Realização de festas universitárias é dificultada

Frente aos recentes problemas com a entrada de caminhões de cerveja na Cidade Universitária, Centros Acadêmicos e Atléticas procuram soluções

Desde o início de 2012, centros acadêmicos e associações atléticas das mais diversas faculdades da USP encontram dificuldades para realizar as suas festas.

(foto: Gabriel Roca)
(foto: Gabriel Roca)

A entrada dos caminhões que traziam bebidas ou material de apoio ficou mais criteriosa, diretores não permitem que os eventos aconteçam dentro dos prédios de suas unidades e as entidades estudantis ou reduziram a quantidade de festas produzidas ou assumiram a responsabilidade de promovê-las sem apoio da respectiva diretoria.

No fim do primeiro semestre, o acesso dos caminhões de cerveja ao campus ficou proibido, caso não houvesse uma devida autorização do diretor da faculdade permitindo a sua entrada. “Lembro que a primeira vez que fiquei sabendo que a cerveja ficou proibida foi depois do caminhão ter sido barrado. A gente foi procurar saber porque isso tinha  acontecido e só aí a gente foi descobrir a proibição. Não houve comunicação prévia”, afirma Leonardo Fernandes, integrante do CALC, o Centro Acadêmico da Escola de Comunicações e Artes.

Tal medida reacendeu a discussão sobre a autonomia das entidades estudantis. Pelo seu histórico de contestação política, centros acadêmicos e associações atléticas precisam manter-se independentes financeiramente. “A venda de cerveja é a principal (e as vezes única) forma que essas entidades possuem para obter lucro e sustentar as suas atividades, sejam elas esportivas ou culturais e políticas”, afirma Luiza Guerra, financeira do CALC.

Para Leonardo, a proibição da entrada da cerveja no campus possui dois objetivos. O primeiro faz parte de uma política ideológica de restringir os espaços de convivência e evitar que pessoas de fora da universidade venham para a USP. O outro motivo passa por uma questão financeira. Impedir que essas atividades vendam cerveja é obrigá-los a aceitar outros tipos de ajuda, quem sabe da própria reitoria, e isso é uma forma de abafar mobilizações estudantis.

Leonardo ainda chama a atenção para algo importante: “Existe todo um trâmite burocrático que têm ocorrido para que o happy hour da Quinta & Breja aconteça.

Precisamos protocolar documentos no HU, na Prefeitura do Campus e no 16º Departamento de Polícia Militar todas as quintas-feiras. O problemático nisso é que sempre algum responsável pelas entidades tem que assinar os documentos em seu nome e não em nome do CA ou da atlética. Vendo os últimos acontecimentos, em que estudantes têm sido processados por militância, não confio nisso e não acredito que essa seja uma política segura para os estudantes.”

“Além da questão financeira, o consumo de cerveja integra a chamada ‘vida universitária’ e é ao redor dele que se constrói boa parte das atividades de integração estudantil. As festas são comuns desde o momento em que se é aprovado no vestibular ao momento em que o estudante se forma no seu curso”, complementa Luiza. Celebrações fazem parte da construção do relacionamento entre os alunos da Universidade e, historicamente, elementos como dança, música, bebidas alcóolicas e comidas compõem estes eventos.

Em reunião com diversos CA’s e atléticas, em agosto, o DCE discutiu a política de repressão aos espaços de integração estudantil e defendeu o posicionamento de unir o movimento estudantil para resistir e bater de frente com essa atual proibição. Algumas entidades  presentes apoiaram o ponto de vista, outras já defenderam uma abordagem mais tranquila, sem correr o risco do movimento estudantil ficar com uma imagem ruim na opinião pública. Segundo Shayene Metri, financeira da ECAtlética, o ideal seria mostrar aos órgãos superiores a possibilidade de serem responsáveis pelas festas que realizam, e destacar que a universidade precisa ter o papel educativo de não proibir o consumo, mas sim ensinar aos estudantes a manterem um consumo responsável de bebidas alcoólicas.

O Jornal do Campus procurou entrar em contato com a Superintendência de Segurança da USP para dar a ela o espaço de mostrar um outro ponto de vista, mas até o momento do fechamento do jornal nós não obtivemos respostas.

Novas Burocracias

Algumas entidades conseguiram autorizações para a entrada dos caminhões de cerveja na Cidade Universitária. Para isso, foi preciso que o evento esteja regularizado na DRI (Divisão de Relações Institucionais), responsável por eventos dentro da USP.

Para regularizar um evento, é necessário entregar uma série de documentos que definem a finalidade dele, o público médio estimado e a estrutura que está sendo montada. Para eventos de pequeno porte – como os que acontecem semanalmente na ECA – as solicitações são autorização do espaço, concedida pela diretoria, além de informações sobre a segurança e a limpeza do evento.

Já eventos de porte maior necessitam de mais documentos, o que dificulta a realização das festas. A lista inclui comunicado à CET, à Polícia Militar de São Paulo e à vigilância sanitária (COVISA), atestado de estabilidade estrutural, instalações elétricas, geradores e para-raio, contratação de ambulâncias e da brigada de incêndio, entre outros.

Possível solução

Em julho, entidades estudantis da USP foram procuradas por uma das fornecedoras de cerveja para que se discutisse o problema do acesso do caminhão da bebida na cidade universitária a fim de encontrar uma possível solução.

Essas entidades – centros acadêmicos e associações atléticas da FEA, Poli, ECA, FAU, FFLCH, VET, RI, IO e Farma – se reuniram e decidiram se organizar em uma comissão que pudesse representar o interesse de todas as faculdades participantes.

Segundo Luana Corradine, uma das integrantes da comissão, a ela competirá organizar um documento que apresenta os motivos pelos quais as entidades da USP dependem da bebida – tais quais a necessidade do sustento financeiro advindo da venda de cerveja, mostra dados referentes ao consumo de bebidas alcóolicas pelos estudantes e propõe novas formas de se realizar festas dentro do campus. Além disso, a fornecedora de cervejas em questão se dispôs a ajudar as entidades, incentivando campanhas como “motorista da rodada” nas festas.

O objetivo da comissão é apresentar esse documento às competências envolvidas para que, juntos a esses órgãos, os estudantes possam pensar em soluções capazes de equilibrar os interesses de ambos os lados.