Entre o risco e a ousadia

Por João Paulo Charleaux

Errar é humano. Errar publicamente, em papel impresso, maculando reputações é próprio do jornalismo. Todo dia. Conviver com isso – e, claro, tentar evitar – é parte do aprendizado. Nos erros, as últimas edições foram perfeitas. Erramos numa manchete e continuamos a errar na edição seguinte.

Confiando em informações de uma única fonte, oferecemos ao leitor uma prova científica de que o novo modelo de iluminação escolhido pela reitoria para a Cidade Universitária era pior que o atual. Como argumento, foram mostrados estudos de pesquisadores da própria universidade. Tudo muito científico. Mas o repórter não leu o estudo original nem ouviu seus autores. Usou apenas trechos selecionados por uma das partes interessadas no processo de licitação das novas luzes – a parte que perdeu a concorrência e recorreu à Justiça.

Na sequência, um dos pesquisadores citados escreveu para o jornal. Aí, novo erro: demos um “direito de resposta” na edição seguinte, publicando a íntegra da carta num alto de página. Má decisão. Jornalistas trabalham com notícias, dados, fatos. Diante de novos fatos, produzem novas notícias, continuam investigando e publicando, não largam o tema. O jornal deveria ter ouvido o autor do estudo, buscando a reitoria novamente, apurando o assunto jornalisticamente, ouvindo novamente as fontes da primeira matéria. Publicar a carta da fonte na íntegra foi uma saída de muito temor e pouco esforço. Por que o jornal não “suitou” a matéria? O assunto deixou de ser importante? Ou, depois de tomar um choque, retraímos, ficamos com medo? O terceiro erro foi não ter envolvido o ombudsman no assunto. O jornal precisa aprimorar os canais de comunicação com o leitor e com seus críticos. O ombudsman só se inteirou da coisa toda pelo jornal, depois de tudo publicado.

Para manter o foco em manchetes, a da última edição, sobre eleições do DCE, foi pobre em informações de contexto. O debate sobre as datas de uma eleição – foco do texto – deveria servir apenas de gancho para questões mais amplas, estruturais. Do contrário, produzimos um texto para iniciados, para os “de dentro” do assunto. Afinal, qual a importância da eleição, o que está em jogo, quantos votam, a que correntes cada grupo está ligado, que orçamento manejam, o que propõem? É preciso explicar. E é preciso puxar estas informações (algumas delas estavam lá) para o título, para a linha fina, para o lead, dando mais substância, indo além do debate de calendário eleitoral.

João Paulo Charleaux é jornalista e coordenador de comunicação da Conectas Direitos Humanos e do curso de jornalismo em situações de conflito armado e outras situações de violência. Escreve sobre cultura e direito internacional em veículos como Folha de S. Paulo e Última Instância, além de colaborar com a rádio França Internacional, a revistaCarta Capital, o jornal Le Monde Diplomatique, a rádio Popular de Milão, a rádio Interworld (Panos London), a Rádio Netherland e a Agência Poonal de Berlim.