Avenida Hollywood

Recursos cinematográficos e ousadia na direção contribuiram para o êxito da novela das nove

Não foi só o enredo o responsável pelo sucesso de Avenida Brasil. É o que afirmam especialistas em audiovisual e teledramaturgia. Os recursos e técnicas da cinematografia também ajudaram a criar este fenômeno do TV brasileira.
A equipe que produziu Avenida Brasil optou por recursos de qualidade cinematográfica, como iluminação e profundidade de campo nas imagens, decorrentes das novidades tecnológicas e do uso de vídeo digital, que contribuíram para a aproximar a imagem da televisão à do cinema.

Para Esther Hamburguer, diretora do CINUSP e professora do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA, a direção foi fundamental, pois orientou a cinematografia. Normalmente a televisão, por ter sua produção acelerada, fica restrita a movimentos de câmera e edição mais comportados.

Em Avenida Brasil, entretanto, viu-se o uso de câmera na mão – mais artesanal, movimentanda, “andando” atrás dos atores. Nesse caso, contribuíram a experiência dos diretores Amora Mautner, Ricardo Waddington e José Luiz Villamarim e a vontade de fazer algo diferente. Isso mostra que a televisão pode ser produzida com maior complexidade, e assim, conquistar um público mais diversificado.

Novos ritmos
Outro elemento marcante de Avenida Brasil foi o ritmo acelerado, as reviravoltas e os ganchos típicos do folhetim e dos seriados, explica Mariane Murakami. Maria Immacolata destaca que a novela não teve as famosas “barrigas”, momentos em que quase nada acontece: “a pessoa que perdia um ou dois capítulos já não sabia muito bem o que havia acontecido”.

Esther comenta que esse ritmo acelerado é um estratégia a qual as novelas vêm aderindo para conquistar o público, pois sua audiência está em queda devido ao grande leque de opções oferecidas hoje. Sua estrutura sempre deve criar expectativa para o próximo capítulo, atraindo os espectadores. Comparada a seriados – que costumam ter sempre um suspense a ser solucionado no episódio seguinte – Avenida Brasil foi ainda mais dinâmica.

Quanto ao final da novela, Esther acredita que tenha sido muito corrido. “Algumas situações poderiam ser mais desenvolvidas, melhor explicadas, mas isso é normal diante da elasticidade de tempo das novelas em geral e desse aceleramento criado desde os primeiros capítulos da novela”.

Divino melodrama
Outra qualidade responsável pelo sucesso da produção foi o texto, em especial os diálogos, bastante elogiados pelos entrevistados. Para Esther “os personagens tiveram espontaneidade e, ao mesmo tempo, usavam linguagem e expressões mais complexas.”

Os atores, é claro, também foram responsáveis pelo sucesso de seus personagens, pois souberam incorporá-los com profundidade. Maria Immacolata acredita que “até os personagens secundários foram envolvidos na história, não estavam ali apenas como figurantes, tinham uma complexidade também”. Segundo Eugênio Bucci, “os próprios atores pareciam buscar expressões, trejeitos nas fontes, no tipo de pessoas que queriam copiar”. Esther corrobora esta análise: “os personagens foram se construindo de maneira tão sólida, que provavelmente os atores ficaram livres para improvisar.”

Bucci caracteriza a opção estética feita pela novela como “realismo de madame”. Os cenários e figurinos apresentavam um certo perfeccionismo inverossímil, com roupas que pareciam ter acabado de sair do armário e cortes de cabelos e maquiagem sempre bem feitos.

As interpretações “carregadas”, no entanto, não podem ser descritas como “realistas”. “Avenida Brasil levou o melodrama ao extremo, com todos os seus excessos. A atuação dos atores beirou o ‘estridente’” conclui, Esther.