Saída pela direita: uma análise da União Conservadora Cristã sobre a USP

Fundada por apenas três pessoas em agosto de 2010, a União Conservadora Cristã já tem mais de 20 membros e é vista como a extrema direita uspiana. Celso Zenaro, aluno da Geografia, e Arthur Quindos, ex-aluno da História, atual aluno de Ciências Sociais, são os fundadores da UCC que falaram ao Jornal do Campus. Entenda o que pensa a organização e confira seu posicionamento sobre os recentes acontecimentos na USP.

A direita pela direita

Jornal do Campus: Por que a decisão de criar a UCC?
UCC: Basicamente, os únicos grupos ideológicos que existiam dentro da Universidade eram a esquerda. Resolvemos formar um grupo para demonstrar que existe uma outra posição, representando o ideal conservador tradicional, para quebrar aquele tabu dizendo ‘somos de direita e cristãos’. Víamos que pessoas que apresentavam tendências de direita se sentiam consternadas em apresentar suas opiniões.
Quando falamos em movimento conservador, falamos em Edmund Burke, Russel Kirk, Roger Scruton, entre outros. Se as pessoas não têm sequer conhecimento de obras como as desses pensadores, não tem como debater conosco. Uma de nossas funções é divulgar esse pensamento – que, no Brasil, dialoga com a produção dos intelectuais católicos de até meados do século passado. Os pilares do conservadorismo são o liberalismo clássico e a tradição judaico-cristã. Não pregamos uma verdade absoluta que deve ser aplicada a todos os povos, mas a conservação do nosso legado civilizacional e seu sustentáculo maior, o cristianismo.

JC: Como vocês encaram a política dentro da USP?
UCC: O ponto fundamental é deixar claro não tínhamos qualquer intenção de vencer as eleições do DCE no ano passado. Nosso objetivo era divulgar a existência de nossa organização recém-fundada. Pudemos confirmar in loco como o movimento estudantil daqui camufla suas reais intenções na militância estudantil para o eleitor comum. Os participantes do movimento estudantil fazem um discurso falando das questões de infraestrutura da Universidade, de defasagem na contratação de professores. Sabemos muito bem que eles não estão preocupados com isso. Estão preocupados em promover a revolução mundial, destruir o Estado de Israel, com o movimento feminista e gay, e coisas do gênero. Na prática, o desenvolvimento deles com o DCE é pura representação ideológica. Os cursos vão continuar sem professores, a infraestrutura vai continuar precária.
A esquerda aqui, em geral, domina muito bem uma retórica que, se
você tentar dissecar, vai ver que é completamente vazia. Mas o estudante destreinado nessas técnicas acaba se deixando influenciar.
Não tínhamos a intenção de vencer porque o controle do DCE faz sentido para a esquerda dentro de uma estratégia maior. A totalidade do movimento estudantil no Brasil se dá, basicamente, pelo PCdoB, PSOL, algumas facções do PT, PSTU. O que faríamos no DCE?  Teríamos que aguentar pressão desses grupos de esquerda o ano todo, o que tornaria  a gestão completamente instável.
A esquerda no DCE é uma coisa menor. A questão maior é o domínio ideológico da esquerda na universidade, que acaba refletindo na sociedade, porque a universidade não é mais do que o tubo de ensaio para a política de amanhã.
Na FFLCH, os textos são majoritariamente literatura da esquerda. Você analisa o Lattes de professores de Humanas: todos os seus estudos têm vínculo com a tradição marxista. As pessoas não têm contato com o conservadorismo da forma como os conservadores se compreendem. A imagem que têm é a do adversário político. Quando debatem o conservadorismo, desconhecem o que ele é. A honestidade intelectual é a última das preocupações aqui. Temos referências teóricas que não são divulgadas pelos parâmetros curriculares impostos. Uma de nossas funções é tentar resgatar a vida intelectual na USP.
Em 2002, ficou definido que cada professor da FFLCH deveria ministrar pelo menos três turmas por ano. Em 2009, fizeram um levantamento: 20% dos professores davam menos de três aulas. Você pergunta se o professor já leu tal livro, e ele responde que não leu e não quer ler, porque é de direita. Não são professores comprometidos com a busca pela verdade, porque o servilismo ideológico é a prioridade entre eles.

 JC: E no Brasil? 
UCC: Outra corrente da esquerda, a ‘cultural’, desistiu das posições marxistas ortodoxas, como a ditadura do proletariado e a luta de classes. Começou a idolatrar os ditos marginais da sociedade: mulheres, homossexuais, usuários de drogas. A direita brasileira absorveu a esquerda cultural sem rastrear a origem dessas ideias. Porém, na FFLCH, a esquerda ignara acha que O Capital do Karl Marx é realmente científico e relevante.
As pessoas não julgam o PSDB como um partido de esquerda porque acham que esta se limita a uma meia dúzia de palavras bonitinhas que leram na escola: a esquerda quer o bem da sociedade, a igualdade total, liberdade, justiça para todos e blá blá blá.
No Brasil, o que estaria um pouco mais à direita hoje são os partidos liberais, o antigo PL e DEM. Eles fizeram alianças com partidos de esquerda: o DEM com o PSDB e o PL com o PT. A coerência política não prevalece.
Existem dois tipos de partido, ambos corruptos: os ideológicos – de esquerda – e os outros, que são simplesmente corruptos. Os partidos de esquerda compram os partidos corruptos. Para o PT passar suas plataformas, compra os outros partidos. Com isso, só vai existir um partido de verdade: o que mantém uma postura ideológica. No caso do Brasil, o PT.
Dizem que o Fernando Henrique Cardoso é de direita porque fez algumas privatizações, mas foram extremamente utilitaristas e tímidas. Ele fortaleceu o MST, é gramscista assumido, militante pró-liberalização das drogas. Se a direita for o PSDB, é claro que vão nos classificar como extrema direita. Mas, em Ciência Política, extremismo é tudo aquilo que prega a violência como método de ação política. Como as pessoas ignoram isso, não temos nenhum temor de sermos chamados de extremistas. Vemos até como uma reação natural, dadas as referências parcas que as pessoas têm. Somos conservadores cristãos, e isso é tudo.

JC: O que significa o cartaz da campanha da UCC para as eleições do DCE de 2010?
UCC: Fizemos uma campanha para promover nossa existência, e ela foi quase uma chapa de protesto, o que você observa pelo panfleto. Nosso objetivo foi impactar. As pessoas de esquerda nos odiaram ainda mais. Alguns estudantes mais conservadores viram aquilo da forma que deveriam ter visto, com humor, e foram nos procurar.
Houve uma deturpação do panfleto, como se pregássemos a fogueira para todas as pessoas da esquerda. Está bem claro: ‘seus ídolos queimam diante da verdade’.Os ‘ídolos’ são as figuras de representação do seu ideal político. ‘Queimam diante da verdade’ significa que seu pensamento está em desacordo com a realidade. Todas as pessoas que representam, de certa forma, o movimento revolucionário estão no panfleto.
Uma presença incômoda foi o Chico Buarque. Não o colocamos porque não gostamos de sua música, mas porque é um adulador profissional dos tiranos de esquerda, sobretudo Fidel Castro. A Revolução Cubana jamais teria a fama que tem sem gente como Chico Buarque, Oscar Niemayer e outros. Colocamos a Margaret Sanger, por exemplo, porque ela é uma militante pró aborto, que queria implementá-lo nos EUA para eliminar os negros. O movimento abortista, em sua essência, é praticamente indistinto das crenças eugenistas. Mas a esquerda cínica finge que não sabe.

Cartaz de divulgação da chapa da UCC para as eleições do DCE em 2010 (foto: divulgação)
Cartaz de divulgação da chapa da UCC para as eleições do DCE em 2010 (foto: divulgação)

JC: Como vocês explicam as acusações de que membros da UCC manifestam opiniões ofensivas, gritando no Crusp?
UCC: Conhecemos o autor dos gritos reproduzidos no áudio. Entretanto, ele não é e nunca foi membro da UCC. Já o vi gritar várias coisas politicamente incorretas, mas sobre negros e nordestinos – como a postagem infame [em blogs] faz o leitor ingênuo acreditar – jamais. Não apoiamos essa prática, nem como propaganda nem como manifestação de uma indignação qualquer.
Também estão publicando que a UCC espalhou cartazes pela USP e foi com um grupo de skinheads na reitoria chamar os esquerdistas para porrada. É tão imbecil que, quando isso foi publicado, a PM já tinha desocupado o prédio.
Os comunistas acham que estão o tempo todo ameaçados de morte. Se eles estudassem história, veriam que quem mais matou comunista foram os próprios comunistas. Se fossem espertos, teriam muito mais medo dos amigos deles do que de nós. Nós somos democratas liberais e conservadores cristãos. Temos muito mais respeito pela vida do que eles. Não tenha dúvida: se algum comunista, por exemplo, morrer de overdose de cocaína vão falar que fomos nós. A esquerda personifica o bem, e a direita personifica o mal.

O que pensa a UCC sobre os recentes acontecimentos

Jornal do Campus: Qual a visão de vocês sobre as ocupações?
Arthur Quindos: Somos completamente contrários. A ocupação não é simplesmente fechar o prédio: invadem, depredam, picham. Eles queimaram as bandeiras do Brasil e do Estado de São Paulo, um ultraje intolerável.
Celso Zenaro: É um método caricato e politicamente esgotado. O que nos espanta é a atenção que a mídia dá pra isso.

JC: Como vocês analisam a cobertura da mídia?
CZ: Sabemos que é uma geração formada por literatura de esquerda, acreditando que combatiam a tradição burguesa que oprimia a liberdade. Eles têm uma simpatia velada por esse tipo de ação. Um fator que não é considerado é a influência dos professores nesse processo. Há, por exemplo, na História, um conhecido apologista da liberação das drogas. Os professores são os mentores dos militantes submissos. Na minha primeira aula, na Geografia, o professor Heinz Dieter disse: “aqui vocês não vão aprender muita coisa, vocês vão aprender mais com a militância estudantil”. É a velha noção marxista de que a experiência revolucionária faz um revolucionário. Sabemos muito bem o que significa experiência revolucionária: matar, roubar, mentir para os outros e para si próprio. Tudo em nome do paraíso comunista.
AQ: Esse movimento é um nada, sejamos sinceros. A USP é uma universidade isolada do Brasil, 400 estudantes invadiram um prédio. Que importância isso tem no Jornal Nacional? Porém, em geral, a população está totalmente contra os ocupantes. Por mais posições ideológicas que a mídia tenha que manter, tem que vender jornal.

JC: Vocês viram o Crusp ser cercado?
CZ: O alarde em torno disso foi uma das coisas mais patéticas que já vi. Às 5h30, o pessoal começou a gritar “PM está aqui!”. Um leigo, que não conhece os transtornos psíquicos dessa gente, imaginaria que estávamos em uma favela ou em um presídio, e que a polícia chegou para matar todo mundo. Eles tentam forjar uma identidade coletiva que não existe. Até as pessoas que moram no Crusp são majoritariamente contra esse pessoal. Os policiais inteligentemente cercaram o prédio. Foi uma estratégia coerente para facilitar a operação. Achar que as bombas de gás lacrimogênio foram uma agressão desproporcional é típico dessa mitomania de esquerda.

JC: Para vocês, o que o movimento reivindica?
CZ: Tudo está calcado no imaginário da esquerda de que a força policial é uma força de repressão da classe dominante. Por exemplo, quando eles viram os policiais cercando a reitoria, fizeram aquela pantomima de entregar flores para eles. Na imprensa, esse tipo de imagem é transmitida como “alunos pregam paz contra a força bruta do Estado”. No ônibus que os levou à delegacia, havia um cartaz do Mao Tsé-Tung. Eles reclamam de violência, mas são os sujeitos mais violentos que o mundo já conheceu. Querem uma guarda revolucionária, formada por eles próprios, porque a guarda que os coíbe não é a guarda que os representa.
AQ: Vemos isso nos cartazes: “Policiais não são trabalhadores. São a mão armada do Estado”. Para eles, a distinção entre ditadura e democracia é quem está no poder. Se eles estiverem no poder, é democracia. Qualquer outro grupo no poder, é ditadura.

JC: Para vocês a polícia é repressão ou é segurança?
AQ: Ambos. Sem repressão, não há segurança. Não podemos ficar no disparate da “tolerância acima de tudo”. A questão é saber se a repressão é justa ou não.

JC: Vocês acham que a polícia reprime o movimento estudantil dentro da USP?
AQ: O que é o movimento estudantil? Se é um movimento que defende o tráfico de drogas aqui dentro, a polícia deve combatê-lo. O movimento não está discutindo os problemas da Universidade. Está aliado a uma atividade criminosa. Falam que o Estatuto da USP foi escrito pela mesma pessoa que escreveu o AI-5. O Estatuto pode estar errado ou defasado, mas não está em vigência. Ele proíbe grupos religiosos, há grupos de oração por aí. Proíbe divulgação política, há cartazes por aí. Proíbe organização política, existem partidos aqui.
CZ: Para mim a ideologia comunista, que é eminentemente criminosa, deveria ser proibida, por exemplo.

JC: O que vocês acham dos cinco eixos da greve?
AQ: Para discutir os processos administrativos, temos que saber qual é cada um. Pode ser que alguém esteja sofrendo algum tipo de retaliação indevida. Mas, a forma como eles expressam isso é aquele negócio de “nós podemos fazer tudo e nada pode ser feito contra nós porque somos estudantes”.
CZ: Eles chamam de “criminalização da atividade política”.  A atividade política ganha uma blindagem. Se é político, pode-se estar acima das leis.

JC: E quanto ao plano alternativo de segurança?
AQ: O DCE deveria manter reuniões periódicas com o sistema de segurança que já existe na USP. Por mais assaltados que sejam, os estudantes não têm o conhecimento técnico de uma equipe de segurança que sabe lidar com o problema.
CZ: Falou-se muito do excesso de contingente na intervenção da policia para que os alunos desocupassem a reitoria. Aquilo foi justamente para garantir a segurança dos que estavam ocupando o prédio.
AQ: Eles tinham rojões e coqueteis molotov lá dentro. Se a PM não os tivesse desalojado à noite, com certeza teria gente no hospital ou até morta. Foi uma estratégia muito inteligente.

JC: E quanto ao “Fora Rodas”?
AQ: Existe uma burocracia universitária, que se mantém há décadas na USP. É um jogo de politicagem e corrupção imenso. O fato de o reitor ser o Rodas ou qualquer outra pessoa não vai alterar todo esse esquema. A USP é uma farsa, esta é a realidade. O Rodas vai sair, outro vai entrar,  e isso vai se manter.

JC: Na opinião de vocês, existe alguma forma de quebrar essa ordem vigente?
AQ: A primeira coisa que tem que ser feita é falar o que é a Universidade. A USP consegue manter todo o esquema através da ideia de que é a melhor universidade do Brasil e da América Latina. Isso tem que ser denunciado. Eles mascaram com a produção de pós-graduação. E a graduação? A graduação aqui é um lixo.
CZ: Eles mostram aquele ranking das universidade como se fosse bonito. A USP está em 198°. O Brasil está entre as dez maiores economias do mundo e nossa melhor universidade está em 198°. Ser a melhor universidade brasileira tem a mesma significação de ser o melhor jogador de futebol das Filipinas.

JC: Mas o movimento estudantil também defende uma universidade mais aberta e democracia, coisas que superariam esse discurso da maconha.
AQ: Eles se veem como um grupo de pressão na sociedade, que tem que estar em permanente mobilização.  Qualquer coisa pode servir de estopim para eles, mas a razão que têm para execução das greves e dos piquetes, são sempre as mesmas.
CZ: Uma das reivindicações é que os alunos tenham voto na nomeação do reitor. Isso é um absurdo, pois se trata de um segmento que não possui vínculo de longo prazo com a universidade. Eles reclamam a democratização das vagas. Por um lado, reclamam da ostentação burguesa, mas querem que o pobre analfabeto tenha acesso à Universidade para poder ostentar isso. O fato é que a universidade não fornece educação – na melhor das hipóteses, formação técnica – e sim um diploma, que é uma mera representação socialmente aceita da mesma.

JC: O que vocês acham das assembleias? São legítimas e representativas?
CZ: A maioria dos alunos está ali por curiosidade. Calculo que 50% são curiosos e pessoas externas à USP (sindicalistas, alunos de outras universidades, militantes profissionais). Eles votam pautas como a greve estudantil, que é uma contradição em termos. Estudante não é uma categoria profissional, portanto, não pode fazer greve. Isso, por definição, não é legítimo. O movimento estudantil se confunde com as agendas da esquerda. É uma paródia daquilo que era há quarenta anos. Nem deveria existir. Os alunos deveriam estudar um pouco mais e parar de opinar sobre coisas que não sabem.
AQ: Seriam legítimas se houvesse uma organização política para tratar de temas relevantes aos cursos. Mas como fazer isso com 50 mil estudantes na USP? DCE é uma palhaçada. Sempre acontece a mesma coisa: eles convocam todo o campus para as assembleias, mas quantas pessoas estão presentes? O grupo deles, sempre aqueles mesmos 300 ou 400, que vão deliberar pelo que o DCE quer.

JC: Tem-se discutido o fato de a USP ser fechada. Vocês acreditam que ela seja mesmo isolada da sociedade?
CZ: Eles não têm envergadura moral para falar em fechamento porque vivem em uma ilha mental. Após decorar uma dúzia de chavões imbecis, se sentem a vanguarda intelectual destinada a iluminar a massa alienada. Eles jamais tentaram criar um canal de comunicação efetivo com a sociedade. Sobre o aspecto geográfico da coisa, o muro que separa a USP do Jardim São Remo é totalmente necessário.
AQ: Eu estimo que os delinquentes [oriundos da São Remo] são minoria, como acontece na maioria das favelas, onde os moradores vivem reféns do tráfico. Mas, se eles são originários dali, é uma medida preventiva cercar o acesso dessas pessoas à USP. Não são preconceitos, são fatos. Temos que admitir que os traficantes estão dentro dessas comunidades. Além disso, boa parte dos projetos universitários que têm alguma integração com a sociedade são boicotados pelo próprio movimento estudantil. Por exemplo, a empresa júnior das Ciências Sociais foi boicotada durante anos, com a desculpa de que a USP serviria aos interesses capitalistas. Quando alguém tenta dialogar, eles não aceitam o método.