Clara*, segunda envolvida na história

* nome fictício utilizado para proteger a identidade da vítima

Jornal do Campus: Que horas aproximadamente faltou cerveja na festa? Quem saiu para comprar?
Clara: Por volta da uma, uma e meia da manhã. Saiu para comprar breja eu e um amigo. Não couberam todas as cervejas no carro do guto então fiquei lá no extra esperando o Fernando ir me buscar com o meu carro.

JC: Quando vocês voltaram com a cerveja no carro e foram barrados, que horas eram, aproximadamente? Que argumentos os guardas apresentaram para vocês não entrarem? Como vocês fizeram para entrar na USP depois disso?
C: Era um pouco antes das quatro. Os guardas simplesmente falaram que não poderíamos entrar e que eram ordens superiores ou algo do gênero.

Depois disso o Fernando começou a discutir e então eu desci do carro para tentar conversar com os guardas com mais calma…nisso o Fernando deu ré, foi para o lado e começou a avançar extremamente devagar para a frente, onde dava passagem… não tinha nada barrando a entrada a não ser a placa o Fernando avançou lentamente encostou na placa, ela caiu, ele passou por cima dela e seguiu por mais uns dez metros… e corri até o carro e saímos dirigindo em velocidade normal.

 JC: Ao entrarem, vocês foram perseguidos pela Guarda Universitária. De onde até onde essa perseguição aconteceu? Como a guarda abordou vocês, depois de terem sido “fechados” por eles?
C: Percebemos o primeiro carro da guarda em frente a subida da casa de cultura japonesa. Esse mesmo carro foi atrás de nós quando viramos a direita para entrar no bolsão da FFLCH, lá o Fernando parou em frente a Biblioteca Florestan Fernandes, eu desci e fui chamar pessoas…..depois, quando estava descendo o escadão do jardim das sociais/letras, vi um carro cantando pneus e fechando o Fernando, enquanto ele tentava estacionar e mais dois ou três carros logo atrás dele.

Enquanto o Fernando tentava estacionar, um dos guardas desceu do seu veículo (aquele que havia cantado pneus e fechado o Fernando) e pois a mão dentro do carro para arrancar a chave do contato e tirou o Fernando do carro a força, nisso já tinha juntado mais uns três guardas que deram chave de braço, joelhadas, foram extremamente agressivos e puseram o Fernando contra um carro, em posição de “você está preso”.

 JC: O seu amigo foi agredido pela Guarda. Quantos guardas universitários estavam presentes, mais ou menos? Que tipo de agressões físicas seu amigo recebeu? Houve agressão verbal/moral? Você foi agredida em algum momento?
C: Como falei a cima, ocorreram chave de braço, joelhadas e sem contar que o rosto do Fernando estava sangrando e ele foi brutalmente colocado contra o carro. Eram mais ou menos três caras segurando-o e mais uns cinco em volta. Nessa hora não lembro de agressões verbais, mas lembro de eles acusarem o Fernando injustamente de ter atropelado um dos guardas na portaria, o que é um absurdo! Uma falsa acusação é um fato sério. Eu não fui agredida, mas em nenhum momento eles pararam para tentar explicar porque eles estavam agindo assim e demorou muito tempo até eles aceitarem devolver a chave do meu carro, o que é outro absurdo porque eles não tem esse direito – o de “apreender” meu carro.

JC: A G.U alegou que havia sido atropelada uma pessoa e, mais tarde, falou que havia sido um cavalete. Isso é verdade?
C: Sim e não. Eles realmente alegaram que o Fernando havia atropelado uma pessoa e estavam falando isso praticamente para justificar a forma brutal como tirar-no do carro e o agrediram daquela forma e em nenhum momento eles desmentiram esse fato. Quem o desmentiu foi eu, que assim que percebi que isso não havia acontecido (não tinha certeza, porque não estive com o Fernando durante toda a perseguição), fui eu que falei que isso era mentira deslavada e que os caras estavam alegando um fato falso e irreal.

JC: A PM apareceu depois de quanto tempo? Quem havia chamando a PM, vocês ou a guarda? Que tipo de postura/medida foi assumida pela PM? Houve registro de ocorrência/exame de corpo de delito?
C: Acredito que a PM tenha aparecido quase que uma hora depois… quanto a isso não sei quem a chamou, mas acredito que tenha sido a guarda e não fui eu que conversei com a PM (nem cheguei perto deles pra dizer a verdade), outras pessoas foram tratar com eles.

JC: Sumiram com os documentos do seu amigo. Quais documentos ele perdeu? Quando vocês se deram conta do desaparecimento da carteira? Vocês já receberam alguma pista do paradeiro de algum dos documentos?
C: Acredito que tinha nela o carteira de habilitação e outros documentos, como carteirinha da USP entre outros….não posso afirmar nada. Me dei conta do desaparecimento da carteira quando começaram a acusar o  Fernando de não possuir nenhum identificação. Fiquei indignada, porque pouco tempo antes, havia pedido para os guardas, para eu poder entrar no meu carro para desligar o rádio do meu carro se não acabaria a bateria e tinha visto a carteira dele no banco.

JC: Segundo a nota, alunos da festa desceram em defesa do agredido. Como eles ficaram sabendo do que estava acontecendo, você que os chamou? Aproximadamente quantos desceram?
C: Isso mesmo, quando o Fernando me deixou em frente a Biblioteca, sai correndo para a festa para chamar as pessoas porque eu fiquei bem desesperada, não sabia o que ia acontecer, nunca imaginei que o abuso de poder ia ser tão grande que o Fernando seria agredido, mas achei que o mínimo que teríamos que fazer era tirar as brejas o quanto antes do meu carro. Cheguei na festa e chamei outros amigos que encontrei aleatoriamente. Na hora que vi tudo que estava acontecendo e como fui a primeira a chegar perto do carro me desesperei ao ver o Fernando ser tão violentamente tirado do carro e comecei a gritar para filmarem o que estava acontecendo. Daí, além das pessoas que chamei, começaram a surgir outras pessoas, já com os celulares nas mãos e depois desceu mais gente, acredito que chamados por outras pessoas….

JC: Após vivenciar isso, na madrugada da última quinta-feira, você ainda consegue ver a guarda universitária como um símbolo de segurança dentro do campus ou você acredita que eles representam mais um motivo de se ter medo, aqui dentro?
C: Antes eles eram quase que insignificantes. No estilo, eles nunca me incomodaram, eu nunca incomodei eles, tampouco acho que eles atrapalham ou ajudam….mas já desconfiava da ineficiência deles (sempre ouvimos falar de casos de furtos, roubos e até mesmo estupros e ultimamente até de uma morte na USP), mas depois desse dia…tenho medo….tenho medo, tenho medo de alguma represália desmedida deles por saberem quem sou e qual é meu carro. Tenho medo do abuso de poder, afinal quem faz uma vez pode fazer outras. E agora tenho certeza de que eles SÃO ineficientes, não sabem agir em situações mais extremas e não possuem nenhum tipo de treinamento para lidar com a responsabilidade que eles tem. Se eles passaram do limite comigo e com meu amigo uma vez, isso significa que eles podem passar do limite outras vezes, com outros alunos. Daí eu me pergunto, onde isso vai parar? Sem contar o fato de que os argumentos que utilizaram para nos barrar são ridículos….com pessoas morando no Crusp e tendo livre arbítrio para comprar quantas cervejas quiserem, para consumo próprio ou não,  e levarem para suas casa no Crusp, como podem os guardas decidirem o que entra ou não dentro da USP? Ou melhor quantas cervejas entram ou não dentro da USP?