Meio século de arte moderna e contemporânea

No seu 50º aniversário, MAC amplia espaço de sua nova sede para exposições e aproxima do público paulistano o acervo pertencente à USP

Em frente ao portão 3 do Parque do Ibirapuera, na Avenida Pedro Álvares Cabral, um viaduto liga o tradicional espaço de lazer paulista ao antigo prédio do Detran. Hoje, a via ganha um novo significado para a cidade: funciona como uma ponte entre o famoso parque paulistano e uma das maiores coleções de arte moderna e contemporânea da América Latina.

O Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, que completou no dia 8 de abril 50 anos de existência, consolida agora seu principal prédio no conhecido ponto turístico da capital. As comemorações serão marcadas pela implantação efetiva da sede, com exposições que homenageiam grandes artistas do acervo. “Com o novo prédio, o museu está renascendo aos 50 anos. Sua visibilidade está se ampliando muito, e ele deve se tornar um dos maiores espaços de arte do Brasil”, afirma Tadeu Chiarelli, diretor do museu.

A história do MAC começou em 1962, quando Ciccillo Matarazzo e Yolanda Penteado doaram à USP suas coleções pessoais e o acervo do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo. Para incorporar à universidade este acervo, que continha também peças premiadas nas bienais do MAM, a USP instalou o museu em 1963, no terceiro andar do prédio da Bienal, no parque do Ibirapuera. O acervo contava com grandes obras modernistas, mas, com a aquisição, a USP passou a incentivar trabalhos voltados para a arte contemporânea, acumulando nos 50 anos que se seguiram cerca de 10 mil obras.

Museu no Campus

A ideia de criar uma sede na Cidade Universitária começou a ser idealizada na gestão de Aracy Abreu Amaral, professora aposentada da FAU. “Um de meus objetivos maiores ao assumir o MAC foi motivar a comunidade da USP a conhecer o acervo precioso desse Museu”, conta.

A instalação só aconteceria em 1992, na gestão da diretora Ana Mae Barbosa, professora aposentada da ECA. Segundo ela, o espaço disponível não era adequado para exposição e conservação da coleção, e, com isso, a construção de um novo prédio era primordial. No entanto, para ela, a sede construída se mostrou insuficiente para o tamanho do acervo, já que um prédio que funcionaria como anexo ao MAC foi utilizado para outros fins. “Apesar de obedecer todas as especificações que um museu precisa ter, o espaço ficou menor do que esperado e não era ideal para expor todo o acervo”.

A essência do MAC

A busca por uma identidade e um prédio próprio marcou a história do museu desde a sua criação. A conquista de um espaço que pudesse dar conta de abrigar toda a sua coleção começou a ser debatida nos anos 2000, mas somente em 2007, quando o então governador José Serra manifestou interesse em instalar o MAC no antigo prédio do Detran, a ideia começou a tomar forma. “Se antes a ideia era trazer o museu para o campus, nesse momento ela se deu no sentido contrário: buscar um espaço mais adequado em um local de vida cultural importante na cidade”, afirma Lisbeth Rebollo Gonçalves, diretora do MAC na época.

Quatro anos após o previsto, devido a atrasos nas obras, a nova sede foi inaugurada em janeiro do ano passado. Porém, problemas com o sistema de segurança impediram que as obras fossem trazidas para o prédio, o que só começou a ser resolvido neste mês. Segundo Chiarelli, esse é o último grande entrave para a implantação completa do acervo.

As obras ficarão agora em exibição em um prédio de oito andares, dez vezes maior que o da Cidade Universitária. Isso garantirá um maior espaço para exposições fixas, que poderão favorecer a criação de uma identidade do museu, segundo Ana Mae. Ela afirma que, ainda que seja importante oferecer uma parte do espaço para exposições temporárias, que atraem novidades artísticas e um público novo, garantir um espaço para que a coleção permanente esteja sempre acessível pode acrescentar nos observadores um sentimento cativo pelos trabalhos e criar laços entre o público e a arte.

Para a professora Lisbeth, o novo prédio irá se tornar um dos espaços públicos mais importantes da cidade, o que pode ampliar seu público e abranger outros grupos que não somente jovens e universitários. “Na minha gestão [2006-2010], pensamos na manutenção dessa sede [na Cidade Universitária] para finalidades da vida universitária, enquanto a outra sede poderia funcionar como um museu de acesso ao grande público”, aponta. Segundo ela, “o cidadão brasileiro não tem o hábito de ocupar seu tempo livre com visitas a museus. Essa presença do MAC vai ser instigante para a população e para que professores motivem as novas gerações a conviver com a arte”.

De acordo com o atual diretor, a população em geral não costuma visitar o museu na Cidade Universitária, seja por desinteresse, seja pela dificuldade de acesso ao campus. Ele aponta que a visibilidade do MAC se ampliou muito com a instalação do novo prédio e o número de visitas cresceu consideravelmente. “A ideia é que até o final do ano tenhamos todos os espaços ocupados. Nessa primeira tomada, pretendemos realizar 13 exposições que não estão diretamente ligadas ao acervo. O resto estará ligada ao acervo, porque é uma oportunidade para a população de ver ou rever a coleção”, comenta.

Nova sede do MAC no antigo Detran representa um marco na história do museu. (Foto: Larissa Teixeira)
Perturbação

Para comemorar os seus 50 anos e dar continuidade ao processo de implantação do museu em sua nova sede, o MAC inaugurou no dia 6 de abril a exposição O Agora, O Antes: uma síntese do acervo do MAC USP. A exposição conta com obras de grandes nomes do acervo, ao mesmo tempo em que as contrapõe com artistas jovens e contemporâneos.

Segundo Tadeu Chiarelli, que também é curador da exposição, a ideia é criar perturbações no público e fazer com que ele reflita sobre a disposição e o significado das obras. “Como gerimos um museu universitário, temos um compromisso com a transformação do conhecimento. Por isso, consideramos que seria muito mais instigante para o público ver uma exposição com obras dispostas de uma maneira problematizadora”, aponta.

Deste modo, artistas como Modigliani, Tarsila do Amaral, Matisse e Anita Malfatti compartilham o espaço com jovens artistas como Thiago Honório, Fernando Piola e Júnior Suci. Para Tadeu, as obras passam a adquirir novas possibilidades de interpretação quando vistas em relação a outras. “Essas contradições demonstram a complexidade dos artistas. Se eu coloco obras clássicas junto com obras contemporâneas, isso atualiza o acervo e dá novos sentidos para ele”.

Ele reforça que este é o espírito que a curadoria do museu pretende dar não somente para esta exposição, mas para todas as suas mostras. “A universidade não quer apenas reiterar as verdades instituídas, ela quer rever essas verdades. Sua preocupação é com a formação crítica das pessoas, não com o espetáculo”, completa o curador.