Artes e Audiovisual estudam se separar da ECA

Comissão de Trabalho foi criada para discutir a criação do Instituto de Artes e Audiovisual e tem prazo de 90 dias para apresentação do anteprojeto
Ilustração: Marcelo Marchetti

A Escola de Comunicações e Artes pode passar por mudanças, não só de espaço físico, mas também de nome. Retomando a intenção de criar um instituto próprio para os cursos de Artes na USP, os chefes desses departamentos organizaram uma Comissão de Trabalho para elaborar esse projeto. Em uma reunião realizada no dia 18 de março essa Comissão apresentou um calendário de suas atividades, em que afirma que deverá ser entregue em até 90 dias o anteprojeto para a criação do novo instituto.

A ideia de um instituto próprio na USP para os cursos de Artes antecede a própria criação da ECC, Escola de Comunicações Culturais, fundada em 1966 e que em 1969 se transformou em Escola de Comunicações e Artes. Suprimida durante a ditadura militar, a vontade da criação do Instituto de Artes ressurge em 1986, época em que o historiador e crítico de arte Walter Zanini dirigiu a ECA, mas a proposta não foi em frente. A discussão reapareceu em outros momentos, sendo que em 1998 um novo projeto foi apresentado, mas a resistência à divisão da ECA foi mais forte.

De acordo com o chefe do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR) Luís Fernando Angerami, durante o último Fórum de Graduação, realizado em 2010, os departamentos de Artes Plásticas; Artes Cênicas; Música; a Escola de Artes Dramáticas e o CTR perceberam uma maior familiaridade entre suas demandas. Com o surgimento do projeto da Nova ECA, esses departamentos voltaram a colocar em pauta a criação do Instituto de Artes. “Precisamos discutir mudanças, estamos presos em condições ultrapassadas”, afirmou o professor.

Como nas outras vezes, essa nova tentativa de criar o Instituto de Artes está cercada de dúvidas e resistências. Com a intenção de esclarecer o projeto, os diretores dos departamentos de artes realizaram no último dia 19 uma reunião aberta com os alunos da ECA. A principal razão apresentada para a formação do instituto é garantir a independência e valorização das Artes, possibilitando uma maior integração entre os cursos.”O que colocamos hoje é um desafio de expansão, e no nosso entendimento isso significa um desmembramento em um Instituto de Artes e Audiovisual e uma Escola de Comunicações”, disse o professor Angerami.

Roseli Figaro, chefe do Departamento de Comunicações e Artes (CCA), afirmou que o CCA entende que “os professores que reivindicam a criação de um Instituto de Artes têm o direito de fazê-lo, embora entendamos que essa reivindicação vem contra a tendência histórica de convergência e interdisciplinaridade de comunicações e artes”. Para a professora, a criação de uma nova unidade “redunda em custos com montagem de toda a estrutura burocrática, de direção e de cargos, recursos que deixarão de ser destinados ao ensino e à pesquisa”.

Dúvidas estudantis

Convidados a se manifestar, os alunos presentes na reunião do dia 19 colocaram questões ainda não respondidas sobre o projeto do Instituto. Uma das principais preocupações é qual será a verba utilizada e de onde ela provirá. Também foi manifestada a preocupação com o espaço que o Instituto utilizaria, pois não está claro que se os departamentos ficarão onde estão ou se serão construídos prédios novos.

Nem lá, nem cá

O professor Eduardo Seincman deu aulas no CMU de 1981 até o ano 2000. Em 2001 Seincman se transferiu para o CCA, onde permanece desde então. O professor não se arrepende da decisão. “Posso abordar aqui a música relacionada com outras linguagens e teorias e o resultado que isso traz é surpreendente. Tenho alunos não só da Música mas também de outros departamentos da ECA e do resto da USP. Vem gente do IME, da Física, da Pedagogia, da Letras e etc. Essa junção aqui é muito rica porque as pessoas vêm com óticas diferentes”.

O professor não se diz nem a favor nem contra a criação do Instituto de Artes. “Você não deveria ser obrigado a escolher Comunicações ou artes. A Escola não é de Comunicações ou Artes, é de Comunicações e Artes. É desse ‘e’ que eu gosto, não tenho um pé aqui e nem lá e eu adoro esse lugar paradoxal onde me enfiei”.

Para Seincman, a discussão deveria estar focada na formação dos alunos. “O que eu quero é uma escola que seja receptiva a ideias diferentes. Já existiram estudos para montar uma grade com mais porosidade entre os cursos, onde o aluno teria mais liberdade para trilhar seu caminho, mas foram engavetados. Estou aqui há 32 anos e muito pouco se discutiu de projeto pedagógico, e quando se discutiu isso foi enterrado”.