“Terreno baldio” ocupa subsolo do Paço

Ocupar o subsolo do Paço das Artes com artes plásticas, fotografia, poesia, performances sonoras, musicais e vídeos: foi essa a proposta do projeto Ritos Baldios, organizado por Lynn Carone e Hugo Fortes.

A ideia de ocupar criativamente o espaço segue a tendência de uma série de eventos planejados pela diretoria do Paço. “O Ritos Baldios não foi o primeiro trabalho, essa iniciativa vem ocorrendo há cerca de dois, três anos,” afirma Priscila Arantes, diretora e curadora. Entre outros projetos com a mesma proposta, ela destaca o Sonora Paço e o Som Subsolo.

Os ovos quebrados da artista Sheila Ortega são remontados conforme a arquitetura de onde são expostos (foto: divulgação)

“Após o convite da diretoria, resolvemos trazer a discussão sobre espaços abandonados na área urbana, que acabam relegados a um segundo plano”, diz Fortes. Seguindo esse mote, a exposição fugiu do perfil tradicional, espalhando as obras pelo espaço, sem proteção e convidando o público a interagir com pinturas, esculturas, fotos e poemas gravados nas paredes.

“A inspiração veio de Hélio Oiticica”, conta Lynn. “Ele realizou uma ocupação artística num estacionamento vazio e batizou-a de ‘Mitos Vadios’”. O projeto foi concebido por sete artistas: Fulvia Molina, João Carlos de Souza, Julieta Machado, Mauro de Souza, Lynn Carone, Hugo Fortes e sua esposa, Sissi Fonseca.

“A partir desse núcleo, convidamos outros artistas com poéticas que contemplassem esses ritos”, explica Carone. Os critérios foram bem diversificados: o importante era desenvolver artisticamente o mote do terreno urbano e baldio. “Chamamos colegas alemães, norte-americanos, além de brasileiros”, conta Hugo Fortes.

Um dos artistas que expôs no subsolo do Paço, o norte-americano George Long, disse que a recepção de seus trabalhos foi muito interessante. Por ilustrar incêndios, muita gente relacionou sua obra com as favelas que pegaram fogo recentemente em São Paulo. “Apesar do caráter muito pessoal, o público se envolveu”, afirma Long. “Os símbolos abertos, bastante humanos, serviram como transposição da barreira da língua estrangeira.”
Apesar de buscar a temática principalmente urbana, incluindo nessa concepção até o oferecimento de comida no espaço – “A barraca de tapioca é parte do conceito de terrenos urbanos também”, diz Carone –, o projeto contou com obras site-specific, ou seja, obras que incorporam especificidades e peculiaridades do espaço da exposição. Um exemplo disso era o conjunto de fotos de Lynn Carone.

Apostando bastante na interatividade com as obras, principalmente através de performances, o Ritos Baldios esteve aberto até a intervenções vindas da própria natureza. Formigas interagiam com obras feitas por caixas de arquivo que continham e estavam cercadas de flores e porções de terra, espalhando-as. Uma rã marcou presença nos dois dias do evento, passando em frente a projetores e obras e construindo novos significados com sua inesperada atuação.