Alunos de São Carlos se apresentam à Polícia Civil

Estudantes da USP que ficaram nus para hostilizar feministas durante protesto contra Miss Bixete serão julgados por cometerem ato obsceno

Três alunos da USP envolvidos na agressão a feministas que manifestavam contra o concurso Miss Bixete se apresentaram na última sexta-feira, 8/3, no 3º Distrito Policial de São Carlos. Segundo o delegado Aldo Donisete Del Santo, os rapazes, que são acusados de cometerem atos obscenos, não negam o fato. Foi marcada uma audiência do caso para o mês de abril.

A pena para quem comete ato obsceno varia de três meses a um ano de prisão ou pagamento de multa. No entanto, segundo Del Santo, por ser um crime de menor potencial ofensivo, pode haver transação penal para entregas de cestas básicas e prestação de serviço ao público.

Segundo a assessoria de imprensa da USP São Carlos, os alunos também já foram identificados pela instituição. “O processo administrativo está em curso, com prazo para conclusão dos trabalhos de 60 dias. Paralelamente, o Conselho Gestor do Campus (órgão deliberativo local de instância máxima) tratará desses fatos em sua próxima reunião para análise e deliberações”, afirma o assessor Edmilson Luchesi.

Envolvidos na agressão poderão ser penalizados com até um ano de prisão (Foto: Divulgação / Frente Feminista de São Carlos)
Envolvidos na agressão poderão ser penalizados com até um ano de prisão (Foto: Divulgação / Frente Feminista de São Carlos)
Machismo

O concurso Miss Bixete ocorre há anos no campus São Carlos da USP e sofre críticas por ser considerado machista. A ex-aluna de arquitetura Bárbara Guazzelli participou do Miss Bixete em 2003 convidada por duas veteranas. Quando chegou ao local, duas colegas suas desistiram de participar, por conta da quantidade de rapazes esperando o desfile começar.

Ela conta que esperou por sua vez no desfile atrás do palco, com a organização: “Logo me deram um copo de cerveja, que nunca ficava vazio. Eu desfilei, mas confesso que fiquei envergonhada com as coisas que as pessoas gritavam. Depois, colocaram todas as meninas juntas no palco pra dançar um funk. Até então eu achava que era apenas o desfile. Eu e mais algumas meninas ficamos claramente desconfortáveis, e quando a música acabou tiraram a gente do palco”.

Bárbara ainda diz: “Eu acho que seria muito difícil uma das meninas se recusar a dançar e descer do palco espontaneamente. Antes do evento acontecer não tem como saber como realmente ele é. E lá em cima você obviamente se sente pressionada a ficar lá. Eu aceitei participar, mas o que foi colocado pra mim não condizia fielmente à realidade. Amenizaram bastante o evento para me convencer”.

Outra estudante que participou do Miss Bixete e pediu para não ser identificada confirma que “ninguém sabe muito bem o que vai acontecer” no concurso e que havia muitas brincadeiras e gritos constrangedores. Ela diz: “Uma coisa importante também é o pós-miss bixete: comecei a achar que uma amiga que participou se sentia incomodada pelos olhares das pessoas”.

Manifestação

Larissa Avelino, membro do coletivo de mulheres da USP São Carlos e da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) presente na manifestação, declara que se sentiu ofendida com as hostilidades sofridas durante o protesto: “Com uma boneca inflável simbolizando a mulher, simulavam estupro, inclusive incitando um cachorro para cima da boneca. Essa foi uma das cenas mais fortes para mim, a que mais me ofendeu”.

Larissa ainda diz que os organizadores do Miss Bixete, membros do Grupo de Apoio à Putaria (GAP), não fizeram nada para impedir as agressões. Ela conta que o estudante que mostrou o pênis estava com uma camiseta do GAP.

No entanto, um integrante do grupo que optou por não ser identificado garante que nenhuma das pessoas que ofenderam os manifestantes fazia parte do GAP: “Os membros estavam todos trabalhando para que o evento tivesse um bom andamento, do lado interno do Centro Acadêmico”.Ele ainda afirma que, “caso a garota desista de participar, não há repressão por parte da organização e nem dos estudantes presentes”.

O universitário também conta que há membros do sexo feminino no GAP e na organização do Miss Bixete que “acreditam no direito da mulher de tomar suas próprias e seguras decisões”. Ele continua: “Discordar de uma manifestação é um direito como cidadão, mas agredir moralmente e desrespeitar é uma falha grave. Infelizmente o GAP não possuía meios de conter as pessoas que se exacerbaram em suas atitudes”.