A menina do interior que foi presa na reintegração de posse

“Prefiro não dar muitas informações sobre mim, porque eu estou sendo processada. Essa é uma orientação do advogado.” Essa foi a resposta que Rosi deu a uma das primeiras perguntas desta entrevista. O processo citado por ela é decorrente da prisão efetuada em 2011, durante a reintegração de posse da reitoria ocupada no final do ano. Rosi é uma das 73 pessoas que foram levados a delegacia e hoje correm o risco de serem expulsos da Universidade.

Rosi estava fotografando em frente da Reitoria e foi detida na reintegração. (Foto: Wellington Soares)

Sobre a prisão, que ela diz ter sido arbitrária, se defende: “eu estava na frente da reitoria, fotogrando o que estava acontecendo. Era preciso denunciar aquela violência. Os policiais jogaram uma bomba na direção do grupo de pessoas que estavam comigo. Foi nesse momento que nós nos dispersamos e dois policiais me puxaram para dentro do prédio.”

Fortemente engajada no Movimento Estudantil, ela pertence a um grupo político chamado Práxis. Segundo ela, defende uma “Universidade Livre”: sem vestibular, de fácil acesso, com moradia estudantil para todos que precisam e, é claro, excelência acadêmica.

Nascida e criada em uma pequena cidade do interior do Paraná, Rosi cursou os primeiros anos da faculdade de filosofia na universidade federal de seu estado. Em 2010, entrou na USP por meio da prova de transferência. “Eu imaginava que a USP era muito diferente do que eu vi.” Ao listar as maiores frustrações enfrentadas, ela sequer precisa de tempo para pensar: a falta de vagas de moradia estudantil e o processo de seleção que, segundo ela, leva em conta aspectos políticos e não socioeconômicos.

Com o sonho de ser professora, estudou a vida inteira em escolas públicas, assim como os quatro irmãos. Da família e do círculo de amigos, é a única que chegou a cursar universidade. “Muitos estão trabalhando em supermercados ou outras coisas do tipo lá na minha cidade mesmo.” A terra natal, a jovem visita apenas nos finais de ano.

No ano passado, quando foi presa, os pais de boa parte dos outros presos foram esperar pela saída dos filhos na delegacia. O pai de Rosi só pôde vê-la pela tv: “Chorando, no meio de dois policiais, pedindo para não apanhar. Foi essa a imagem que ele viu.

O sonho de ser professora, Rosi já conquistou. Próxima de concluir a graduação, já deu aulas na rede estadual de São Paulo para o Ensino Médio e a Educação de Jovens e Adultos. “É muito bom vê-los avançando, aprendendo de verdade.”

Agora, tem outras metas em mente: uma delas é deixar um mundo melhor para as próximas gerações, a outra – mais imediata – é comprar um computador para fazer os trabalhos da faculdade e estudar para o mestrado, em que pretende ingressar logo que acabar seu curso de graduação.