Em reunião com Adusp, Reitor propõe acordo a respeito de interpelação judicial

Leia a carta-resposta da Adusp publicada na edição 392 do JC.

No dia 2 de março, a Diretoria da Associação de Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp) foi surpreendida com a notícia de que seria interpelada judicialmente pelo Reitor da Universidade de São Paulo, João Grandino Rodas, para esclarecer as afirmações feitas no edital do jornal O Estado de São Paulo, de 25 de fevereiro deste ano.

Indignada com o que considera falta de transparência das medidas tomadas pelo Reitor, a Associação dos Docentes questiona a forma de gerenciamento das verbas da Universidade e o destino final a ela reservado. A dúvida ao invés de trazer explicações por parte da reitoria, no entanto, levou a que professores constituintes da Diretoria da Adusp venham, nos próximos dias, a receber notificação para comparecer na justiça criminal e prestar esclarecimentos sobre as afirmações de “desvio de verbas acadêmicas para construções”, ou se retratarem, sob pena de ação penal de difamação.

De acordo com o editorial, o questionamento quanto à postura de gerenciamento da universidade pelo reitor não é único. O maior problema, no entanto, para a Adusp é a falta de transparência da administração da Universidade quanto à remoção de diversos funcionários do campus de Pinheiros para outros locais fora da cidade universitária (em geral bairros nobres) e o investimento na realização de reformas e construção de novos prédios dentro e fora do campus. Dinheiro que deveria, de acordo com a Associação, ser destinado tanto para a renovação do quadro de docentes da Universidade, quanto para a reciclagem e reposição de equipamentos essenciais às aulas.

A gota d’água para esta manifestação foi a implementação da proposta de Telma Zorn, pró-reitora de graduação da USP, aprovada no Conselho de Graduação (CoG) que prevê a criação de um programa de premiação dos professores mais bem pontuados em avaliação de desempenho do docente. Entre os prêmios estariam computadores portáteis e viagens para Congressos a fim de incentivar produtividade dos professores e valorizar a graduação. E que os professores consideraram uma forma de tornar a Universidade em um grande show de brindes por bom comportamento.

Após a abertura da interpelação judicial, quando contactada pelo Jornal do Campus, a Diretoria da Adusp disse não querer se pronunciar quanto ao fato. “Tudo o que poderia ser dito, já está disponível on line, no Informativo 341 da Adusp, de 19 de março”, foi o que informou uma fonte que preferiu não se identificar. Para eles, a atitude tomada pelo Reitor é repulsiva. Em manifesto público aprovado pelo Conselho de Representantes da Adusp e também constante do informativo, a entidade mostra seu repúdio aos atos ditatoriais do reitor e critica não só “o comportamento, mas a tentativa de criminalização de docentes da academia e digna de quem quer intimidar e cercear a liberdade de expressão e de pensamento de quaisquer fontes de oposição na Universidade.”

A mesma instituição ironiza, no informe, que seria muito bom ter um Reitor com princípios norteadores como o diálogo amplo, permanente, s istemático,transparente, democrático e responsável. E relembra que estas eram as diretrizes da campanha e de gestão do atual Reitor.

A ata disponível no informativo 342, da reunião de 3 de abril entre a Adusp e o reitor descreve que foi firmado compromisso entre as partes de que estas deveriam tentar se ajudar na solução dos conflitos dentro da universidade. Quanto à interpelação judicial, o reitor se disponibilizou a assinar um conjunto com a diretoria documento que poria fim à questão. Em contato com a Adusp, o JC tomou conhecimento de que os professores citados na interpelação judicial ainda não foram notificados para prestarem esclarecimentos oficiais em juízo. Mas que nada ainda foi decidido à respeito do documento sugerido pelo Reitor na recente reunião entre eles. Contactada, a Assessoria de Imprensa da USP não quis se pronunciar sobre o assunto.

Em seminário, alunos e Adusp discutem democracia na USP (foto: Rodrigo Arriagada)
Em seminário, alunos e Adusp discutem democracia na USP (foto: Rodrigo Arriagada)