Representantes da Associação de Docentes da USP (Adusp) e do Sindicato de Trabalhadores da USP (Sintusp) declaram apoio a todos os eixos da atual greve das universidades federais, que conta hoje com a adesão de mais de 50 instituições. O professor César Minto, vice-presidente da Adusp, afirma que a Associação manifestou seu apoio à greve em publicações próprias e no Fórum das Seis, articulação política que engloba as universidades estaduais paulistas (USP, Unesp e Unicamp) e o Centro Paula Souza.
O professor, que também é 2º secretário da ANDES-SN (Associação Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), afirma que alguns dos problemas enfrentados pelos docentes em greve também ocorem na USP. Os professores da USP, por exemplo, frequentemente recebem gratificações que não são incorporadas em seu salário-base. O professor da Faculdade de Educação (FE) argumenta que não incorporar esses benefícios prejudica o trabalhador, pois a aposentadoria não os contabiliza. Além disso, eles nem sempre seriam distribídos de acordo com o desempenho acadêmico do docente. “Esse sistema é muito perverso, porque o responsável por criar condições de trabalho adequadas camufla sua omissão por meio desse sistema, jogando a responsabilidade no indivíduo que produz”, opina.
Para Minto, existem diferenças entre a USP e as instituições federais de maneira geral. “As universidades federais têm uma estrutura um pouco mais flexivel do que a da USP, do ponto de vista de como elas se organizam. Sei de várias universidades federais que têm eleição para reitor, por exemplo”, afirma. Ele também acredita que o número de fundações ligadas à universidade seja maior na USP do que na maioria das universidades públicas de maneira geral.
O professor explica que as greves trouxeram muitas mudanças para os professores universitários. “Você tem conquistas de todos os tipos. A greve do funcionalismo paulista no final dos anos 1970 garantiu a autonomia universitária e a vinculação de recursos, que na época era 8% da quota-parte do ICMS do estado”, esclarece. Hoje, as três universidades estaduais de São Paulo possuem juntas um repasse de 9,57%.
Minto cita o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) como um dos fatores que desencadearam a greve. “A expansão é desejável, mas não sem os devidos recursos necessários para que ela se dê, ou seja, sem garantir efetivamente a realização de ensino, pesquisa e extensão”, defende. Ele critica a necessidade de aprovação de 90% dos estudantes, que, na sua opinião, seria uma meta desejável, mas distante da realidade das universidades do país. Além disso, o professor discorda da relação de 18 alunos por professor. “Isso significaria uma carga de aula muito grande, o que ocorreria em detrimento das outras atividades de pesquisa e extensão”.
A subcomissão de comunicação do comando de greve da Unifesp Diadema também critica a atual proposta de expansão do governo federal, por acreditar que a expansão quantitativa das vagas não foi acompanhada por uma expansão qualitativa. Segundo ela, o governo oferece “um plano de carreira organizado unilateralmente pelo Ministério do Planejamento, que desvaloriza a carreira docente e precariza ainda mais o trabalho na educação”.
Anibal Cavali, um dos diretores do Sintusp, afirma que o Sindicato apoia integralmente as reivindicações dos professores em greve. “A greve também diz respeito à infra-estrutura das universidades federais, que é essencial para que se tenha um ensino superior de qualidade”. A precariedade apontada por Cavali também é enfatizada pelo comando de greve da Unifesp Diadema: “Em 2012, diversos cursos tiveram seu início suspenso ou atrasado devido à precariedade da infra-estrutura. Há instituições sem professores, sem laboratórios, sem salas de aula, sem refeitórios universitários e até sem bebedouros ou papel higiênico. Não há educação de qualidade possível nessas condições”. Tanto Cavali quanto Minto acreditam que a atual greve pode atingir também os funcionários técnico-administrativos, uma vez que eles também buscam melhores condições de trabalho.