Jogos Panamericanos: a gente vê por aqui?

A Record, que teve exclusividade para transmitir o Pan de 2011, promoveu intensamente os Jogos em sua programação. Já a rede Globo, que não possuía os direitos de exibição, deu pouco destaque ao evento. Esse comportamento chamou a atenção do público e dos atletas e também gerou grande discussão nas redes sociais. Nelas, se questionava até que ponto a transmissão do Pan refletia mais uma disputa por influência das emissoras do que propriamente uma celebração do esporte. Os responsáveis pelas centrais de comunicação da Globo e da Record foram entrevistados sobre o assunto.

Entrevistados:
Luis Erlanger – Diretor da Central Globo de Comunicação
Gilson Silveira – Coordenador de imprensa da Central Record

JC: A notícia de que a rede Record, e não a rede Globo, havia conquistado os direitos exclusivos para exibição dos Jogos Pan-Americanos de 2011 surpreendeu o público brasileiro. Como a emissora se vê diante dessa situação?
Globo: Primeiro, vale registrar que em praticamente todos os grandes eventos esportivos a Rede Globo não busca a exclusividade, tendo como prática oferecer parceria às demais redes. Quando isso não ocorre, normalmente é porque elas não têm interesse em participar dentro dos valores do mercado. A rede Bandeirantes, por exemplo,  é uma tradicional parceira no futebol. Até a Copa de 98, as emissoras brasileiras faziam a compra conjunta dos direitos, com divisão proporcional à sua participação na audiência, a partir de então, a Record resolveu disputar a exclusividade.
Record: A Record busca ser uma alternativa à concentração de audiência e conteúdo, que começou nos anos 70, na televisão brasileira. Nosso objetivo é oferecer conteúdo diferenciado em jornalismo, esporte, shows e dramaturgia. Assim, conquistamos a preferência do público a cada ano.

JC: Na abertura do Pan de 2007, a Globo exibiu matérias e chamadas em todos os seus telejornais ao longo do dia. Neste ano, a emissora fez uma chamada diminuta, com nota de 20 segundos no Jornal Nacional. A que se atribui essa aparentemente menor importância que vem sendo dada pela Globo se comparada a anos anteriores?
Globo: É mais que compreensível que, sem prejuízo da importância editorial, uma entidade dê mais destaque aos seus próprios eventos. Certamente, isso acontece até mesmo com o Jornal do Campus da ECA que deve abrir mais espaço às suas própria promoções, não? Mas, neste caso, objetivamente, temos de fato uma limitação imposta por não termos o direito do uso de imagem da competição. Como respeitamos regras, ficamos mesmo restritos a notícias apenas com texto. O que, por tabela, é pouco atraente para uma televisão.
Record: Foi uma opção esconder o Pan, quem deve julgar é o telespectador.

JC: No Twitter (como se vê abaixo), os telespectadores se dividem quanto à exibição do Pan. Como a emissora vê essas críticas? A repercussão foi realmente “um teste de influência social”, como disse um dos internautas?

Repercussão no Twitter  (arte: Mayara Teixeira)
Repercussão no Twitter (arte: Mayara Teixeira)

Globo: É impossível deixar de constatar que, por ser a emissora líder na preferência democrática da audiência, certamente pela qualidade percebida, nossas coberturas têm grande repercussão. Normalmente, positiva. O que interessa do ponto de vista da linha  editorial é que o brasileiro que assiste à Globo não deixou de ter nenhuma informação relevante sobre a competição.
Record: Acho que a cobertura do evento em jornais, portais de internet, emissoras de rádio e revistas, além de todas as emissoras de televisão aberta e fechada, com exceção de um grupo, refletiram a visibilidade que o evento conquistou com a exibição na Record, Record News e R7.

JC: A transmissão do Pan pela Record recebeu algumas críticas:

“Record exibe gravação do Pan como se fosse ao vivo e confunde telespectadores”. (Blog ‘UOL Esporte vê TV’)

“Com Pan, Record faz Galvão Bueno parecer um moço comedido”. (Folha.com)

“Não são só os atletas que buscam no Pan um aperfeiçoamento antes de Londres-2012. A Record também”. (Folha.com)

Diante dessas críticas, como podemos avaliar a estrutura e o preparo da Record para um evento de porte mundial?
Globo: Não nos cabe julgar o trabalho da concorrência. De nossa parte, podemos afirmar que nosso negócio é televisão e que nossos investimentos sempre são proporcionalmente superiores ao crescimento do mercado publicitário.
Record: A Record foi a primeira  emissora  de televisão aberta a mostrar os Jogos Olímpicos de Inverno. Tivemos muito sucesso e repercussão. A Record foi a primeira a projetar os Jogos Pan-americanos com o devido valor que a competição tem para os atletas de todo o continente. A repercussão revela o sucesso que tivemos em optar pelo apoio aos nossos atletas, aos patrocinadores dos esportes e ao movimento olímpico. Ninguém lembra que, em outras competições, quando outras emissoras tiveram exclusividade, as campanhas na internet e Twitter pediam que narradores e comentaristas mudassem, falassem menos e coisas assim?

JC: A Record acusou a Globo de usar imagens do Pan sem permissão em seus noticiários. Sobre essa apropriação indevida, Maurício Stycer, crítico do portal UOL, postou o seguinte em seu blog:

“O espectador que assistia ao telejornal [da Record] foi brindado com uma reprodução da reportagem do UOL Esporte que revelou a briga [entre as emissoras]. A edição, porém, não deu crédito ao UOL e escondeu a logomarca do portal.”

Criticar a Globo pela falta de créditos à Record e, em seguida, utilizar a reportagem do portal UOL sem citar a fonte não é uma atitude ambígua por parte da Record?
Globo: É curioso: somos criticados quando não abrimos espaço e criticados quando abrimos. Recebemos imagens de agência internacional sem embargo para o Brasil. Levamos ao ar dando os devidos créditos. Depois, é que a agência informou que cometera um erro e pediu desculpas publicamente. Um dos sonhos da Globo é que todos passem a respeitar o direito de imagem dos outros. Acho que não há dúvida de que somos a grande vítima nessa área.
Record: A reportagem falou da repercussão de modo geral, mostrando várias opiniões sobre o assunto.

JC: Com menor audiência que a emissora concorrente, a Record se viu pressionada no Pan. Os atletas e seus patrocinadores reclamaram que a exposição na Record era menor se comparada a que tinham na Globo em anos anteriores. Como a emissora vê essa situação?
Globo: Embora a gente pratique preços de mercado, a fórmula é fácil: o investimento tem que ser o mais compatível possível com o retorno publicitário, para que possa ao menos se pagar – é evidente que todos os envolvidos querem ter a melhor vitrine possível. Até para garantir a sustentabilidade do projeto, especialmente em esporte. Alíás, quando tentou ter sozinha o campeonato brasileiro de futebol, a concorrente sugeriu uma cláusula de deságio: os seus valores deveriam ser muito maiores que os nossos para justificar a perda de visibilidade, um desastre para qualquer evento. O ideal seria voltarmos à fórmula de consórcio na aquisição de direitos mas não fomos nós que rompemos com esse modelo.
Record: Os Jogos Pan-americanos nunca tiveram tanta exposição como na Record em 2011. Chegaremos a mais de 140 horas de transmissão na Record, e 300 na Record News. Em 2007, quando o Pan foi no Rio, a emissora G transmitiu 100 horas de Pan, a emissora B, 130 horas e nós 85 horas. Em 2003, a emissora G mostrou apenas 29 minutos de um evento do Pan de Santo Domingo, a emissora B não chegou a 60 horas. Ou seja, o que ouvimos dos atletas, dirigentes de confederações, torcedores, familiares dos atletas e dos patrocinadores é que nunca uma competição pan-americana teve tanta projeção e protagonismo. O Movimento Olímpico esteve na tela da Record em competições de vôlei, basquete, futebol, atletismo, ginástica artística, ginástica olímpica, patinação, natação, pólo aquático, boxe, tae kwon do, tênis, levantamento de peso, handebol, dezenas de modalidades. Diferente das outras emissoras que diante de um evento desse, concentram transmissões em vôlei e futebol, preocupadas apenas com a audiência. Por isso, já conquistamos os direitos de transmissão de mais um Pan-americano, o de 2019. A competição de 2015 também já é nossa. E vem aí a Olimpíada de Londres, evento exclusivo da Record.