USP paga salário mínimo a professor

A edição 392 do Jornal do Campus traz uma informação estarrecedora. A Reitoria da maior e mais importante universidade do país paga a alguns docentes, que lecionam em seus campi, pouco mais do que o salário mínimo vigente no país. A arte da matéria sobre as comemorações do primeiro de maio revela que há professores na USP que recebem R$ 687,89.

Isso é um escândalo! Infelizmente o JC não deu a devida importância ao fato. Cabia uma avaliação do repórter, com a chefia de reportagem e os editores sobre a pertinência na inflexão da pauta. Muito mais relevante do que discorrer sobre os shows que CUT e Força Sindical promoveriam no primeiro de maio, seria levar até o leitor o aprofundamento da informação contida no dado impactante obtido pela reportagem. A matéria poderia trazer informações sobre o número de docentes que se encontram nessa situação, em que campi e unidades estão lotados, além da estrutura de que dispõem para a preparação de suas aulas. Também seria bastante adequado se traçar um perfil de personagens que estão nessa condição.

Cabe destacar ainda que, ao contrário do que foi publicado, o Dia Internacional do Trabalhador não é mais a data em que o salário mínimo é reajustado pelo governo federal. Este ano, por exemplo, o reajuste ocorreu em primeiro de janeiro.

O texto assinado pelas estudantes Letícia Fucuchima Augusto e Paula Zogbi Possari também traz uma informação extremamente preocupante por atingir diretamente o caráter público da Universidade de São Paulo. Segundo a matéria, a direção da FEA estaria restringindo o uso das salas de sua unidade aos estudantes de Relações Internacionais, para a realização de atividades extracurriculares. E o que é pior: estaria cobrando pelo acesso a esses locais. Ainda de acordo com a reportagem, outras unidades, como a FAU, também estariam cobrando pela utilização de seus espaços. O JC deve investir no desdobramento dessa pauta em futuras edições, devido à relevância do tema.

O leitor também ganharia se a matéria tivesse sido agrupada na mesma página em que está a reportagem sobre o novo prédio da ECA, que o reitor João Grandino Rodas pretende construir. Isso facilitaria a compreensão do que está em jogo na USP. Ao mesmo tempo em que a Reitoria quer erguer um edifício para abrigar as futuras instalações de uma unidade já consolidada, estudantes de um curso que ainda não possui prédio próprio têm de se deparar com portas cerradas e a cobrança de taxas para poder acessar espaços públicos.

Lúcia Rodrigues é jornalista e cientista social. Já trabalhou na revista Caros Amigos e no jornal Folha de São Paulo. Atualmente, é repórter da Rádio Brasil Atual. Você, leitor, também pode entrar em contato com a nossa ombudsman. Basta mandar um e-mail para luciarodrigues[@]estadao.com.br