Eleições do DCE são mantidas para novembro

Em votação apertada, gestão do DCE viu negada sua proposta de adiar as eleições para 2013. Democracia na USP é eleito eixo da luta estudantil

Com 118 votos a favor e 113 contra, as eleições para a próxima gestão do Diretório Central os Estudantes da USP (DCE) ocorrerão em novembro, como de costume. A votação era uma das mais aguardadas do XI Congresso de Estudantes da USP, que aconteceu entre os dias 23 e 26 de agosto e reuniu cerca de 300 alunos.

A proposta defendida pela atual gestão do DCE previa o adiamento das eleições para o início de 2013. Os argumentos eram de que o quórum de votantes aumenta nessa época do ano e o debate torna-se mais politizado.

Pedro Charbel, do curso de Relações Internacionais e membro do grupo Universidade em Movimento, acredita que a decisão de manter a data das eleições é importante, pois mostra preocupação em trazer mais pessoas, especialmente os calouros, para a mobilização dos estudantes. “Tem muita gente repensando o movimento estudantil, vendo por que ele não está funcionando. Há milhares de estudantes da USP que não estão lá e, portanto, tem alguma coisa errada nele”, explica.

Entre os dias 23 e 26 de agosto o XI Congresso dos Estudantes da USP debateu questões como as eleições para o DCE e as cotas raciais (foto: ocongressofoiotimo.tumblr.com)
Entre os dias 23 e 26 de agosto o XI Congresso dos Estudantes da USP debateu questões como as eleições para o DCE e as cotas raciais (foto: ocongressofoiotimo.tumblr.com)

Em outro ponto, a luta por democracia na USP foi escolhida como pauta principal do movimento estudantil da universidade. A escolha do eixo ocorreu após votação, em que a proposta derrotada apresentava como tema o combate à repressão, com foco na luta em defesa dos estudantes processados.

Segundo Sâmia Bonfim, aluna do curso de Letras, na FFLCH, e membra do DCE, “o combate à repressão está incluído na pauta da democracia”. Esta pauta, porém, englobaria mais problemas a serem enfrentados, como a definição da estrutura de poder da universidade.

De outro lado, a luta pela democracia seria uma pauta mais abstrata. “O movimento estudantil muitas vezes discute questões muito distantes da nossa realidade. Isso aconteceu menos do que no Congresso passado, mas houve distanciamento das pautas que, para nós, precisam ser as principais do movimento”, contrapõe Alisson Bittencourt, aluno de Ciências Sociais, também na FFLCH, e membro do grupo Território Livre. Para ele, uma pauta mais concreta seria melhor para a organização do movimento estudantil.

Charbel concorda que o movimento está muito distante dos alunos. “Discussão sobre democracia na USP é atrativo, mas deveriam discutir mais a luta em si”. Apesar das críticas, o Congresso conseguiu formar um calendário de mobilização. No mês de setembro, a principal questão a ser combatida é os processos contra alunos que ocuparam a reitoria em 2011. Para outubro, pretende-se realizar um plebiscito sobre a estrutura de poder na USP e a possível mudança do estatuto da universidade.

A questão das cotas também foi discutida pelos estudantes. Depois de um debate que resultou no não alinhamento com a forma estabelecida nas universidades federais – 50% de cotas para alunos de escola pública –, ocorreu uma votação entre duas propostas: uma elaborada pelo Núcleo de Consciência Negra e pela Frente Pró-Cotas da USP, que sugeria cotas sociais e, dentro delas, cotas raciais, e outra que estabeleceria a luta por cotas sociais e cotas raciais desvinculadas, aumentando a quantidade total de cotas.

Os defensores da primeira proposta alegavam que essa estaria mais próxima à realidade do movimento. Entretanto, ela foi derrotada. “Essa foi uma falha do Congresso. O movimento estudantil é um movimento social, que deve se aliar aos outros. A proposta do Núcleo de Consciência Negra estava sendo produzida e estudada há anos. Não são os estudantes que dizem se eles devem lutar por mais ou não, mas sim ajudar a construir a luta”, comenta Charbel. A proposta vitoriosa tinha como base de seu argumento a noção de um movimento estudantil responsável por lutas de vanguarda, em que caberia colocar pautas mais idealizadas.

Entre outras propostas vencedoras no Congresso, estão a permanência da organização das eleições para DCE feita pelo Conselho de Centros Acadêmicos (CCA), a continuação da filiação do DCE à União Nacional dos Estudantes (UNE) e a composição do DCE continuar
sendo apenas de membros da chapa vencedora da eleição.