Obras no campus ameaçam espécies raras de vegetação

Na região das obras para a construção da Praça dos Museus e do novo Centro de Convenções, próximo à portaria 3 do campus, foram encontradas cerca de 10 espécies raras de vegetação de cerrado. Por conta das obras, a Superintendência de Gestão Ambiental da USP autorizou, em setembro de 2011, o corte de cerca de 1300 árvores, inclusive na área das espécies recém-descobertas. Desde então, o biólogo e mestrando do Instituto de Biociências (IB) Ricardo Cardim tenta transformar a região em um museu vivo, para a preservação de sua biodiversidade.

A derrubada da vegetação foi feita em um Projeto de Compensação Ambiental, que prevê o plantio das espécies arbóreas nativas, inclusive as ameaçadas de extinção. Em nota oficial, a reitoria diz que 83,2% das árvores a serem cortadas são espécies exóticas. O que Cardim contesta é que na região existem espécies nativas (e não-arbóreas) de valor histórico e científico, além da especificidade de só se encontrarem nesta região da cidade. “Essa vegetação nativa equivale, em plantas, a um mico-leão-dourado, tamanha sua importância e necessidade de preservação”, diz. O biólogo conta que descobriu as espécies em 2010 e logo em seguida comunicou o fato aos professores do Departamento de Botânica do IB, que o apoiaram na ideia de transformar a área em local de pesquisa. Ao comunicar ao Superintendente de Gestão Ambiental da USP, professor Wellington Delitti, Cardim alega ter recebido apoio e a promessa de que a região viraria um museu vivo. “Mas até agora aparentemente nada foi feito. E já destruíram uma parte para construir o Centro de Convenções, estamos lutando agora para preservar a amostra que sobrou”. Procurado pela equipe do Jornal do Campus, o professor Wellington Delitti ainda não havia respondido até o fechamento dessa edição.

Na mesma nota oficial sobre o corte das árvores, a Superintendência de Gestão Ambiental diz que as espécies arbóreas nativas serão compensadas e que sua densidade na verdade aumentará de 1592 para 7000 árvores, mas não há especificação do prazo para que isso aconteça e nem do local de compensação. No caso das espécies de cerrado, que não são arbóreas, a compensação ambiental seria feita com o manejo e a manutenção delas na própria área. Ou seja, ao invés de plantar as espécies em outro lugar, a ideia é cuidar do que sobrou. O projeto de manejo e manutenção foi aprovado pela universidade e encaminhado para a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, mas ainda não há um prazo para a conclusão. Caso seja efetivado, a região será cercada, mas as obras não precisarão ser paralisadas. Além da região que está em obras, as espécies também foram encontradas próximas à caixa d’água do  Instituto de Ciências Biomédicas (ICB).

Para Ricardo Cardim, a USP fica em uma situação complicada caso não haja a preservação dessas espécies, que só são registradas naquele território. ‘Elas são tão importantes quanto um monumento construído, e se a universidade não cuida de sua própria biodiversidade, fica difícil falar sobre a preservação do patrimônio do resto do país”.

Com a construção do Centro de Convenções, parte da área já foi devastada (foto: Ricardo Cardim)
Com a construção do Centro de Convenções, parte da área já foi devastada (foto: Ricardo Cardim)

A assessoria de imprensa da USP informa que:

A Superintendência de Gestão Ambiental da USP não tem competência para autorizar a remoção de árvores. Isso cabe no município de São Paulo à Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA). Na área de campo cerrado identificada na região não foi exigida compensação ambiental específica, por não estar prevista em lei a compensação para vegetação herbácea e subarbustiva. No entanto, após alertada sobre a existência dessa vegetação, a Superintendência de Gestão Ambiental providenciou três medidas à sua proteção: 1) o replantio de parte dos indivíduos removidos para área próxima e com vegetação semelhante, no Jardim do Instituto de Biociências – esse replantio foi realizado imediatamente à retirada dos indivíduos por funcionários e estagiários da Prefeitura da USP; 2) envio de cerca de 450 plantas de espécies variadas, também retiradas do mesmo local, ao Viveiro Manequinho Lopes, da SVMA, para reprodução e repovoamento de áreas de cerrado próximas, como o recentemente criado Parque Dr. Alfred Usteri, na região do Jaguaré; 3) preservação de parte da área do campo cerrado para sua manutenção como um “museu vivo”, com fins didáticos para os visitantes do Centro de Convenções. Esse museu vivo, no entanto, só poderá ser feito após o término das obras. Por enquanto, a área encontra-se demarcada e isolada ao acesso dos trabalhadores e do público em geral.

A resposta da assessoria de imprensa da USP foi enviada após a publicação da edição 391 (abril/2012) do JC e acrescentada à versão eletrônica do jornal em 10/05/2012.