Sigilo da fonte deve ser preservado

A matéria publicada na edição 394 do Jornal do Campus sobre o afastamento de docentes do mestrado de Gestão de Políticas Púbicas da EACH, a Escola de Artes, Ciências e Humanidades, pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação, comete um grave deslize. Além de não ouvir três dos quatro professores apontados como docentes com baixa produtividade acadêmica, a reportagem acaba por dar pistas que podem levar à identificação do professor que, segundo o repórter, havia pedido para não ser identificado. E isso é extremamente grave!

A preservação da fonte deve ser assegurada, sempre. Mas a forma como foi construída a argumentação torna fácil se chegar à identidade do entrevistado. Uma busca rápida em edições anteriores do Jornal do Campus em que tenham sido publicadas reportagens sobre modelos de gestão e transparência, com o cruzamento de declarações de docentes da EACH acaba por revelar a identidade da fonte que não gostaria de ter o nome publicado.

O docente em questão ainda afirma que seu afastamento trata-se de uma retaliação. No entanto, a palavra retaliação aparece grafada entre aspas no texto e pode induzir o leitor a uma compreensão errônea daquela que se quer transmitir. As aspas, nesse caso, colocam em dúvida a declaração dada pelo professor e, portanto, são absolutamente desnecessárias.

A mensuração da produtividade docente é tema extremamente polêmico. A reportagem poderia ter explorado essa questão. A reflexão sobre a lógica imposta pelo mercado aos professores, enriqueceria a matéria. A reportagem também poderia ter informado ao leitor que os docentes são obrigados a produzir excessivo volume de artigos, muitas vezes em prazos exíguos, para receberem a chancela de produtivos. A lógica é perversa.

Privatização do espaço público

A reportagem assinada por Nana Soares, sobre a votação que decidiria se serão instaladas ou não catracas na FEA, joga luz sobre dois temas absolutamente pertinentes e que têm mobilizado as atenções da comunidade uspiana: a privatização dos espaços públicos no campus e a deficiência do plano de segurança da Universidade desenvolvido pela reitoria e capitaneado pelo reitor, João Grandino Rodas.

Fica absolutamente claro para o leitor que a presença da Polícia Militar na USP não trouxe a segurança apregoada por Rodas, assim como a catracalização da FEA ou de qualquer outra unidade não trará mais segurança para professores, funcionários, estudantes e pessoas que frequentam o campus. A saída vai justamente na contramão da posição da reitoria, que defende o isolamento e a repressão.

Lúcia Rodrigues é jornalista e cientista social. Já trabalhou na revista Caros Amigos e no jornal Folha de São Paulo. Atualmente, é repórter da Rádio Brasil Atual. Você, leitor, também pode entrar em contato com a nossa ombudsman. Basta mandar um e-mail para luciarodrigues[@]estadao.com.br