A extensão deve ser obrigatória nos cursos?

Está sujeita à aprovação a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trás a obrigatoriedade da prestação de serviços de relevância social no ensino superior público. Professores relacionados à extensão na USP debatem a questão
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A universidade tem obrigação em devolver serviços à sociedade – por Anna Maria Chiesa
Eu gostaria mais da valorização da extensão, como um prêmio – por Marina Mityo Yamamoto


A universidade tem obrigação em devolver serviços à sociedade

Anna Maria Chiesa é vice-presidente de Cultura e Extensão da Escola de Enfermagem e professora associada ao Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem (EE)

Jornal do Campus: Qual a sua concepção de projetos de extensão em cursos superiores?
Anna: A extensão é um dos pilares fundamentais da Universidade, porque garante uma resposta mais rápida para a sociedade. Isso pode gerar tanto temas para pesquisa, estudos para projetos, quanto para inserir o aluno na realidade em que ele vive.

Além disso, acaba ajudando com que a Universidade reconheça os problemas existentes da sociedade e permite que estudos e trabalhos sejam realizados.

JC: Você é a favor ou contra a obrigatoriedade de projetos de extensão em universidades?
AMC: Sou completamente a favor, pois a universidade tem obrigação em devolver serviços a sociedade em contrapartida a gratuidade dos cursos.

JC: Caso seja aprovada a PEC, que dá nova redação ao inciso IV do art.206 da Constituiçã Federal, tornando obrigatório projetos de extensão em cursos superiores, o que irá mudar?
AMC: A universidade vai deixar de ser balcão de curso. O curso superior não pode se comprometer apenas com a formação do aluno e sim, ter compromisso com a realidade e o contexto em que a universidade está inserida.

Além disso, tem muitos professores que apenas depositam conteúdo que não tem a ver com o que se passa na sociedade, sem se preocupar com o retorno que deve dar a ela.

Sem contar que o trabalho de pesquisa ajuda a qualificar o aluno como profissional nessa área.

JC: Quais as vantagens da extensão para os alunos?E para as pessoas de fora?
AMC: Para os alunos de graduação e pós-graduação, ajuda a ampliar os horizontes, porque faz a conexão com a realidade, tendo uma visão mais plena dela.

Já para a sociedade, permite com que ela entre em contato com a Universidade, que por sua vez, tem a oportunidade de dar o retorno necessário com os trabalhos realizados.

JC: Como avalia o trabalho de extensão feito na USP hoje?
AMC: Acho que a Universidade precisa rever, porque muitos trabalhos são feitos, mas não têm o devido reconhecimento. No curriculum lattes , por exemplo, não existe um espaço para colocar os projetos de extensão. Ela é importante não só na formação do aluno, como na pessoal. Esse lado também merece atenção.

Enfim, é necessário um maior reconhecimento e valorização dos trabalhos realizados pelos alunos da USP.

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Eu gostaria mais da valorização da extensão, como um prêmio

Marina Mityo Yamamoto é Pró-Reitora adjunta de Cultura e Extensão da USP. Ela também é presidente da Comissão de Cultura e Extensão da FEA, onde dá aulas.

Jornal do Campus: Qual a sua concepção de extensão universitária?
Marina: A gente entende extensão universitária como a disseminação do conhecimento adquirido na universidade compartilhado com a sociedade. São as coisas mesmo do dia a dia, os saberes da universidade, o que ela constrói como conhecimento.

A Universidade tem o papel de levar o conhecimento, e trazer as problemáticas. Para as universidades a questão é o problema a ser estudado.

JC: Você é a favor ou contra a obrigatoriedade da extensão universitária?
MMY: Eu não gosto muito dessa questão da obrigatoriedade, porque acho que sou descrente desse processo de obrigar as pessoas a fazer uma coisa que não gostam. Mas eu acho que valorizar essa atividade seria interessante, e talvez uma forma é torná-la obrigatória.

Embora eu não goste da obrigatoriedade, fazer com que as pessoas experimentem como é bom, como é rica essa experiência, e num segundo momento torná-la optativa. Eu gostaria mais da valorização da extensão, como contar crédito pro seu curriculum, fazer com que ele fique melhor do que quem não têm, como um prêmio.

JC: Se for obrigatório pode ficar forçado e não funcionar tão bem quanto se fosse optativo?
MMY: Eu acho que para algumas pessoas a gente não consiga atingir. Aquela pessoa que não gosta, que não quer, ela não vai ser envolvida porque já tem um preconceito. Quem não quer ser envolvido, não que e acabou. Pra essas pessoas vai ficar uma coisa chata, enfadonha.

JC: E quais são as vantagens da extensão para os alunos?
MMY: A questão da vivência, de poder interagir com pessoas que não são seus pares. Na realidade da sociedade as vezes você se depara com pessoas que são totalmente diferentes do seu meio social e cultural e você tem que lidar com essas pessoas. Quanto mais cedo o aluno tem essa vivência, mais aberto ele fica às experiências para aprender, ele consegue olhar para as pessoas, ver que elas são diferentes e aprender com isso.

JC: E para quem é de fora da universidade, quais são as vantagens?
MMY: Acho que o benefício primeiro é conhecer uma universidade como um todo. As vezes as pessoas nem sabem quais cursos nós temos, o que se faz na universidade. O fato de ter acesso a informação faz você querer entrar, começa a ser objeto de desejo. Além disso, é fundamental receber o compartilhamento dos saberes da universidade.

 
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