Nova iluminação do campus será pior que a atual

Para pesquisadores do IEE e da Escola Politécnica, tecnologia LED iluminará menos que lâmpadas atuais

O projeto de um novo sistema de iluminação pública idealizado pela gestão Rodas para a Cidade Universitária é ineficiente e pode estar fadado ao fracasso. É o que aponta um estudo conduzido por especialistas do IEE (Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP) que compararam o desempenho das atuais lâmpadas de sódio presentes no campus com o das novas luminárias de tecnologia LED que a reitoria deseja instalar.

Segundo um relatório obtido pelo JC, as atuais lâmpadas de vapor de sódio “apresentaram melhor desempenho que o sistema de LEDs” quando empregadas sobre ruas e avenidas, o tipo de espaço urbano que deve receber 78% dos investimentos da reitoria em novos pontos de iluminação.

Resultados semelhantes foram alcançados pelo Gepea (Grupo de Energia da Escola Politécnica da USP), que também comparou os dois modelos de iluminação pública em espaços urbanos da Cidade Universitária. Coordenado pelo professor Marco Antonio Saidel, o centro de pesquisas em Engenharia Energética percebeu que as luminárias de vapor de sódio operam com iluminância, isto é, densidade luminosa “numericamente maior que o LED”.

Outro dilema envolvendo as novas luminárias LED diz respeito a sua eficiência após um período prolongado de uso. O Gepea alega observar “um franco desenvolvimento dessa tecnologia”, mas ressalva que atualmente o nível de luminosidade desse tipo de dispositivo sofre uma “queda acentuada” logo nos primeiros seis meses de uso.

A licitação

Não é apenas em aspectos técnicos que o novo programa de iluminação pública proposto para a Cidade Universitária vive impasses. Há pouco mais de três meses a Reitoria da USP e a Prefeitura do Campus da Capital buscam uma autorização da Justiça para concluir a licitação do projeto.

Com orçamento estimado em mais de 62 milhões de reais, conselheiros do TCE (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo) entenderam que o texto do edital da concorrência apresentava “indícios de ameaça ao interesse público” e, por essa razão, decidiram derterminar “a imediata paralisação” do processo.

De acordo com a versão de cinco empresas que se sentiram injustiçadas, cláusulas do edital de licitação “não estão claras o suficiente” e fazem as concorrentes recorrerem à “subjetividade”. Mais além, o texto apresentaria condições “excessivos”, como a exigência de que cada candidata já tenha promovido “o fornecimento de no mínimo 2500 luminárias LED para iluminação pública”.

O TCE também concordou que há no texto provas de “direcionamento a uma única fabricante”. No chamado “memorial descritivo”, seção do edital que especifica o material técnico demandado pela obra, a USP teria exigido das concorrentes luminárias equipadas especificamente com o mecanismo OLC, um sistema de controle remoto de fabricação exclusiva da marca Philips. Para os advogados que pediram a interrupção da concorrência, esse critério é injustificável já que “há no mercado outras marcas que possuem equipamentos similares e atingem o mesmo resultado buscado pela administração”.

Economia

A Reitoria foi procurada para comentar o assunto e disse ao JC que seus posicionamentos sobre o tema constam em um boletim de novembro de 2011, data em que o novo projeto de iluminação pública foi oficializado. No documento, a USP ressalta que pretende mais que dobrar os pontos de iluminação do campus e esclarece que a escolha das luminárias LED foi feita pela “qualidade” da luz emitida pelo dispositivo.

Mesmo diante do aumento lâmpadas, a administração acredita que “a tecnologia das instala­ções garantirá a redução de 10% a 15% no consumo total de eletricidade na Cidade Uni­versitária”. À época, o reitor João Grandino Rodas assegurou que, desde o início de sua gestão, “os Ór­gãos Centrais da Universidade vem estudan­do e trabalhando para transformar os campi da USP em exemplo de luminância”.

A questão da iluminação no campus da USP vem sido pautada pela comunidade, que se sente insegura circulando à noite, na Cidade Universitária (foto: Mariana Grazini)
A questão da iluminação no campus da USP vem sido pautada pela comunidade, que se sente insegura circulando à noite, na Cidade Universitária (foto: Mariana Grazini)