Priscilla Coelho, representante da AAAOA-FFLCH

Jornal do Campus: Vocês publicaram uma nota da sexta-feira, demonstrando repúdio ao comportamento da Guarda Universitária e da Polícia Militar de São Paulo. Como foi a repercussão da nota? Que tipo de retorno vocês obtiveram, na rede social?
Priscilla: A publicação da nota foi a maneira que a AAAOA (Associação Atlética Acadêmica Oswald de Andrade) encontrou para tornar o ocorrido público, uma vez que aconteceu durante a madrugada na véspera de feriado, período em que a Cidade Universitária fica especialmente vazia. Como representamos uma das maiores faculdades da USP rapidamente alunos, ex-alunos, coletivos políticos, movimentos sociais, centros acadêmicos da FFLCH e de outras unidades além do DCE (Diretorio Central dos Estudantes) leram e compartilharam a nota em apoio a nossa posição. A repercussão, que ainda está acontecendo, deixa claro que o repúdio a ação autoritária e truculenta da Guarda Universitária e da Polícia Militar é ponto de acordo em componentes de diferentes instâncias da Universidade.

JC: Toda essa confusão começou após dois dos integrantes da AAA terem sido proibidos de entrar na USP com cerveja no carro. Como esse tipo de restrição/proibição tem atingido as atividades da Atlética de vocês?
P: A proibição dos alunos na Cidade Universidade sob a acusação de comportarem cervejas no carro, o stopim da perseguição que culminou na humilhação e agressão divulgadas, foi a primeira atitude autoritária da Guarda. A entrada de cerveja no campus não é permitida se tiver fim comercial, no entanto não houve preocupação em esclarecer esta questão. Não havia abertura nenhuma para diálogo, o que mostra a pré-disposição para a repressão assistida em seguida. A truculência e a violência com que a situação foi tratada pela Guarda surpreendeu e indignou tanto os presentes quanto aqueles que vieram a saber depois.

Naturalmente essa proibição prejudica algumas entidades da USP. Há entidades que através de meios burocráticos conseguem a liberação para a entrada de cerveja com fim comercial, da mesma forma que ocorre quando o Velódromo do CePEUSP é alugado para eventos.

A estranha diferença no tratamento dessas exceções e do que ocorreu conosco, é um triste exemplo da realidade atual da Cidade Universitária. A falta de auxílio e apoio às organizações estudantis prejudica o curso de qualquer projeto, nota-se um empenho em burocratizar e dificultar o acesso dos estudantes aos recursos públicos. Este ano a ida ao BIFE, campeonato autônomo envolvendo onze faculdades da Universidade, esteve comprometida com a negação de um pedido de apoio financeiro à Diretoria. Nesta conjuntura a venda de cerveja se apresenta como alternativa mais viável para captação de recurso.

JC: O acontecimento reacendeu um debate sobre quem a Guarda Universitária deveria proteger e qual o seu papel dentro do campus. Em sua opinião, a guarda universitária hoje é um simbolo de segurança dentro do campus ou é vista como mais um motivo para se ter medo, dentro dele?
P: O debate sobre a segurança no Campus, a função da Guarda Universitária e a presença da Polícia Militar se faz presente na vida universitária uspiana no mínimo desde 2009, ano em que houve greve geral e grevistas e estudantes foram reprimidos com bombas e balas de borracha. Cenas semelhantes marcaram o final do ano passado em que 72 alunos foram presos e houve expulsões, a repressão está vigente, alunos são perseguidos em processos administrativos e jurídicos. Cada vez mais pessoas conversam e se preocupam com o tema porque a recorrência nos acontecimentos em que se observa abuso aumenta progressivamente, de forma que mesmo as pessoas que não foram atingidas passaram a se sentir ameaçadas. A associação da mudança nesta relação coincidir com a presença da Polícia Militar no campus não é mero acaso, uma vez que sua inclusão no cotidiano universitário foi justificada pela segurança e apresentada como auxílio à Guarda Universitária. Resta saber quem ou o quê está sendo assegurado.