Reitoria segrega pobreza no campus

O Jornal do Campus acerta ao eleger, como tema central da edição 390, as modificações pelas quais passa o transporte gratuito da USP. Tanto a reportagem, quanto as entrevistas da página 2 deixam claro para o leitor, o que está por trás da determinação da reitoria ao extinguir a gratuidade na frota de circulares para pessoas que não pertencem à comunidade universitária.

As informações fornecidas permitem que se construa uma opinião a respeito do assunto. Mas cabia um box com a história do circular na USP. A maioria dos usuários deve desconhecer que os coletivos da Universidade circulavam fora campus até o início dos anos 1990. O
ponto final era quase em frente ao Rei das Batidas (barzinho localizado na avenida Valdemar Ferreira), próximo à atual estação Butantã do metrô. À época a USP contava com três linhas de circulares. Décadas antes, os coletivos da Universidade chegaram a percorrer ruas e avenidas do centro da capital paulista.

A pauta do Jornal também acertou ao enfocar as mudanças pelas quais a pós-graduação da USP passará. A matéria poderia, no entanto, ter dado destaque para uma informação importante, que ficou perdida no meio do texto, sobre a supressão do artigo do regimento que impede a cobrança de taxas dos estudantes. Faltou explicar o que isso de fato representa se for colocado em prática pela reitoria. O lead acabou assumindo uma posição ufanista em relação à proposta apresentada pela administração da Universidade.

Uma boa reportagem joga luz sobre a atitude autoritária da reitoria da USP de construir um novo prédio para abrigar a ECA sem ouvir a parte interessada (estudantes, funcionários e professores da Unidade) na questão. O que está por trás da decisão da construção da nova edificação, quem ganha e quanto ganhará, pode ser trabalhado em edições futuras. As fotos que ilustram a matéria e que deveriam harmonizar a leitura acabam por truncar a compreensão do texto da forma como foram disponibilizadas na página.

O destaque negativo da edição vai para o pouco espaço dado ao registro da morte de um dos mais respeitados intelectuais brasileiros. O professor e geógrafo Aziz Ab’Saber,  reconhecido internacionalmente como uma das mentes mais brilhantes de sua área, merecia uma matéria robustecida, mesmo que o tempo para sua produção fosse minguado.

Em Tempo. Ao contrário do que foi publicado no texto sobre minha trajetória, eu não sou secretária de cultura e comunicação, mas concorri ao cargo pela Chapa 2, que disputou as eleições para o Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, em março.

Lúcia Rodrigues é jornalista e cientista social. Já trabalhou na revista Caros Amigos e no jornal Folha de São Paulo. Atualmente, é repórter da Rádio Brasil Atual. Você, leitor, também pode entrar em contato com a nossa ombudsman. Basta mandar um e-mail para luciarodrigues[@]estadao.com.br