A Polícia Militar tem de sair da USP

A entrevista de Juliana Mendonça Santos e Nana Soares com o superintendente de Segurança da Universidade de São Paulo, coronel Luiz de Castro Júnior, na edição 395 do Jornal do Campus, é bastante esclarecedora e revela o caráter que a presença da PM desempenha nos campi da USP. A maior e mais importante universidade da América Latina não é mais um território livre.

As duas repórteres conduziram bem a conversa e apesar do esforço feito pelo coronel Castro Júnior para se esquivar e negar o fato de a Universidade ter se militarizado, suas palavras não deixam margem a dúvidas. A USP vive, sim, um período de exceção.

Ao contrário do que alega o coronel, não é verdade que a PM sempre esteve presente na Universidade. Antes das gestões dos reitores João Grandino Rodas e Suely Vilela Sampaio, exceto durante a ditadura militar, a PM não entrava nos campi da Universidade. Sou testemunha disso.

Quando fui estudante da USP, nos anos 1990, se alguma viatura militar ousasse circular pelas ruas ou avenidas do campus Butantã, na Cidade Universitária, logo se formava um grupo pessoas e a mesma palavra de ordem gritada, hoje, era repetida na ocasião: “Fora PM!” A viatura ia embora e não retornava.

A pergunta “se a PM já estava no campus antes do convênio, por que ele foi criado?” feita pelas repórteres ao superintendente, e que questiona a assinatura do acordo firmado entre a reitoria e a PM para a entrada do aparato repressivo nos campi da instituição, faz com que o militar se exponha e revele a fragilidade de seu discurso de negação da militarização da USP.

A entrevista permite que o leitor tenha a dimensão sobre a visão de segurança defendida pelo coronel para a Universidade. A catracalização da USP, por exemplo, não está descartada.

Chega a soar hilária a declaração de que a presença maciça de policiais durante a invasão da reitoria foi “para evitar qualquer situação de uso da força”. Faltou, no entanto, questioná-lo de uma forma mais direta sobre qual será a atuação da PM frente aos movimentos político-reivindicatórios da comunidade universitária.

Vitória sobre o arbítrio

Apesar do fechamento imposto à livre manifestação na USP pelo reitor Rodas, os movimentos estudantil e sindical têm muito a comemorar com a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, que anulou a expulsão do estudante de Geografia Yves de Carvalho Souzedo. O JC acertou em chamar a notícia na manchete.

Destaque também para a boa reportagem de Alessandra Goes Alves e Leonardo Fernandes sobre a Comissão da Verdade.

Lúcia Rodrigues é jornalista e cientista social. Já trabalhou na revista Caros Amigos e no jornal Folha de São Paulo. Atualmente, é repórter da Rádio Brasil Atual. Você, leitor, também pode entrar em contato com a nossa ombudsman. Basta mandar um e-mail para luciarodrigues[@]estadao.com.br