Estado brasileiro concede anistia a Vannuchi Leme

Estudante da USP foi preso e torturado na ditadura militar brasileira

No ano de 1973, o estudante Alexandre Vannuchi Leme era preso e torturado pelo regime militar brasileiro. Nesta sexta-feira, 40 anos após sua morte violenta, o saguão principal da mesma faculdade que o abrigou por quatro anos estava completamente cheio. Cheio de tristeza, pela injustiça cometida por tantos anos em que foi considerado terrorista, mas cheio também de esperança. O Estado brasileiro admitiu que errou. Pediu desculpas. Reconheceu o direito da luta por democracia e liberdade.

O Instituto de Geociências (IGc) da USP foi o escolhido para receber a 68ª edição da Caravana da Anistia, organizada pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. O ato reuniu centenas de pessoas para testemunhar o reconhecimento oficial do estudante Alexandre Vannuchi Leme como anistiado político. O pedido de desculpas foi solicitado pela família.

Na abertura do evento, o Secretário Nacional de Justiça, Paulo Abrão, destacou a grande importância do evento. “Este é um pedido de desculpas. O Estado está assumindo a responsabilidade de levar adiante as conquistas pelas quais aquela geração tanto lutou”, disse.

Ato reconheceu oficialmente o estudante Alexandre Vannuchi Leme como anistiado político (Foto: Larissa Teixeira)
Ato reconheceu oficialmente o estudante Alexandre Vannuchi Leme como anistiado político (Foto: Larissa Teixeira)

Maria do Rosário, ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, prosseguiu o discurso para ressaltar a luta pela democracia. “Este é um momento de muita emoção, em que o Estado reconhece publicamente os atos de tortura que cometeu. Se estamos vivendo hoje o maior período democrático do país, é por causa de jovens como Vannuchi”.

Em meio a aplausos, o presidente da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, Marco Antonio Barbosa, destacou a coragem de Vannuchi e muitos outros jovens. “O sacrifício dessas pessoas que deram suas vidas pelo resgate da democracia não foi em vão. Precisamos continuar a luta, que é de todos nós”, afirmou.

Novo atestado de óbito de Vladimir Herzog

No evento, Paulo Sérgio Pinheiro, coordenador da Comissão Nacional da Verdade, também entregou para a família de Vladimir Herzog o novo atestado de óbito do jornalista. Na versão oficial, consta que Herzog teria cometido suicídio, o que mais tarde seria desmentido pela comprovação de que foi torturado pelo regime. O atestado de óbito não havia sido mudado.

Também estiveram presentes na mesa Valdecir de Assis Janasi, diretor do IGc; o deputado Adriano Diogo; Daniel Iliescu, presidente da UNE; Adrian Fuentes, presidente do DCE; Artur Scavoni, do Fórum aberto pela Democratização da USP, e Ivo Herzog, do Instituto Vladimir Herzog.