FEA vota instalação de catracas na unidade

Medida faz parte de plano de segurança; mesmo com resultado negativo, setores administrativos e de professores terão acesso controlado

A comunidade da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) decidirá, entre os dias 28 de maio e 1° de junho, a instalação ou não de catracas nas entradas da unidade. A implantação de um sistema de controle de acesso à faculdade vem sendo discutida desde a morte do estudante de Ciências Atuariais, Felipe Ramos de Paiva, em maio do ano passado, e é uma das medidas do plano de segurança elaborado para a unidade.

Segundo Reinaldo Guerreiro, diretor da FEA, os furtos continuam acontecendo, embora não haja dados oficiais referentes à faculdade. Os principais eixos do plano de segurança são o reforço de portas e esquadrias, um novo projeto de iluminação e a instalação de câmeras e catracas. O diretor conta que a reforma estrutural está em curso e que mais de 200 câmeras já estão instaladas em vários pontos da unidade. Para Antonio Ravioli, vice-presidente do Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC) da FEA, o plano de segurança cumpre o seu papel, mas o problema é maior do que a FEA, e câmeras ou catracas não são a solução.

A questão da iluminação, tanto na FEA quanto no campus, permanece como uma das maiores reclamações da comunidade. Segundo Guerreiro, o estacionamento da FEA será o primeiro espaço do campus a contar com o novo sistema de iluminação proposto pela reitoria. No início do mês, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) de São Paulo suspendeu o edital para a licitação do novo sistema de iluminação por suspeita de direcionamento a uma empresa. Já a assessoria de imprensa da reitoria alega que a USP revogou o edital antes mesmo da decisão do TCE, a fim de reanalisar e melhor esclarecer algumas cláusulas. Para o vice-presidente do CAVC, a iluminação sempre foi o maior problema, mas nada foi alterado em relação a isso. “Entendemos que a burocracia é lenta, mas falta urgência para tratar da questão. Desse jeito, a PM não dá conta dos crimes na USP, e mesmo que a quantidade de policia aumente, vai continuar não dando conta”. Segundo a assessoria, até abril de 2013 o novo sistema de iluminação estará implantado no campus Butantã e até o fim do primeiro semestre, em todos os campi da USP.

Em 2011, em carta aberta à comunidade, o CAVC posicionou-se favoravelmente à presença da Polícia Militar no campus, mas não acredita que a solução esteja somente nela. “Nos colocamos a favor da PM, mas com ressalvas. Ela não é suficiente para solucionar a questão de segurança. São necessárias medidas que não foram cumpridas, como a maior iluminação do campus e rondas mais frequentes da Guarda Universitária. Um ano depois da morte do Felipe tudo o que aconteceu foi a entrada da PM”, diz Antonio. E a crítica é comum a alunos de várias unidades: a estudante de Letras Júlia Chiovetto, por exemplo, acredita que de um ano para cá, nada mudou em relação ao assunto. Para ela, a sua faculdade é bem iluminada, mas os caminhos deixam a desejar. “Se eu tivesse que ir até a FAU a noite, eu não faria esse caminho sozinha”, resume.

Caso o plebiscito aprove, será necessário se identificar para entrar na FEA (foto: Nana Soares)
Caso o plebiscito aprove, será necessário se identificar para entrar na FEA (foto: Nana Soares)
Catracas: sim ou não?

O último e mais polêmico ponto do plano de segurança da FEA se refere à instalação de catracas na entrada da unidade. Na época da morte do estudante de Ciências Atuariais, o diretor da FEA chegou a declarar que em até quatro meses elas seriam instaladas, mas segundo ele, isso não aconteceu porque era necessário fazer um estudo prévio do projeto. Entre os dias 28 de maio e 1° de junho, o plebiscito decidirá se elas serão implantadas ou não. Para Reinaldo Guerreiro, as câmeras internas não adiantam se não há controle de acesso, pois não é possível identificar as pessoas.

Caso o resultado do plebiscito seja desfavorável à implantação de catracas, Guerreiro avisa que foi pensado um plano B para resguardar os ambientes administrativos da FEA. Ou seja, pelo menos os setores administrativos e dos professores contarão com um sistema de controle de acesso.  “Se não houver um controle de segurança os furtos não vão diminuir quase nada”, diz.

O Centro Acadêmico da unidade é contra as catracas. Segundo Antonio Ravioli, não há motivos que as justifiquem. “O que está em jogo é a grande circulação na FEA, pois alguns lugares já vão ter catraca de todo jeito, e não são lugares com grande fluxo de pessoas. E mesmo em outras unidades, que já têm catraca, elas existem porque nesses lugares há varios equipamentos caros”. Para ele, a medida pode abrir um precedente muito grave para a USP, intensificando o isolamento da FEA perante o resto da universidade. O diretor da FEA, no entanto, diz que o sistema de catracas é somente para identificação de pessoas e que qualquer um poderá entrar nos prédios, não havendo uma política de controle ou impedimento de acesso.

Os alunos do Instituto de Relações Internacionais (IRI) não votarão no plebiscito, embora ainda dividam o mesmo espaço físico que os alunos da FEA. Segundo nota oficial emitida pela diretoria do IRI, não há previsão de conclusão do prédio que será destinado às aulas. As alunas Isadora Moura e Fernanda Balbino, do Centro Acadêmico Guimarães Rosa, do IRI, discordam da ideia de catraca, pois acreditam que vai contra o conceito de universidade pública. Para elas, a medida também pode interferir no dia-a-dia dos alunos do IRI. “Ouvimos dizer que vai ter catraca de todo jeito, e se isso acontecer é horrível, porque o CA fica num desses prédios que teria qualquer que seja o resultado”, dizem. Um aluno de Economia que não quis se identificar conta que o sistema de catracas não está claro: “não falaram como serão. Eu não sou contra, mas acho que depende do jeito que elas vão ser implantadas. Se for só chegar e fazer um cadastro eu acho que não tem problema. Não acho que ninguém que quer vir até a FEA vai desistir porque tem catraca”, diz ele.

O diretor da FEA não acredita que as catracas ferem o conceito de universidade pública. “Para entrar em qualquer prédio público por aí você tem que se inscrever. É público, mas não é uma festa, a pessoa deve explicar o que está indo fazer lá”. No plebiscito, tanto funcionários quanto alunos e professores poderão votar, mas o resultado será computado por categoria, e não individual.

"Muita polícia, pouca educação": pixação na FEA (foto: Nana Soares)
"Muita polícia, pouca educação": pixação na FEA (foto: Nana Soares)

Relembre o caso de Felipe

Na noite do dia 18 de maio de 2011, o estudante do 5° ano de Ciências Atuariais Felipe Ramos de Paiva morreu após tomar um tiro na cabeça. O crime aconteceu no estacionamento da FEA.

Felipe voltava do banco quando foi abordado por rapazes e corria em direção ao seu carro supostamente blindado, mas foi atingido antes de entrar no veículo. O acusado Irlan Graciano Santiago alegou que o estudante foi baleado por tentar reagir à tentativa de assalto.

Na época do crime, o campus presenciou diversas manifestações pedindo mais segurança.