Que jornal esse jornal quer ser?

Taí uma pergunta difícil, mas que precisa ser feita: “o que você quer?”. Deixando de lado as inúmeras coisas feitas por inércia no jornalismo todos os dias, o que você realmente quer mudar, para onde quer ir, o que quer fazer? Dificilmente alguém fará essa pergunta a um jovem jornalista como você, numa redação de grande jornal. Mas ela pode e deve ser respondida por você agora, na faculdade.

O jornal que fazemos será o que nós quisermos que ele seja. Essa afirmação deveria ser ainda mais verdadeira numa publicação classificada como “laboratorial”. Que outra coisa fazemos, afinal, num laboratório, que não seja experimentar?

O Jornal do Campus é um jornal velho. Ele copia o modelo dos dois principais jornais impressos de São Paulo: a Folha e o Estado. Tem uma página de opinião logo no início, com um debate de dois lados opostos a respeito de um tema único. Em seguida, traz seções fixas, onde espalha os textos num corpo mais ou menos harmônico (já abordei o problema de edição e visão de conjunto numa coluna anterior. O problema persiste).

Jornais são locais de muito medo e pouca ousadia. De olho no concorrente, um jornal tenta ser melhor que o outro, sem cair no “risco” de ser muito diferente do outro. Todos os dias, uma reunião às 9 horas da manhã coloca numa sala fechada, na Folha e no Estado, um mural com as primeiras páginas da semana. Assim, um jornal se espelha no outro e calcula o quanto acertou ou errou nas escolhas feitas em cada edição.

O JC não faz assim. Não precisa. O lado ruim disso é que a falta de competição provoca acomodação. Certamente, se existisse uma Tribuna do Campus, ambos seriam melhores. Mas há algo de positivo em não ser obsessivo a respeito da concorrência: a liberdade para inventar.

Tal como feito hoje, o jornal está quadrado. As fotos, que deveriam ser janelas para a leitura dos textos, muitas vezes não dizem nada. Os títulos giram invariavelmente em torno de expressões vazias como “gerar polêmica, suscitar debate etc”. A pauta está a serviço de uma leitura limitada da vida no Campus, com uma crítica monótona e reiterada aos mesmos problemas e às mesmas pessoas.

O JC é hoje o que os jornais foram até ontem. Mas o que ele será daqui para frente?

João Paulo Charleaux é jornalista e coordenador de comunicação da Conectas Direitos Humanos e do curso de jornalismo em situações de conflito armado e outras situações de violência. Escreve sobre cultura e direito internacional em veículos como Folha de S. Paulo e Última Instância, além de colaborar com a rádio França Internacional, a revistaCarta Capital, o jornal Le Monde Diplomatique, a rádio Popular de Milão, a rádio Interworld (Panos London), a Rádio Netherland e a Agência Poonal de Berlim.