Debates entre chapas para o DCE são realizados em três locais diferentes

Na véspera das eleições para o DCE (Diretório Central dos Estudantes) da USP, aconteceram três debates entre as cinco chapas concorrentes. O primeiro debate do dia, organizado pelo Grêmio Politécnico, contou com uma plateia rotativa de mais de 250 pessoas. O evento começou às 11h, no anfiteatro amarelo do prédio do Biênio da Escola Politécnica, e teve a participação de dois representantes de cada uma das chapas.

Karoline Costal, diretora de projetos do Grêmio, afirma que a iniciativa de organizar um debate na Poli é uma tentativa de mobilizar os estudantes que geralmente não participam das discussões políticas. “O público foi em sua maior parte formado por politécnicos e que poucos deles compareceram no debate da FFLCH”, comenta, mencionando o encontro organizado pelo Centro Acadêmico de Filosofia que ocorreu hoje, às 17h, no Auditório do Departamento de História. Às 19h também houve um outro debate, na Sala dos Estudantes da Faculdade de Direito da USP.

Público do debate realizado no anfiteatro amarelo do prédio do Biênio da Escola Politécnica (foto: Victória Cirino)
Público do debate realizado no anfiteatro amarelo do prédio do Biênio da Escola Politécnica (foto: Victória Cirino)

No encontro da FFLCH, o público dentro do auditório era de mais de 200 alunos. Foi instalado também um telão com microfone para as pessoas que estavam do lado de fora. Os ânimos estavam mais exaltados neste debate: frequentemente comentários ou reações da plateia dificultavam a compreensão da fala das chapas. Os candidatos fizeram perguntas diretivas aos concorrentes sobre temas diversos, enquanto no debate da Poli os temas foram sugeridos pelo Grêmio.

A chapa “Reação” enfrentou críticas das outras quatro, envolvendo principalmente a questão de ela mascarar suas preferências políticas por trás das declarações de apartidarismo e de abertura ao diálogo com os alunos. Ela é favorável à consulta plebiscitária, pois acredita que assembléias passadas de 3 mil alunos não foram representativas. A candidata “Quem vem com tudo não cansa” criticou esse discurso de neutralidade, defendendo que é mais adequado os candidatos da chapa declararem abertamente sua filiação ou preferência partidária a se dizerem apartidários.

O auditório do departamento de História da FFLCH estava lotado no segundo debate do dia (foto: Victória Cirino)
O auditório do departamento de História da FFLCH estava lotado no segundo debate do dia (foto: Victória Cirino)

A chapa “27 de outubro” recebeu esse nome pelo dia no qual ocorreram as prisões de três estudantes na FFLCH, ocorrido que impulsionou as ocupações da diretoria da Faculdade e da reitoria. Ela alega ser a única que possui integrantes que foram presos por sua militância estudantil. João André Silva, estudante de Letras que representou a chapa no evento político, afirma que o grupo conta com membros de diversos partidos e também estudantes independentes. Com uma opinião bem diferente sobre a greve como instrumento estudantil, Caio Gaya, estudante da Escola Politécnica e membro da “Reação”, disse que os membros da chapa não pretendem depredar patrimônio público ou impedir os alunos de terem aula, direcionando sua acusação de maneira indireta às chapas concorrentes. Gaya também se referiu ao grupo de atuais membros do movimento estudantil como “corja”.

Arielli Moreira, estudante de Letras, que representou a “Não vou me adaptar” em dois debates, afirma que o atual reitor, João Grandino Rodas, se mostra incapaz de conduzir a Universidade sem tomar medidas antidemocráticas, o que seria combatido por meio de eleições diretas para reitor. Para a chapa, o DCE precisa ser independente da reitoria para atender às demandas estudantis. A mudança na escolha do reitor é aprovada também pelas chapas “Quem vem com tudo não cansa”, “27 de outubro” e “Universidade em movimento”.

A chapa “Universidade em movimento” afirmou que sua proposta concreta é a de aglutinar estudantes em conjunto com os centros acadêmicos, de tal forma que os estudantes se sintam sujeitos ativos na melhoria da qualidade da Universidade. Todas as chapas concordam na necessidade do aumento da representatividade discente nos conselhos e instâncias burocráticas da USP.

Em todos os debates, cada chapa foi representada por dois integrantes (foto: Victória Cirino)
Em todos os debates, cada chapa foi representada por dois integrantes (foto: Victória Cirino)

A falta de segurança dentro da CUASO (Cidade Universitária Armando Salles de Oliveira) também foi um assunto presente nos debates. Algumas chapas, como a “27 de outubro” e a “Não vou me adaptar”, se posicionam contra a presença da Polícia Militar. A “Universidade em movimento” defende um plano de segurança alternativo. A chapa “Reação” afirmou que existem divergências entre seus membros quanto à necessidade do policiamento militar e, portanto, não se declarou abertamente contrária ou favorável a questão do convênio com a PM. Em sua carta programa, entretanto, ela defende a presença da polícia no campus.

A “Reação” propõe um sistema de financiamento universitário que já acontece na Poli chamado “Endowment”, no qual instituições e ex-alunos doam dinheiro para pesquisas que será administrado por uma empresa, que aplica esse fundo no mercado financeiro. Os lucros dessas aplicações irão para projetos de pesquisa, sujeitos a aprovação de um conselho. As outras quatro chapas não aprovam esse tipo de iniciativa, que, segundo a “27 de outubro”, seria o caminho para a privatização da Universidade. Uma das reivindicações da “Quem vem com tudo não cansa” é o repasse para a educação pública de 50% dos royalties da exploração do pré-sal.

Quanto à questão da mulher na USP, todas as chapas foram unânimes na importância da discussão da questão do preconceito de gênero que acontece dentro e fora da USP. A chapa “27 de outubro” mencionou a necessidade de combater os trotes violentos que fazem as mulheres passarem por situações humilhantes.

Aluno dialoga com chapas no debate da Faculdade de Direito (foto: Rodrigo Arriagada Vianna)
Aluno dialoga com chapas no debate da Faculdade de Direito (foto: Rodrigo Arriagada Vianna)

Na Faculdade de Direito, também, foram discutidos temas como o Assembleísmo, segurança, cotas e machismo. Mas a questão mais relevante foi a necessidade de uma Estatuinte, reunião para rediscutir, reformular e votar um novo Estatuto para a USP. O grito de guerra “Fora Rodas” também ecoou no debate e continua a existir como proposta entre as chapas. Entretanto, não há apenas como se discutir a retirada do Reitor sem propor alterações no Estatuto da Universidade, dizem os debatedores. E uma das principais mudanças é a forma de se eleger o Reitor. Para todos, a eleição deve ser direta, democrática e não com base em uma lista tríplice de um órgão colegiado em que o governador pode escolher o segundo ou terceiro da lista sem considerar os anseios de quem realmente faz parte da Universidade.

E para que haja mudanças a estatuinte deve ser convocada e suas decisões devem ser soberanas. A questão mais debatida dentro desta temática foi a forma de participação de alunos, funcionários e professores. Enquanto a chapa “Reação” propunha a ideia de um homem equivaler a um voto, a chapa “USP em movimentos” pedia por maior peso sobre o voto de alunos, sendo proporcional à quantidade de estudantes da Universidade. As demais pediram pela paridade entre as três categorias.

O destaque, entretanto, não foi para qualquer uma das chapas, mas para o morador de rua, Bezerra, velho conhecido dos São Franciscanos que aos brados, dizendo ser representante do povo disse que o papel dos estudantes ali presentes era, antes de mais nada, reformar o ser humano, a sociedade. As eleições para o DCE ocorrem nos dias 27, 28 e 29 de março.