Cães na USP dividem opiniões

A comunidade universitária convive com cães soltos no campus da capital. Voluntários, pesquisadores, órgãos de controle animal e diretorias das faculdades têm visões diversas sobre o problema. Enquanto cuidadores de cães temem que animais sejam maltratados, diretorias receiam que os animais possam ter comportamento agressivo.

Segundo o Programa de Monitoramento Animal do Campus da Capital (ProMac), a população de cães errantes (soltos) no Campus do Butantã oscila entre 35 e 45 indivíduos. Destes, 25 já foram identificados. O restante dos animais compõem um grupo que vive na região da reserva florestal do Instituto de Biociências. “Por serem bastante assustados e arredios, o procedimento de abordagem destes animais envolverá a captura e a esterilização”, comenta o professor Ricardo Dias, que faz parte ProMac. Para melhorar o monitoramento de cães abandonados, a Faculdade de Veterinária da USP reuniu voluntários no Primeiro Workshop Sobre Cães Errantes.

O Conselho Técnico Administrativo da EACH, no entanto, não quis conviver harmonicamente com os cães soltos que habitavam seu campus. Após solicitação da diretoria da EACH, uma equipe do Serviço Técnico de Saúde Ambiental da Prefeitura do Campus da Capital recolheu no dia 4 de abril sete cães e os encaminhou ao abrigo temporário, na Cidade Universitária. A Assessoria da EACH informou  que a retirada dos cães se deve ao grande número de queixas e registros de ataques e agressões dos animais a frenquentadores do campus leste.

Ricardo acredita que a faculdade não agiu da melhor forma. Para ele, a solução correta seria o monitoramento. “O problema se perpetuará, caso esta seja a política da direção da unidade. A retirada dos cães proporcionará a entrada de novos animais que ocuparão o nicho deixado pelos que saíram, caso não sejam alteradas as condições do ambiente” afirma o professor. A cuidadora Darci Varela, que cuida há anos dos cães que chegam à escola, também acredita que o problema não será resolvido: “Outros continuarão a chegar, trazidos ou abandonados”.

Cão recebendo atendimento no hospital veterinário. (Foto: Ricardo Dias)
Maus tratos

Ricardo observa que as condições do campus da Unicamp, considerada um exemplo no combate ao abandono, são diferentes do campus USP da capital: “Lá eles têm controle de entrada, o perímetro é totalmente cercado e a guarda foi treinada para coibir o abandono.Temos muito a aprender com eles”.

Apesar do empenho dos voluntários, animais ainda são maltratados no campus. João Seber, cuidador espontâneo há 9 anos, encontrou vários cães na últimas semanas com as patas quebradas. “Desconfio que alguém está colocando armadilhas para os animais”, lamenta. No IPEN, na semana passada, três gatos foram encontrados mortos. Uma das voluntárias do Grupo de Protetores do IPEN, que prefere não se identificar, acredita que eles foram enforcados. A rede de proteção onde eles ficavam foi cortada com uma tesoura. Segundo ela, esta não é a primeira vez que animais aparecem mortos nas dependências do instituto.

Conforme lei 9605/98, maltratar qualquer animal é crime e pode levar o infrator à detenção.