Guarda Universitária retira ocupantes e leva objetos do Centro de Vivência

Integrantes da Guarda Universitária se dirigiram na quinta (5) à noite ao Centro de Vivência da USP (localizado em frente ao restaurante central) e retiraram pessoas que ocupavam o prédio há cerca de um mês. Além dos ocupantes, a Guarda levou objetos do prédio, como geladeiras, mesas e cadeiras.

Segundo matéria publicada no jornal O Estado de São Paulo (OESP) em 4/1, os ocupantes não eram estudantes da Universidade – informação confirmada por estudantes presentes no local na sexta (6). Moradores do Crusp (Conjunto Residencial da USP), porém, contam que a Guarda Universitária chegou nesta quinta por volta das 18h e passou a madrugada cercando o local.

De acordo com o 1º tenente Moreira, a Polícia Militar foi acionada após aviso de desentendimentos entre a Guarda Universitária e estudantes hoje à tarde. Moradores do Crusp, porém, disseram ter visto policiais militares entrarem no prédio ontem (5/1), junto com a Guarda Universitária. Os estudantes disseram que os policiais não tinham mandado para entrar no prédio. André Dias, soldado da Polícia Militar, confirma. “Se trata de um espaço público. Não precisa de mandado”

Porta da cozinha com a tranca danificada. Guarda Universitária levou um freezer e duas geladeiras do local (foto: Fernando Maluf)
Porta da cozinha com a tranca danificada. Guarda Universitária levou um freezer e duas geladeiras do local (foto: Fernando Maluf)

Nesta sexta (6), por volta das 15h, policiais militares armados entraram no prédio para checar as condições do local. Três cadeados de uma porta lateral do prédio foram arrancados. Estudantes afirmaram terem recolocado alguns cadeados, mas hoje houve novo arrombamento, da porta da “cozinha”. Foram levadas mesas, cadeiras, um freezer, duas geladeiras e tintas (que seriam utilizadas para pintar as paredes do prédio, como disse uma estudante que preferiu não se identificar).

De acordo com a Guarda Universitária, os objetos retirados do prédio foram levados para a Cocesp (Coordenadoria do Campus da Capital). “Todos os itens foram catalogados e serão devolvidos a quem os procurar”, afirmou um integrante (sem identificação) da Guarda Universitária, presente no local. Por volta das 17h, uma advogada dos estudantes, que não quis se identificar, disse que a concessão do prédio (da reitoria para o DCE) precisa ser analisada e é preciso elaborar uma lista dos objetos que foram levados pela Guarda Universitária.

Segundo Gabriel Lindenbach, membro da antiga gestão da entidade e integrante da atual comissão gestora do DCE (Diretório Central dos Estudantes) presente no local, a entidade representativa dos estudantes não recebeu notificação sobre a entrada da Guarda Universitária para levar os objetos. De acordo com Luiz Gouveia, assessor do gabinete da Reitoria, a medida se refere à reforma do espaço, que será feita pela reitoria. Perguntado sobre a reforma, Gouveia afirmou que “ela ainda vai ser programada“.

Uma estudante do curso de Letras disse ter sofrido agressão – alegou ter sido empurrada. Aconselhada pelo tenente Moreira a prestar queixa no 93º DP, a estudante disse que não iria à Delegacia por temer represálias. “Tenho medo. Não sei se isso vai me prejudicar, se vão usar isso para me perseguir depois. Preciso falar com o meu  advogado antes”. Outros estudantes entrevistados pela reportagem pediram para não ser identificados, temendo futuros processos administrativos ou punições.

A Polícia Militar levou um representante da Guarda Universitária para o 93º Distrito Policial para registrar o ocorrido. Os alunos também deveriam enviar um representante, mas preferiram aguardar a chegada da advogada para tomar providências. “Estamos com medo de ser criminalizados depois. Por isso, temos que falar com um advogado antes”, disse um estudante do curso de Letras, morador do Crusp.

Após a averiguação pela Polícia Militar, o local foi fechado com tapumes de madeira. Segundo assessor da reitoria, o prédio  será reformado (foto: Fernando Maulf)
Após a averiguação pela Polícia Militar, o local foi fechado com tapumes de madeira. Segundo assessor da reitoria, o prédio será reformado (foto: Fernando Maulf)
Histórico do prédio

O Centro de Vivência da USP abrigava as sedes do DCE e da Associação de Pós-Graduandos da USP (APG), além da Farmácia Universitária e áreas para a instalação de lanchonetes, papelaria, copiadora e lojas. Em 2006, o prédio foi fechado pela reitoria para reforma. Em matéria publicada pelo G1 em 24/9/2009, Gabriel Casoni, diretor do DCE na época, afirmou que a autonomia política e financeira dos estudantes sobre o espaço seria prejudicada. A causa era a proposta da reitoria de reajuste dos aluguéis das lojas e restaurantes, que seriam destinados à universidade (e não mais à entidade, que ficaria com algumas pequenas salas). O fato motivou a ocupação do prédio pelos estudantes. À época, a reitoria respondeu que a reforma foi concluída em 4/2/2009 e, após propor ao DCE um termo de autorização para uso do espaço, tentou agendar reuniões com representantes da entidade, mas não obteve resposta. Hoje, o prédio é usado para reuniões do movimento estudantil e festas.

Interior do Centro de Vivência da USP, prédio que estava sendo ocupado por não-estudantes há cerca de um mês (foto: Fernando Maluf)
Interior do Centro de Vivência da USP, prédio que estava sendo ocupado por não-estudantes há cerca de um mês (foto: Fernando Maluf)