Falecido aos 69 anos, César Ades é homenageado por colegas, alunos e admiradores

Professor do IP mantinha relação próxima com toda a unidade desde a década de 1960

As fotos no site do Instituto de Psicologia (IP) mostram o professor César Ades em momentos de sua vida e carreira. Abraçado com funcionários e alunos no corredor entre os departamentos da unidade, dando aulas, com tinta no rosto no dia da matrícula dos calouros. A homenagem, feita após seu falecimento na noite da última quarta-feira, 14, ficará por uma semana na página do IP.

O professor César Ades na recepção dos calouros do IP (foto: Atlética IPUSP)
O professor César Ades na recepção dos calouros do IP (foto: Atlética IPUSP)

O professor estava internado desde o dia 8, quando foi atropelado enquanto fazia caminhada na Av. Brigadeiro Luís Antônio, às 7 horas. Ele sofreu traumatismo craniano e toráxico. Estava sem documentos e foi internado como indigente até domingo (dia 11), quando sua família conseguiu localizá-lo, pois ele conseguiu dizer o nome “César”. Ele recebeu tratamento no setor de Traumatologia do Hospital das Clínicas, onde passou por quatro procedimentos cirúrgicos. Na terça-feira, foi identificada morte cerebral. No dia seguinte, Ades faleceu.

Aulas e demais atividades foram suspensas na quinta-feira do dia 15 e o corpo do pesquisador foi velado numa sala da biblioteca Dante Moreira Leite, da Psicologia. O local teve um significado especial, já que ele era visto pelos colegas como pertencente à classe dos “ratos de biblioteca”, dada sua intensa produção científica. A sala também era o lugar onde se realizavam as apresentações dos trabalhos da disciplina “Motivação e emoção”, criada por Ades.

Coroas de flores chegaram de diversos locais, desde o Laboratório de Psicologia Experimental da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) até o Instituto Universitário de Lisboa, em Portugal. O professor era respeitado nacional e internacionalmente pelas pesquisas que realizou principalmente na área de comportamento animal.

César Ades não era pesquisador de um único tema. Estudava a comunicação entre cachorros e humanos, o ciúme de jovens adultos e abordava até mesmo questões filosóficas. “Ele costumava dizer que a linha de pesquisa dele era a curiosidade”, lembra a professora Emma Otta, atual diretora do IP e uma das primeiras orientandas do docente.

Maria Helena Hunziker, antiga chefe do departamento de Ades e sua colega no Comitê de Ética e Pesquisa com Animais do IP, afirma que o professor possuía diversas linhas de pesquisa. “Ele trabalhou com aranhas durante muito tempo, com macacos, com cachorros. A projeção dele era realmente internacional, eu diria que das pessoas aqui do departamento ele era a que tinha uma projeção maior”, afirma Hunziker. “Atualmente, ele era o etólogo número um do Brasil”.

Ades era querido pela unidade e transitava por vários grupos. Apesar de ter sido diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA) de 2008 a 2012, ele não abandonou disciplinas na graduação e continuou a orientar mestrandos e doutorandos. Com o término de seu mandato, estava animado pois poderia se dedicar mais às atividades em sua unidade. No ensino, na pesquisa, na convivência, transmitia alegria: “nunca o vi de mau humor, ele sempre chegava nos lugares cumprimentando a todos”, diz Zulmira Parras, assistente financeira do IP.

Falecido aos 69 anos, Cesar Ades também foi vice-diretor e, posteriormente, diretor do IP. Fundou a Sociedade Brasileira de Etologia e era editor da Revista de Etologia.

Errata
Foi publicado anteriormente que o professor já estava aposentado, mas esta informação é equivocada. César Ades ainda não havia se aposentado quando faleceu.