Ciclistas desafiam trânsito caótico em São Paulo

Manifestações a favor do uso da bicicleta como meio de transporte buscam discutir a falta de respeito e de sinalização adequada no trânsito das metrópoles

Em meio ao trânsito caótico de São Paulo, cresce o número de ciclistas e o de acidentes. A bicicleta ganha as ruas sob a ótica de um meio de transporte limpo e saudável. Quem a utiliza, no entanto, sofre com a violência do tráfego das metrópoles. Casos como o recente atropelamento da ciclista Juliana Dias, na Av. Paulista, acontecem em todo o mundo e sensibilizam quem busca mais espaço nas ruas para pedalar com segurança.

Manifestações em prol de maior respeito e sinalização adequada acontecem em países como Chile, Peru e África do Sul. Na própria Av. Paulista, mais de 500 ciclistas deram início à “Pedalada Pelada” que partiu da Praça do Ciclista, sem um trajeto prévio ou horário para terminar. A convocação para o evento, ocorrido em 10 de março, foi feita por meio de redes sociais.

Na passeata, ciclistas se fantasiaram com máscaras de Guerra nas Estrelas, cabeças de melancia, pinturas corporais, seminus e nus. Yoshi Tatsumo, engenheiro elétrico, reclama da capa de invisibilidade que os ciclistas parecem ter para os motoristas: “Eles não prestam atenção em nós, parecem não perceber que estamos na rua e que somos mais frágeis do que um carro ou ônibus. O objetivo da manifestação é chocar, mas de forma pacífica, pedindo mais educação”, argumenta.

Cicloativistas fazem manifestação pacífica (foto: Rodrigo Arriagada Vianna)
Cicloativistas fazem manifestação pacífica (foto: Rodrigo Arriagada Vianna)

Sem líderes

Ao serem questionados pela polícia quanto à liderança do evento, os manifestantes brincavam gritando uns para os outros: “quem é o líder?”. O cicloativismo no Brasil, como em outras partes do mundo, é um movimento horizontal, ou seja, sem líderes, nem coordenação.

“As pessoas se juntam para andar de bicicleta porque gostam ou porque se sentem mais seguras em grupo, mas não há um comando, há apenas o prazer de andar de bicicleta”, diz Roberto Rocha, produtor paulistano. Ele considera que um dos maiores problemas para os cicloativistas é a falta de visão da sociedade quanto ao que seja o movimento: “as pessoas consideram que a rua não é lugar de bicicletas e que estas deveriam ficar restritas aos parques”, afirma.

Por mais segurança

No entanto, a maior reivindicação de quem participa do movimento é mais segurança e melhores condições de mobilidade no trânsito para quem deseja utilizar a bicicleta como meio de transporte ou como fonte de lazer. De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo, este trabalho de convivência pacífica entre ciclistas e motoristas tem sido feito há dois anos.

A prefeitura tem investido em infraestrutura exclusiva para os ciclistas, como implantação de novos 55 quilômetros de ciclovias, ciclofaixas, calçadas compartilhadas entre pedestres e ciclistas e rotas de bicicletas, em geral, localizadas próximas às rotas do metrô. Porém, Tatsumo diz que “a questão não é criar mais ciclovias ou rotas para bicicletas, mesmo porque isto apenas restringe o espaço e o horário em que os ciclistas podem se movimentar pela cidade. Há a necessidade de uma verdadeira e forte campanha educativa”.