Copex fomenta debate sobre extensão na USP

Grupos de extensão reclamam de falta de apoio institucional, mas pró-reitoria afirma que pesquisa e ensino não estão sendo privilegiadas pela administração

A Escola Paulista de Medicina e a Escola Paulista de Enfermagem sediaram, nos dias 9, 10 e 11 de agosto o 2° Congresso Paulista de Extensão Universitária (Copex), que reúne projetos de extensão das oito universidades públicas que fazem parte do Fórum Paulista de Extensão Universitária (USP, Unesp, Unifesp, Unitau, Ufscar, USCS, UFABC e Unicamp). As faculdades que sediaram o evento  formam parte do campus da capital da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Para os estudantes do Fórum de Extensão da USP, entidade que reúne projetos de diversas unidades, o evento deixa a desejar. “A organização, ao nosso ver, está sustentada em um projeto que busca uma hegemonização do conhecimento dito acadêmico em detrimento do conhecimento popular e  das demandas populares. Isso só elitiza as universidades, só deixa esse espaço que, em tese, é público, ainda mais fechado às necessidades da população”, defende Natália Araújo, uma das integrantes do Fórum estudantil e membra do projeto Educar para o Mundo, formado por alunos do curso de Relações Internacionais.

O evento também não foi o que esperava Wellington Soares, extensionista do Projeto Redigir, sediado na Escola de Comunicações e Artes (ECA) e único aluno da USP que apresentou trabalho na modalidade oral do evento. “Eu tinha a impressão de que o Congresso era um espaço para dividirmos as nossas experiências, para trocarmos conhecimento. Mas, na verdade, ele me pareceu bem mais focado no  marketing dos projetos”, conta. Além dessa apresentação, a presença da USP também foi marcada pela montagem de um estande no qual foi realizada a divulgação do Núcleo de Direitos, que será inaugurado em breve e unirá vários programas que tenham como objetivo facilitar o acesso de crianças idosos e deficientes a atividades culturais na universidade.

Tripé universitário

Segundo o ideal do modelo de universidade utilizado pela USP, ela deveria estar apoiada em três quesitos principais: pesquisa, ensino e extensão. Alunos extensionistas, mais precisamente os ligados ao Fórum,  afirmam que esse tripé é desequilibrado. Já a Pró-reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP (PRCEU) defende que o pilar da extensão tem grande força na política da administração atual da universidade.

O assessor técnico do gabinete da pró-reitoria, José Clóvis de Medeiros Lima  negou que ela seja suplantada pelas outras áreas na USP. Entretanto, o representante da PRCEU concordou com o fato de que, nesse aspecto, a imagem da maior universidade do Brasil não é das melhores. “Eles acham, a grosso modo, que a Universidade de São Paulo não tem extensão, só tem cultura”. Essa é uma crítica recorrentemente feita pelos alunos e por outras universidades também. De acordo com Cipriano Maia de Vasconcelos, ex-presidente do FORPROEX  (Fórum de Pró-reitores de Extensão). “A informação que se tem é de que a extensão na USP é de pouca presença no cotidiano dos estudantes.”

Obrigatoriedade

De acordo com o antigo Plano Nacional de Educação (PNE), que vigorou até o final do ano de 2010, todas as universidades federais deveriam criar meios e exigir que, para a conclusão de cursos de graduação, 10% dos créditos em trabalhos deveriam ser cumpridos com atividades de extensão. O mesmo servirá para as universidades públicas municipais e estaduais caso o Plano que ainda está tramitando seja aprovado.

Para Cipriano, essa seria a forma de tornar a extensão mais forte nas universidades, principalmente naquelas que hoje são, como a USP, fortes na pesquisa. “A dinâmica das universidades não sustenta o tripé [ensino, pesquisa e extensão]. Na verdade é um tripé desequilibrado”, disse.

“Paralelamente ao PNE, há o Plano nacional de extensão universitária, que foi apresentado ao secretário executivo do Ministério da Educação e não saiu da gaveta. Então o que que os alunos podem e devem reivindicar, isso é uma sugestão, é que esses programas saiam do papel.”, comenta José Clóvis. Todas essas discussões, segundo ele, estão presentes no Fórum Paulista de Extensão Universitária. O ex-presidente deste Fórum, defende com ênfase a extensão na vida dos estudantes, “A extensão significa melhor formação do estudante. Formação cidadã, de trabalho em equipe, de conhecer a comunidade etc.”

Financiamento USP

Atualmente a pró-reitoria de extensão dá 1200 bolsas de R$400,00 para alunos de graduação através do programa Aprender com Cultura e Extensão. Ano passado 2428 bolsas foram solicitadas de forma válida, ou seja, os estudantes que as pleitearam haviam passado pelo Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil (PAPFE).

É justamente esse o fator que é criticado pelo Fórum de Extensão da USP. Para eles, projetos desse tipo não deveriam ser atrelados a iniciativas que visam permanência estudantil, pois isso acaba afetando negativamente as duas áreas. Eles acreditam que o programa precariza a assistência para permanência, já que as bolsas têm valor baixos e a extensão, para eles, seria um trabalho como outro qualquer.

Além disso, para o Fórum, o programa tornaria precária também a extensão. Isso se daria porque projetos também precisariam de mais dinheiro para execução do projeto, fora as bolsas, que serviriam de auxílio aos estudantes envolvidos. Os pedidos de verba são avaliados em cinco reuniões a cada ano. Das três já realizadas neste ano, 264 pedidos já tiveram sua verba liberada, somando um valor total de R$1.661.000,48. Segundo a representante do fórum, entretanto, essa verba é destinada sobretudo a ações pontuais e eventos, não para os projetos em sua totalidade.

Manifestação

Descontentes com a política de extensão da USP, os alunos do Fórum de Extensão distribuíram, durante o Copex, um panfleto. O texto trata basicamente deste desequilíbrio no tripé. “No que diz respeito à Extensão Universitária, o que se vê é a indefinição do que é ‘extensão’ e quais princípios a norteiam. A falta de uma Política de Extensão – que inclua planejamento, avaliação e financiamento – torna-se evidente em algumas universidades, como é o caso da Universidade de São Paulo”, escreveram os alunos.

Eles acreditam que a falta de apoio à extensão na USP provém da disputa entre diferentes visões sobre a ideal relação com a sociedade, tanto a respeito da produção de conhecimento como sobre a educação pública. Entretanto, José Clóvis afirma:  “Muito do que foi dito ali [no panfleto] já está contemplada no âmbito da Pró-reitoria, como o apoio às iniciativas dos alunos. Toda iniciativa que tenha mérito tem tido apoio.”