Nova data para depoimentos de estudantes processados é mantida sob sigilo

Segundo assessoria de imprensa da reitoria, a postergação de data foi decidida por presidente da Comissão de Sindicância

A prestação de depoimentos de estudantes processados pela ocupação da reitoria de 2011, marcada para 16/05, não ocorreu. De acordo com informações da assessoria reitoria, o adiamento se deu por decisão do presidente da Comissão de Sindicância responsável pelo julgamento dos estudantes. Ainda segundo a assessoria, a nova data para os depoimentos e os nomes dos integrantes dessa comissão serão mantidos em sigilo.

No total, havia cinco audiências marcadas para acontecerem na quarta-feira (16) – duas no período da manhã e três à tarde. Em entrevista publicada em 16/5 no site IG, Gustavo Serafin, um dos advogados dos 51 estudantes processados, diz ter sido informado do adiamento pelo segurança do prédio. “Os que deporiam de manhã não receberam nada e os que falariam à tarde receberam um email na tarde de hoje [terça-feira]”.

Um ato-protesto foi convocado para as 9h de quarta feira (16/5), em frente à reitoria. Estudantes e funcionários se concentraram no local e seguiram até a Procuradoria Disciplinar da USP, localizada na Rua Alvarenga (onde os estudantes processados prestariam os depoimentos). Em frente à Procuradoria, os protestantes gritaram palavras de ordem pedindo a saída do reitor João Grandino Rodas e democracia na Universidade. Em seguida, eles percorreram um trecho da Avenida Vital Brasil e da Rua Camargo, terminando o ato dentro da Cidade em frente à reitoria onde, por volta das 15h, teve início um debate sobre a conjuntura política da Universidade hoje.

Manifestantes a caminho da Procuradoria Geral da USP, onde estudantes processados prestariam depoimentos (foto: Ravi Novaes)
Manifestantes a caminho da Procuradoria Geral da USP, onde estudantes processados prestariam depoimentos (foto: Ravi Novaes)

O ato e os protestantes

Segundo informações do Sintusp e do Diretório Central dos Estudantes (DCE), o ato foi convocado pelo Fórum das Seis (que engloba entidades representativas dos docentes, estudantes e funcionários técnico-administrativos das três universidades estaduais paulistas e do Centro Paula Souza). O DCE estima que 500 pessoas estavam presentes, incluindo estudantes da Unicamp, da Unesp de Marília e da Unifesp de Guarulhos.

Gustavo Rego, diretor do DCE, diz que o intuito do ato era demonstrar o rechaço à política da reitoria de adotar a força jurídica e policial para reprimir as manifestações políticas dentro da Universidade. “É um ato não só contra os processos administrativos, mas também para exigir democracia na USP. Uma maneira de se opôr a uma reitoria autoritária que adota processos administrativos como política de gestão”, diz ele.

“Viemos porque entendemos que a repressão e a militarização da universidade é estadual. Estudantes da USP, da Unesp e da Unicamp tem enfrentado uma política repressiva de processos administrativos”, diz Klis, estudante de Ciências Sociais da Unesp de Marília. Segundo Rodrigo, outro estudante do mesmo curso de Marília, na Unesp houve abertura de sindicância contra estudantes que organizaram festas no interior campus (onde é proibido o consumo de bebidas alcoólicas).

Um grupo de estudantes da Unifesp de Guarulhos também estava presente no ato. Segundo eles, cerca de 40 alunos dessa Universidade também receberam processos administrativos devido à ocupação da reitoria em 2008. “Era um protesto contra a falta de infra-estrutura na Universidade. A ocupação durou dez minutos, pois os estudantes logo foram retirados pela polícia. E os processos foram instituídos mesmo assim”, diz Pedro Camargo, estudante de Ciências Sociais da Unifesp.

Estudantes de Pedagogia da Unicamp marcam presença no ato protesto (foto: Ravi Novaes)
Estudantes de Pedagogia da Unicamp marcam presença no ato protesto (foto: Ravi Novaes)

Para Marcela Darido, estudante da Escola de Educação Física e Esportes (EEFE), o que é feito na USP pode ser copiado em outras universidades. “Com o Rodas como presidente do Cruesp [Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas], a tendência é que o mecanismo de processar estudantes fique ainda mais forte” , opina. Para Maria Clara, estudante do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG- USP), a Universidade de São Paulo não acompanhou o processo de democratização que aconteceu no país´. “Na Universidade Federal de Uberlândia, existem eleições diretas e paritárias para reitor desde o fim da década de 90. Na USP, não temos a menor idéia do que é isso”.

Segundo Neli Wada, diretora do Sintusp, quatro diretores e dois integrantes do Sindicato estão sendo processados e não tem muitos esclarecimentos do que são acusados, o que se assemelha à realidade vivida pelos estudantes processados. “Só com a união entre funcionários, estudantes e professores podemos defender uma universidade pública, gratuita, mais democrática, com liberdade de expressão e manifestação”, diz Neli.

Perguntada sobre o ato, a reitoria não quis se manifestar sobre a manifestação.