Especialistas divergem sobre documento da Rio+20

O documento final da Rio+20 não agradou a todos: várias ONGs, especialistas e até mesmo delegações que aprovaram o texto criticaram a falta de metas concretas de desenvolvimento sustentável.

Diferentes visões sobre a política econômica do governo Dilma tomam as ruas do Rio de Janeiro (fotos: Alessandra Goes Alves)
Diferentes visões sobre a política econômica do governo Dilma tomam as ruas do Rio de Janeiro (fotos: Alessandra Goes Alves)
Intitulado “O Futuro que Queremos” e assinado por chefes de Estado e pelo governo, o documento foi defendido pela presidente Dilma Roussef, para quem não houve retrocesso, mas sim um avanço. Essa não é a opinião de José Goldemberg, físico do IEE. “Houve sim um retrocesso pois, há 20 anos, tomaram-se medidas muito proativas, positivas. Algumas delas não funcionaram tão bem quanto se gostaria. Então o que se esperava da Rio+20 é que ela revisitasse o problema, reforçando-o. Isso não aconteceu” , declara Goldemberg.

Na avaliação de Wagner Costa Ribeiro, professor do departamento de Geografia da FFLCH, o texto final avançou ao fortalecer o papel do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e ao propor a criação da comissão de alto nível para o desenvolvimento sustentável dentro da ONU. Entretanto, ele acredita que alguns pontos mantiveram-se estagnados, como a questão de quem vai destinar os recursos para o cumprimento das promessas de sustentabilidade. “O documento acabou sem metas, logo, não há como avaliar o quanto foi cumprido ou não dos acordos”, afirma Wagner.

O docente entende que, apesar de o documento não ter estabelecido metas consistentes, “não temos nada melhor para colocar no lugar”. “Meia dúzia de países não podem resolver a questão. Com todas as dificuldades, é muito melhor haver uma discussão com o maior número de países – e não uma imposição”. Para ele, isso diminui a chance de que os acordos sejam boicotados.

Já José Goldemberg acredita que futuramente não ocorrerão mais grandes conferências. “Cada país vai seguir seu caminho”, declara. O debate na Rio+20 teria sido importante, assim, no sentido de conscientizar a sociedade.

A mudança de comportamento individual e da sociedade é visto como o principal desafio para que as metas da Rio+20 sejam atingidas na opinião de Helena Ribeiro, professora da Faculdade de Saúde Pública. Para ela, a USP pode exercer um papel fundamental na mudança de rumo para a sustentabilidade. “Isso pode ocorrer por meio do ensino em seus cursos, da pesquisa de avaliação de impactos negativos e positivos para desenvolvimento de novas tecnologias mais sustentáveis e, por último, do exemplo – reforçando políticas e ações de sustentabilidade nos campi, laboratórios e salas de aula”, declara Helena.

Como contribuição à Rio+20, a Universidade lançou um site com aproximadamente 1300 trabalhos vinculados aos quatro principais temas da conferência: mudanças climáticas, biodiversidade, governança e Agenda 21 e economia verde. O site “USP na Rio+20” é uma iniciativa da Reitoria de Pós-Graduação, que montou uma comissão coordenada pelo Grupo de Pesquisa de Ciências Ambientais do Instituto de Estudos Avançados (IEA). As teses e dissertações que integram a página foram defendidas entre junho de 1992 e setembro de 2011. “A ideia é continuar alimentando o site com novos trabalhos que surgirem”, conta Wagner Costa Ribeiro, um dos organizadores do site.


Conheça alguns dos pontos do documento “O Futuro que Queremos”*

5. “Nós reafirmamos o compromisso de nos esforçamos para acelerar o cumprimento das metas de desenvolvimento aprovadas internacionalmente, incluindo as Metas do Milênio até 2015” (I. Our common vision)

88. “Nós estamos comprometidos a reforçar o papel do Pnuma como a principal autoridade global que determina a agenda internacional, promove a implementação coerente da dimensão ambiental de desenvolvimento sustentável dentro do sistema das Nações Unidas e serve como um advogado oficial para o âmbito global”. (IV. Institutional framework for sustainable development)

107. “Nós reconhecemos que promover acesso universal aos serviços sociais pode ser uma contribuição importante para consolidar e atingir ganhos de desenvolvimento. Sistemas de proteção social que visam reduzir a desigualdade e exclusão social são essenciais para erradicar a pobreza e avançar na busca pelas Metas do Milênio. Neste sentido, nós encorajamos fortemente iniciativas que visam aumentar a proteção social para todos”. (V. Framework for action and follow-up)

* tradução livre