Adorno é primeiro na FFLCH

Protesto realizado por estudantes fez com que as eleições ficassem para o dia 24 de setembro

A eleição para a diretoria da FFLCH, programada inicialmente para o dia 20, foi realizada no dia 24, após ser interrompida por um protesto de estudantes, reivindicando eleições diretas para diretor e criticando uma suposta possibilidade de divisão da faculdade.

Apesar de haver apenas dois professores inscritos, Sérgio Adorno e Osvaldo
Coggiola, foi necessária a formação de uma lista tríplice, encaminhada para
o reitor João Grandino Rodas para a escolha do diretor. A eleição foi feita em
três turnos: no primeiro, o professor Adorno recebeu 101 votos, sendo necessários no mínimo 103 para que fosse indicado como o primeiro da lista. No segundo turno, o professor Adorno recebeu 112 votos, sendo então indicado. No terceiro e último, o colégio eleitoral votou em outros dois nomes para compor a lista: João Roberto Faria e Osvaldo Coggiola, eleitos com, respectivamente, 69 e 47 votos. Participaram da votação os membros dos Conselhos de Departamento e os membros da Congregação da Faculdade.

O processo eleitoral contou também com debates com os candidatos
e uma consulta online à comunidade da FFLCH, que mostrou resultado diverso do observado na eleição. Ela contou com a participação de 798 membros da comunidade. Nela, o professor Coggiola teve maioria: 527 votos contra 253 para o professor Adorno (os remanescentes se dividem em brancos e nulos). Houve uma divisão de votos entre as categorias: Coggiola venceu entre os estudantes, da pós e da graduação, e Adorno, entre os professores e funcionários.

Eleições que não foram
A eleição para a diretoria estava marcada para acontecer no dia 20 de setembro, às 14h, no Anfiteatro da Geografia. No mesmo horário, estava marcado um ato no vão livre do prédio da História e Geografia. Segundo Samia Bonfim, membro do DCE e aluna da Letras, o ato foi organizado pelos Centros Acadêmicos da faculdade e o DCE. Além disso, uma plenária no vão do prédio da História e Geografia aprovou algumas resoluções sobre o processo eleitoral: foi considerado antidemocrático e foram eleitos cinco representantes discentes, cuja entrada no Anfiteatro não teria sido permitida pela Diretoria.

Quanto à alegada proposta de divisão da FFLCH, um dos motivos do protesto, Samia afirmou não se tratar ainda de algo muito concreto, mas que haviam surgido rumores nesse sentido. A questão já havia sido levantada no primeiro dos debates com os candidatos. Naquela ocasião, o professor Sérgio Adorno afirmou não ter assumido nenhum posicionamento sobre isso, mas que era necessário “garantir a legitimidade do debate” e que uma “proposta como essa tem que poder ser proposta”. Já o professor Coggiola disse defender a unidade da faculdade e ressaltou que não havia aparecido nenhuma manifestação institucional sobre sua divisão.

O ato ocorria na frente do Anfiteatro até cerca de 14h30, quando cerca de 100 estudantes entraram no recinto. A atual diretora da faculdade, professora Sandra Nitrini, tentou dar início ao processo eleitoral enquanto os estudantes manifestavam críticas ao fato da consulta online ser “o único espaço de  representação” que tinham. Após isso, Nitrini declarou que a manifestação tinha sido ouvida, mas que o processo eleitoral teria início de qualquer maneira. Nesse momento, um grupo de estudantes se dirigiu às urnas para tentar impedir a votação e houve discussão com alguns professores. Ricardo Ribeiro Terra, professor da Filosofia, foi um deles. Ele afirmou que aquela manifestação vinha de uma “parcela minoritária do movimento estudantil que  é fascista de esquerda” e que não havia “universidade boa no mundo que tem eleição direta”. Pouco depois, a Comissão Eleitoral declarou que as atividades do dia haviam sido encerradas. Procurada pela reportagem após os acontecimentos, a diretora preferiu não se manifestar.

O processo continua
Remarcadas para o dia 24, as eleições transcorreram normalmente e foi lida uma carta do DCE expondo suas preocupações sobre o processo eleitoral. Para Elisabetta Santoro, professora do Departamento de Letras Modernas da faculdade, o acontecimento do dia 20 mostrou que o processo de eleição para diretor já não se mostra mais adequado. “Na verdade ficou claro que a gente precisa rediscuti-lo [o processo], relacionando-o às discussões sobre a democratização da USP”. Ela acredita que é inviável tentar parar a eleição no dia de sua realização, mas que é possível tentar influir na próxima se houver uma construção nesse sentido “a partir de agora”, com a organização das três
categorias – estudantes, professores e funcionários – e uma discussão “séria e
aprofundada das possibilidades futuras”.