e legitimidade das assembleias que são realizadas na USP. A democracia na Universidade também foi pauta das discussões. A professora Maria Luisa Sandoval disse que a questão deve ser problematizada. “Não apenas debater eleições diretas para reitor, mas abrir tudo à comunidade. Os projetos de extensão foram extintos”.

Poli

Cerca de 250 pessoas estavam no Auditório da Mecânica nesta quinta-feira. Alunos que mostravam carteirinha da Poli ganhavam duas plaquinhas: uma verde e uma vermelha. Todos os presentes assinaram uma lista de presença, sendo que quem não era da Poli tinha uma lista separada.

Foram discutidos a presença da PM no campus e o treinamento da polícia voltado não só para a USP, mas para a sociedade também. Foi cobrado também um posicionamento da Poli, cujos alunos possuem o estereótipo de não serem politizados. Para tal, foi sugerido que se promovessem debates em horários que se ajustem às aulas.

Pós-graduação

Alunos da pós-graduação da USP capital decidiram com quais eixos das reivindicações estudantis estão de acordo. Os eixos “fora Rodas” e “novo plano de segurança” foram aprovados por consenso. “Greve”, “fora PM”, a “não perseguição e punição de funcionários e estudantes” e “estatuinte” passaram por votação, ganhando por contraste.

Opiniões contrárias à greve apontaram as especificidades que os alunos da pós possuem, como seu sistema de crédito e a entrega de relatórios a agências de pesquisa. Outra questão específica da pós é a escolha de delegados para o Comando de Greve, pelo fato de eles já possuírem o direito de votar em Assembleias de seu curso, e assim seriam contados duas vezes. No entanto, existem alunos cujos cursos não estão sendo contemplados. A votação foi favorável à escolha de delegados, onze no total.

Por fim, será criado de um grupo de estudo e trabalho sobre os estatutos da USP e da Polícia Militar, o primeiro datado de 1972 e o segundo de 1969. A próxima assembleia da pós-graduação está marcada para a próxima quarta-feira, dia 23, às 18h30 na Poli.

Assembleia dos alunos da pós-graduação da USP capital reuniu mais de 200 estudantes em 16 de novembro de 2011. O resultado foi favorável à greve. (foto: Ana Marques)
Assembleia dos alunos da pós-graduação da USP capital reuniu mais de 200 estudantes em 16 de novembro de 2011. O resultado foi favorável à greve. (foto: Ana Marques)

USP Ribeirão

A USP Ribeirão também se manifestou quanto à movimentação na capital: apoiaram a greve, os eixos de propostas e a organização de alguns atos no campus e no centro da cidade. Uma votação para decidir a greve chegou a ser aberta no fim da assembleia, mas não ocorreu devido ao quórum reduzido. As datas dos atos e manifestações ainda serão decididas por uma comissão criada com esse propósito.

 Colaboraram: Ana Carolina Marques, Ana Elisa Pinho, Carolina Linhares, Giovanna Rossin, Rafael Nascimento Carvalho, Ricardo Bomfim