Estudantes se formarão sem prédios e laboratórios em Pirassununga

A Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga, criou em 2009 dois novos cursos: Engenharia de Biossistemas e Medicina Veterinária. No entanto, a infraestrutura do campus deixou a desejar: neste ano, quando as primeiras turmas irão se formar, diversos prédios ainda não ficaram prontos.

O Hospital Veterinário, que recebeu o nome de Unidade Didático Clínico Hospitalar (UDCH), começou a ser construído em agosto de 2010, mas a empresa responsável pela obra decretou falência e a obra foi retomada apenas em junho de 2012, pela segunda empresa colocada na licitação. A obra, que antes tinha previsão de finalização para o final de 2011, deve ser entregue apenas neste semestre.

Para Mayse Pianheri, representante discente da Comissão Técnica Administrativa, a vivência prática de cuidados com os animais e convívio com seus proprietários é de fundamental importância para preparar o futuro profissional. “A falta de um hospital impede que os estudantes possam ter a experiência de atendimentos à sociedade e vivenciem o ambiente de trabalho”.

Para encontrar uma solução temporária para os problemas, alguns alunos foram recebidos pelo reitor João Grandino Rodas em abril do ano passado e puderam resolver parcialmente a situação utilizando o hospital da FMVZ, que possui uma unidade em São Paulo e outra instalada em Pirassununga. “A primeira turma da veterinária vai se formar sem ter o hospital pronto. Nos saímos prejudicados, mas demos um jeito de reverter com medidas paliativas”, afirma Demétrio Ian Carvalho de Godoy, representante discente da comissão de implementação do hospital.

Segundo Mayse, falta espaço na faculdade para acomodar os alunos e muitas salas de aula não são apropriadas, com acústica ruim e sem ar condicionado. “Os atrasos prejudicam o bom funcionamento do curso e afetam a qualidade do ensino. Todas as dificuldades e a burocracia interna para resolução dos problemas conflita diretamente com a divulgação constante da preocupação da USP com os níveis de excelência”, comenta.

A mesma empresa do hospital também estava encarregada da construção do Bloco Administrativo da Engenharia de Biossistemas. No entanto, após a falência, as outras empresas presentes na licitação declinaram e a obra está parada há mais de um ano. “Os estudantes irão se formar sem nenhum dos laboratórios relacionados ao ciclo profissionalizante e básico da graduação, apenas com aulas práticas improvisadas em laboratórios os quais não eram destinados para tais finalidades”, afirma José Arthur Zorzetto de Paula, aluno da engenharia de biossistemas.

Bloco da Engenharia de Biossistemas está parado há mais de um ano; alunos estão sem laboratórios

Os prédios didáticos dos cursos também não foram entregues de acordo com os prazos iniciais. O Bloco Didático de Nutrição Animal, que tinha término previsto para abril de 2011, ainda não foi finalizado, enquanto o Bloco de Laboratórios da Veterinária começou a ser construído apenas no último mês de fevereiro. Já o Bloco Didático da Engenharia de Biossistemas, o qual tinha início previsto para o final de 2010 e término em nove meses, ficou pronto apenas neste ano, ainda com problemas estruturais.

“Veterinário sem uma rotina hospitalar e engenheiro sem laboratório de física são apenas exemplos do que passam as primeiras turmas que aqui se formarão. Ano a ano 120 alunos a mais entram na faculdade e poucas mudanças são feitas nas estruturas prediais”, aponta Adélia Motta, aluna da engenharia de biossistemas.

“Corremos o risco de formar profissionais de Medicina Veterinária e Engenharia de Biossistemas com formação defasada, se comparada aos níveis da USP, devido a falta de infraestrutura e docentes. A pouca manifestação que vemos por parte da universidade é a visão estreita de que a longo prazo todas essas dificuldades serão sanadas”, completa Mayse.

Para fiscalizar o andamento das obras e pedir esclarecimentos para a diretoria, alguns alunos organizaram em 2010 uma comissão de obras, que realizou reuniões com o diretor da unidade e recebeu as planilhas dos prazos das empresas. Apesar das cobranças, as obras continuam com atrasos e entregues fora dos prazos inicialmente estipulados.

Segundo a Prefeitura do Campus de Pirassununga, a responsável pelas obras é a Superintendência do Espaço Físico da USP. O Jornal do Campus entrou em contato com a SEF, mas o escritório regional em Pirassununga não quis se manifestar e o superintendente em São Paulo não respondeu as solicitações de entrevista.