XI Congresso dos Estudantes da USP discute o movimento estudantil

Em edição excepcionalmente temática, evento gera polêmica e reúne estudantes para debater a democracia na Universidade de São Paulo

Acontece entre os dias 24 a 26 de agosto o XI Congresso dos Estudantes da USP.  Os congressos tem como objetivo ser um espaço de reorganização e planejamento do movimento estudantil, além de propiciar debates políticos. A última edição do evento ocorreu em 2010.

Delegados do XI Congresso (infográfico: Mariana Zito)
(infográfico: Mariana Zito)

As deliberações feitas em suas plenárias podem se sobrepor às feitas em assembleias gerais, o que o torna a estância máxima da mobilização dentro da universidade. Este ano em especial, o evento é temático e aborda a questão da democracia na USP.

Segundo Pedro Serrano, diretor do Diretório Central dos Estudantes (DCE), o assunto foi escolhido para canalizar a indignação dos estudantes pela falta de democracia na estrutura de poder da universidade. Além disso, esse seria o tema mais capaz de aglutinar estudantes em geral no atual período de desmobilização.

No entanto, a escolha do tema é polêmica. Para Alisson Bittencourt, membro do grupo Território Livre, o congresso deve ser pautado pela mobilização estudantil que resultou na greve do ano passado. “O tema reescreve o que de fato aconteceu, quando estudantes se levantaram espontaneamente contra a repressão. O tema abstrato não ajuda, o objetivo do congresso deveria ser fazer um balanço daquele momento para servir às futuras mobilizações”, diz Alisson.

Já Caetano Patta, diretor do Ceupes (Centro Acadêmico de Ciências Sociais) e membro do coletivo Universidade em Movimento, diz que se o tema for corretamente explorado, ele pode responder às questões deixadas em aberto durante a mobilização estudantil do ano passado.

No Congresso

Para mobilizar os estudantes até o evento, foram organizados debates pré-congressuais pelo DCE e por centros acadêmicos (CAs) com o tema democracia na USP.  As discussões aconteceram em diversas unidades como FFLCH, IAG, São Carlos, entre outras.

O foco dado pelo DCE foi a luta por diretas para reitor e por uma estatuinte. No entanto, para Alisson, as pautas dos debates apontam para um esquecimento do programa das mobilizações de 2011.

Na quinta-feira dia 23 haverá uma mesa de abertura sobre a gestão do reitor João Grandino Rodas, assim como o credenciamento dos delegados e uma festa.

O congresso começa realmente na sexta-feira da mesma semana com a plenária inicial, apresentação das teses e grupos de discussão. Nesses grupos são protocoladas as propostas que vão para votação na plenária final, que acontece no sábado e no domingo.

Para Pedro Serrano, o congresso é um evento de mobilização estudantil, de lutar por uma estatuinte e por diretas para reitor, para que os estudantes tenham um candidato próprio para representá-los em 2013. Alisson defende que é tarefa do congresso estruturar um programa defensivo contra a repressão, além de fazer um balanço político e organizacional após a greve do ano passado. Já Caetano diz que não interessa ao movimento produzir deliberações artificiais sobre pontos que não foram desenvolvidos ao longo do ano.

Organização

A comissão organizadora desta edição do congresso foi decidida em um dos Conselhos de Centros Acadêmicos (CCA) ocorrido em maio e composto por vários centros acadêmicos e pelo DCE.

Neste CCA, também foram decididos a data, os temas de debate e as bandeiras de construção “Diretas para reitor” e “Estatuinte Já!” para o congresso.

As deliberações, porém, causaram polêmicas pela composição da comissão organizadora e do calendário.  Uma delas se deu pela exclusão do Ceupes da comissão. A atual gestão deste CA faz oposição à gestão “Não vou me adaptar” do DCE.

Em uma nota, a diretoria do Ceupes diz que a escolha do DCE foi tomada ao acreditarem que os dois CAs da FFLCH escolhidos (dos cursos de Letras e de Filosofia) representam as duas linhas políticas existentes na unidade.

A gestão do centro acadêmico aponta na nota que “o centro acadêmico deve representar em seu conjunto todos os estudantes de determinado curso e não ser simplesmente o porta-voz de certo grupo político que gere a entidade” e que acreditam que não deveria haver “problema em permitir a participação de todos os interessados”.

Outra crítica feita pela diretoria do Ceupes é sobre a data do evento. Para Caetano Patta, “as férias de julho quebraram a mobilização para o congresso”.

Já para Alisson Bittencourt, a forma como o congresso foi construído, via CCA, fez com que muitos dos estudantes envolvidos nas mobilizações de 2011 ficassem distantes da organização.

Eleições

Apesar de estar aberto à participação de todos, somente delegados eleitos em cada unidade ou curso podem votar nos espaços deliberativos. As eleições ocorreram nas duas últimas semanas de junho e nas duas primeiras de agosto.

Os debates e deliberações do congresso são guiados por teses escritas por conjuntos de estudantes unidos por um tema político, que, segundo Pedro Serrano, tendem a discutir a luta pela democracia. Para uma tese ser publicada, ela necessita das assinaturas de ao menos 13 alunos.

Neste ano, 25 teses irão ser publicadas abrangendo, por exemplo, propostas feministas, pró-movimento LGBT, pela democratização da universidade, pelo combate à repressão dentro da USP e mudanças no estatuto do DCE. Uma das teses propõe que as assembleias gerais sejam instâncias inferiores ao CCA, ao contrário do que acontece atualmente.