Reitor escolhe segundo colocado de lista tríplice

Escolha gerou desconforto na Medicina Ribeirão. Alunos organizaram protestos contra a reitoria e paralisaram as atividades por dois dias
Divulgação CARL
Protestos realizados em Ribeirão Preto chegaram a ter aproximadamente 300 estudantes, segundo o CARL

A comunidade acadêmica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) ficou descontente com a nomeação, pelo reitor João Grandino Rodas, do segundo colocado na eleição para diretor da Faculdade para o período 2013-2017.

A principal reclamação por parte da comunidade é de que a escolha seria antidemocrática. “Houve um desrespeito de Rodas ao desconsiderar a decisão da comunidade acadêmica (docentes, funcionários e alunos) para nomear o segundo colocado da lista tríplice”, afirma Flávio Cruz, vice- presidente do Centro Acadêmico Rocha Lima (CARL). Na votação, o professor Luiz Troncon teve 125 votos, enquanto o escolhido, o professor Gilberto Carlotti Junior, teve 115 votos.

O ex-diretor da FMRP, Ayrton Moreira, também foi contrário à decisão. “Esse ato do Reitor foi desrespeitoso com a posição majoritária do colégio eleitoral e representa uma dissociação entre a legalidade e a legitimidade”, afirmou.

Carlotti Junior, atual diretor da FMRP, declara que a escolha se deu dentro da legalidade, já que: “Isso (escolher necessariamente o primeiro colocado) não está no estatuto e nem nas normas. Também nunca houve nenhum acordo na faculdade que isso deveria ser feito. Além de uma eleição legal, foi uma eleição de acordo com o estatuto da universidade”.

Os alunos da FMRP realizaram no dia 16 de março uma assembléia para definir a postura dos discentes diante da decisão da reitoria. “Houve um quorum bastante representativo (cerca de 300 pessoas) e foram definidos dois dias de paralisação”. A interrupção das aulas contou com um calendário de atividades, como oficinas sobre democracia, acampamentos no centro de vivência e produção de músicas e cartazes.

Uma das atividades organizadas pelo Centro Acadêmico foi um protesto em frente à FAAP no dia 20 de março. A faculdade recebia uma palestra ministrada pelo governador Geraldo Alckmin. “Nós organizamos o protesto ( que reuniu cerca de 200 a 300 alunos) com carro de som para os gritos de ordem, cartazes e faixas com dizeres de democracia”, declarou Flávio Cruz, vice-presidente do CARL. O ato também contou com um enterro simbólico da democracia. Também no dia 20, uma manifestação foi realizada em frente à reitoria da Cidade Universitária. “Levamos um ônibus de Ribeirão a São Paulo para protestar, contando com a participação de estudantes do Campus da capital também”, declarou Flávio. Cerca de 60 pessoas participaram do ato.

Associados

A justitificativa de João Grandino Rodas para a escolha de Carlotti, dada em seu programa “Palavra do Reitor”, do dia 14 de março, seria a de que o professor estaria na categoria Associado 3. O estatuto da USP foi modificado em 2008 para que tal categoria de professor pudesse ser escolhida para cargos de diretor de unidade, o que   representaria uma maior democracia no mbiente universitário. Rodas declarou que houve um abaixo-assinado entre os professores Associados da universidade para que um professor desta categoria fosse eleito. Carlotti Junior declarou que o documento foi pedido para que houvesse maior participação dos Associados nas diretorias. “Os professores fizeram um documento para que o reitor, de uma maneira democrática, olhasse as presenças de professores associados em listas, para colocar em prática a modificação que foi feita no estatuto”, declarou Carlotti Junior, novo diretor da FMRP. “Apenas nesta eleição houve a possibilidade de um professor associado estar na lista tríplice”.

Troncon, primeiro colocado na lista tríplice e preterido pelo reitor, declarou, porém, que não detinha conhecido de tal movimento. “Durante a campanha isso não foi considerado porque a nossa unidade sempre foi muito aberta, vários departamentos já foram chefiados por professores associados”, declarou. “Eu fiquei sabendo desse movimento pelas palavras do reitor quando ele fez o anuncio. Não tive conhecimento disso antes e não era uma questão importante”.

Ayrton Moreira também declarou que apenas tomou conhecimento do abaixo-assinado no programa de rádio. “Ele nunca foi divulgado nem pelo próprio reitor nem por quem o teria organizado. Não se sabe quem teve a iniciativa deste abaixo-assinado, como foi elaborado e por quais vias chegou ao reitor. Sequer o texto supostamente subscrito por professores associados foi tornado público”.

A decisão de Rodas reacendeu o debate na universidade em torno da democracia e das mudanças no estatuto. Carlotti Junior declara que uma mudança precisaria passar por ampla discussão nos Conselho Universitário. “No segundo semestre do ano passado houve essa discussão. Mas vários aspectos devem ser considerados. Uma é a composição do colégio eleitoral. Outro aspecto é qual o peso de cada categoria nesta votação e por fim se deve ter ou não lista tríplice. São muitas coisas que devem ser discutidas”.

Moreira, porém, defende posição mais radical. “Sim, o estatuto deverá ser mudado. A comunidade uspiana precisa repensar a USP, inclusive os seus mecanismos de poder. A universidade deveria realizar uma estatuinte para realizar essa mudança”, declara. “A universidade deve ter autonomia para escolher seus dirigentes e nós temos visto que essa autonomia não está sendo respeitada na USP”.